Com histórias de superação e caridade, AMA se mantém há doze anos

Drogas, a maior causadora de desestabilidade familiar. Sem pedir licença, ela entra na vida de muitos e acaba com todo o controle. Na matéria, conheça histórias de superação que tiveram intermédio da Associação Maria Amélia, em Vitória de Santo Antão.  Na AMA, jovens chegam pedindo ajuda e se tratam do vício.

Josefa Maria, mãe de um ex-dependente químico conta um pouco da trajetória do filho. Ela detalha como Lucas procurou o local e tenta sua recuperação para manter vivo o sonho de ser pastor de uma igreja.

Segundo a genitora, o filho foi uma boa pessoa, prestativo, educado e que sempre buscou trabalhar para lhe ajudar, até quando conheceu as drogas.  “Eu não conseguia comer direito, nem beber água de tão preocupada com meu filho, porque a vida de Lucas era no mundo”, disse Josefa.

Para ela, as saídas do filho sempre foi motivo de muita preocupação, pois ela não sabia se ele voltaria para casa com vida, pois a única certeza dessa mãe era que o filho saia de casa para se drogar. “Meu filho saia de noite e só chegava de dia, e eu ficava me perguntando, meu Deus, como é que ele está? Onde é que ele está?”, relatou.

Nascido em 1992, Lucas conheceu as drogas aos 12 anos de idade. “Um dia eu estava passando numa rua e tinha uma cara e meu irmão usando, daí o cara me ofereceu e quando eu ia pegando o meu irmão não deixou, mas o cara insistiu e eu peguei, mas eu também já tinha uma curiosidade… e foi assim que eu comecei”, relatou o jovem. O primeiro contato dele foi com a maconha. A partir daí, o jovem só foi conhecendo outros tipos de entorpecentes, até quando conheceu o crack.

Como se fosse uma história de novela, ela conheceu um ‘anjo’, que para ela responde pelo nome de Silveira, o popular ‘paizão’ para os ‘drogados’. “Depois de muito sofrimento, Deus colocou um anjo em minha vida, e esse anjo é o seu Silveira, que acolheu o meu filho e graças a Deus o meu filho está quase que recuperado”, disse a mãe de Lucas.

A Associação Maria Amélia não recupera apenas o dependente químico, ela faz um tratamento além dos limites territoriais da casa de recuperação. “Hoje eu consigo dormir tranquila, me alimento direito, faço minhas tarefas de casa sem me preocupar e sinto uma paz muito grande em meu coração. Hoje eu sei que meu filho está se tratando num lugar que tem amor”, disse aliviada.

Lucas preferiu não comentar sobre a sua experiência com o crack, mas ele revelou que já está em sua terceira passagem pela AMA. Na primeira passagem, só conseguiu ficar três dias casa de recuperação, e depois disso, o garoto se envolveu em uma confusão, tomou dois tiros e foi hospitalizado. Novamente tentando se recuperar, teve a força de vontade e conseguiu passar um ano em recuperação. Após ser liberado para voltar à sociedade, Lucas reconquistou a sua família e voltou a trabalhar, mas após seis meses fora da AMA, o jovem teve mais uma recaída e voltou às drogas. Agora, Lucas já está há dois meses na casa e na sua terceira passagem.

Ele hoje tem como espelho de superação o irmão, que também era usuário de drogas e chegou a ser preso. Dentro da cadeia, o irmão de Lucas virou evangélico, cumpriu sua pena, saiu da cadeia, casou-se, teve filhos e trabalha em Vitória.

Silveira, “o paizão dos drogados”

Dono de uma filosofia de vida que é voltada para o amor e que prega o amor, seu Silveira menciona sempre a seguinte frase: “Me ame quando menos eu mereço, que é quando mais eu preciso”.  É com essas palavras que o paizão da AMA recebe os  seus “filhos” dependentes químicos que lhe pedem ajuda para sair do vício.

“Quando a gente ver um cara caído, rejeitado, drogado… essa é a hora que ele está precisando ser mais amado. Se Deus não desiste do homem, porque é que eu vou desistir?”, foram as primeiras palavras de seu Silveira.  Ele falou uma pouco de sua vida antes da AMA, antes do seu filho cair no mundo das drogas.

Homem vaidoso, individualista, que só pensava em seu bem estar e que odiava “drogados”, hoje seu Silveira conheceu o amor pela dor. Ao se deparar com o seu filho drogado e sendo socorrido por outras pessoas, Silveira tomou um choque de realidade e teve que quebrar todos os seus grilhões e teve que pedir ajuda para cuidar do seu filho. Ao receber ajuda de pessoas até então desconhecidas para ele, o “paizão” resolveu querer ajudar outras pessoas após a recuperação do seu filho. A partir daí, começou a dar palestras em escolas e na garagem de sua casa.

“Lembro-me que em uma noite a muito tempo, eu estava dormindo com minha esposa e tinham alguns jovens usando drogas na calçada da minha casa. No outro dia, eu os procurei e lhes disse: vocês ontem à noite não me deixaram dormir direito! Um deles olhou para mim e disse: num era assim que o seu filho também fazia? Eu fiquei chocado com aquilo, mas Deus me deu as palavras certas para responde-lo. Eu disse: meu fazia isso porque ele não conhecia a Deus, mas agora ele conhece e não faz mais. Você quer conhecer Deus para não fazer mais isso? E um deles pulou no meio e disse que sim, que ele queria conhecer, mas eu não dei importância para o que ele disse e fui embora”, relatou.

