Ariano Suassuna inspira filme, série e musical nos 90 anos de nascimento

Durante o lançamento do livro O decifrador, de Alexandre Nóbrega, que reúne fotografias de Ariano Suassuna, o escritor e dramaturgo paraibano, então aos 85 anos de idade, pediu que as homenagens a ele fossem postergadas para o seu aniversário de nove décadas. “Eu vou estar vivo”, prometeu a Andrea Alves, produtora de teatro. Dois anos depois, em 2014, acometido por um acidente vascular cerebral hemorrágico, faleceu e não pôde cumprir o combinado. Andrea, por sua vez, manteve o trato e, em 2017, tira do papel o tributo que preparou para o artista na comemoração dos 90 anos de nascimento – celebrados em 23 de julho – sob a forma de espetáculo musical.

A peça, ainda sem título, na verdade nunca esteve só no papel: ocupou também a mente e o coração dos integrantes da companhia Barca dos Corações Partidos, que no ano passado iniciaram o processo de pesquisa para compor o material. Os ensaios já começaram, embora a linearidade e o formato da história ainda não estejam definidos. Tudo o que se sabe é que “será uma homenagem que ele gostaria de ver”, diz Andrea, baseada no denso universo criado por Ariano e na personalidade irreverente. Livros, poesias, textos e apresentações do escritor estão sendo estudados. Os atores fizeram excursão por Taperoá – cidade em que ele morou antes de se mudar para o Recife -, passando pela fazenda Carnaúba e pela Pedra do Ingá, todos na Paraíba.

“Não estamos remontando uma obra específica dele, mas construindo algo novo. Vamos tratar do legado artístico de Ariano, mas claro que a pessoa dele é tão grande quanto a obra. Estamos estudando a história de vida, histórias que contava… O mais importante é entender em quais lugares o público o reconhece dentre desse contexto”, afirma o ator Eduardo Rios. O roteiro será de Bráulio Tavares, a direção de Luiz Carlos Vasconcelos e a trilha sonora de Chico César. “Luiz escreve uma cena e criamos algo em cima, então Chico cria uma melodia e Bráulio bota letra. Os próprios atores também criam letras. O que temos agora é um arquivo de pérolas e momentos interessantes de cenas, textos e coisas do Ariano que queremos botar na peça e ainda estamos descobrindo como tudo se encaixa”, conta Eduardo. O espetáculo deve estrear em junho, no Rio de Janeiro, e passar por São Paulo antes de aportar no Recife em meados de setembro.

Responsáveis por ajudar a popularizar a obra de Ariano, as aulas-espetáculo inspiram outro tributo: elas são a base do filme (de título provisório) Riso de Ariano, em fase de desenvolvimento. O projeto é da produtora GroupCine em parceria com a família do artista. A direção é de Eduardo Belmonte, conhecido pelos trabalhos em Entre idas e vindas (2016) e Se nada mais der certo (2008), e o roteiro é assinado por Tatiana Maciel e o esposo, o também pernambucano João Falcão. Na trama, as histórias contadas por Ariano nas aulas serão reimaginadas e representadas em forma de contos. As filmagens ocorrerão no segundo semestre, no Rio de Janeiro, e a previsão é de que chegue às telas ainda neste ano – primeiro no Nordeste. “Dramatizamos as histórias como se fossem curtas, pequenas histórias dentro do filme. Ainda não sabemos se teremos um Ariano no enredo porque falta fazer um tratamento final do roteiro”, observa João Falcão.

O objetivo da GroupCine é que o longa-metragem se transforme em uma série para a televisão, cuja exibição deve ocorrer na Globo ou em algum dos canais da Globosat. O elenco ainda não está definido mas irá abarcar tanto nomes conhecidos quanto iniciantes. Atores de Pernambuco não ficarão de fora, mas a produção é nacional e promete incluir artistas de todo o país.

Aulas-espetáculo
Foi em Garanhuns, a 230 km da capital pernambucana, que Ariano Suassuna realizou a sua derradeira aula-espetáculo a poucos dias de falecer. Uma semana antes, encantou mais de 1,3 mil pessoas com outra apresentação, dessa vez no Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia. Estava rodando o país com o projeto Arte como missão. No palco, fazia homenagens, contava piadas e compartilhava contos oriundos das suas obras. Dava uma aula de história da arte partindo do legado cultural brasileiro, afirmando que daí vem toda a inspiração para sua obra. Muitas vezes acompanhado de música e dançarinos, aproveitava para comentar sobre – ou alfinetar – ícones da cultura pop como Michel Jackson, Lady Gaga, Calypso e o reality show global Big brother Brasil.

Memória
Iniciativas em campos distintos ajudam a disseminar a obra e a história do dramaturgo. Confira:

Estátua
Obras culturais em diversos formatos ajudam a perpetuar o extenso legado de Ariano Suassuna. Em janeiro deste ano, as ruas do Recife ganharam uma estátua do dramaturgo como parte do Circuito da Poesia, na Rua da Aurora. Em dezembro de 2014, o Teatro Arraial, localizado em frente à estátua, foi rebatizado para homenagear o artista e passou a se chamar Teatro Arraial Ariano Suassuna.

Livros
A obra póstuma Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores, dividida em duas partes (O jumento sedutor e Palhaço tetrafônico) é resultado de anos de trabalho de Ariano que será publicada neste ano, como forma de tributo ao aniversário de 90 anos do autor, pela editora Nova Fronteira. A empresa pretende relançar também, ainda em 2017, o clássico A pedra do reino.

Memorial
Foi inaugurado em 2015 o Museu da Casa de Ariano, na antiga residência do escritor no centro de Taperoá, onde viveu antes de se mudar para o Recife. O objetivo é preservar o local que abrigava os objetos cênicos usados na gravação da minissérie da Globo A pedra do reino, em 2007, adaptação televisa da obra do dramaturgo.

Quadrinhos
Quadrinista Jô Oliveira, radicado em Brasília, demonstrou interesse em adaptar Auto da compadecida para HQs. Após reportagem publicada pelo Viver, o escritor Ariano Suassuna autorizou a versão ilustrada. Mas a obra nunca saiu do papel porque esbarrou em questões burocráticas e contratuais após a morte do artista.

Diario de Pernambuco

Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

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