“Uma semana depois, eu estava chegando em casa e os jovens gritaram dizendo: seu Silveira, o senhor está nos devendo! E eu disse a eles: não devo nada a vocês!  Um deles respondeu: o senhor nos deve Deus. Semana passada nos disse que nos apresentaria Deus, mas até agora o senhor não nos apresentou. E eu fiquei surpreso com aquilo e perguntei, vocês querem mesmo? Eles disseram que sim e eu os levei para dentro da minha casa e o resultado disso é que com trinta dias, tinham mais de quarenta jovens dentro da minha casa”, contou.

Esse foi o pontapé para o início de uma grande história. Na época, a promotora do Ministério Público, Maria Amélia, tomou conhecimento do que estava acontecendo e convidou Silveira para uma reunião. Nela, a magistrada lhe fez um convite para um trabalho.

“Eu disse, qual o trabalho? E ela respondeu: eu que o senhor dê palestras para os meninos que estão roubando, assaltando e que eu mando direto para a FUNASE, mas se tivesse uma pessoa aqui que pudesse os ajudar aqui mesmo, certamente eu não os mandaria para a FUNASE. O senhor aceita esse trabalho? E eu disse: de jeito nenhum! E ela perguntou: o senhor vai rejeitar isso? Vou! Mas como é que o senhor rejeita isso? Aí eu parei e vi que não era ela, mas era Deus usando ela pra falar comigo. Então eu respondi na hora, eu vou aceitar! E ela disse: encontrei o homem certo”. Após aceitar o convite, comecei a dar uma palestra no mês, mas de repente passou a ser duas e quando eu me toquei, já eram duas por semana”, lembrou.

Logo após, a promotora percebeu que o espaço estava pequeno e que o projeto estava dando certo e chamou Silveira mais uma vez. Dessa vez, lhe orientou para criar um espaço maior para receber os jovens. Assim surgiu Associação Maria Amélia, que tem esse nome em homenagem a promotora, que é a matriarca do projeto,  que até hoje cuida de pessoas dependentes químicas.

Desde o ano de 2006, a AMA existe para cuidar das pessoas que mais precisam, mas, são muitas pessoas que precisam de ajuda e infelizmente  a associação não tem recursos suficiente para abrigar mais de vinte e quatro pessoas. Hoje, a AMA só dispõe de espaço para os homens, mas já teve o espaço feminino, que fechou por falta de incentivo financeiro.

Gilson, “O drogado que venceu as drogas”

Em abril de 2009, Gilson entrou na AMA. Ajudado por parentes, amigos e seu antigo patrão, chegou na casa de recuperação depois de ter mentido para muita gente e usado até o nome de sua filhinha para arrumar dinheiro e comprar drogas.

Segundo Gilson, o pior momento de sua vida foi quando ele conheceu o crack. Na época, o hoje padeiro, era um dos melhores vendedores de uma tradicional loja de móveis de Vitória e todo dinheiro que recebia de comissão, era gasto com drogas.

“Todo dinheiro que eu pegava, eu corria pras bocas e comprava minhas drogas. Mas, o pior momento que vivi, foi quando eu saia pedindo dinheiro de madrugada aos meus vizinhos dizendo que minha filha estava muito dinheiro e eu queria dinheiro para comprar remédios pra ela. Era tudo mentira, eu queria mesmo era comprar minhas drogas”, disse.

Um mês depois de ter dado entrada na AMA, Gilson se casou lá dentro da casa de tratamento e após três meses à sua entrada foi liberado e voltou para casa. Desde então, frequenta sempre a associação e é um dos voluntários que mais participa das atividades, junto com sua esposa e filha, que já aprende como ajudar e amar o próximo desde criança.

Hoje, ele continua a sua luta diária contra as drogas, fala de sua experiência com orgulho de quem vence a luta todos os dias, e é dono do seu próprio negócio. Ele tem uma padaria e trabalha para si próprio com a ajuda da sua irmã.

Como ajudar a AMA

A Associação Maria Amélia, sobrevive de doações de todos os tipos. Roupas, calçados, alimentos perecíveis e não perecíveis e materiais de higiene pessoal. Ela fica localizada às margens da PE-45, no início de Ladeira de Pedras, em Vitória de Santo Antão.

Por Victor Santos, do Blog Nossa Vitória

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2 Replies to “Com histórias de superação e caridade, AMA se mantém há doze anos

  1. Linda história de vida, porém, não devemos esquecer a pessoa que comprou esta propriedade e cedeu a AMA para esse lindo trabalho de recuperação e ressocialização existisse até os dias de hoje. Vocês sabem quem comprou essa propriedade? José Aglailson, Zé do Povo o pai dos pobres!!!

  2. Essa propriedade caiu do Céu foi? Muito infeliz não citar como e quando a propriedade foi adquirida!!!

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