A pressão dentro de quartéis da Polícia Militar de Pernambuco continua aumentando, mesmo depois da orientação do comandante-geral da Corporação aos chefes de batalhões – que apenas ficou só na teoria, os policiais continuam denunciando uma série de abusos cometidos dentro das Organizações Militares Estaduais (OME).
Cada dia que passa a segurança pública de Pernambuco vai declinando e a valorização tão sonhada pelos policiais militares com a nova composição da cúpula máxima do Governo do Estado formada pelas escolhas da governadora Raquel Lyra vai por “água abaixo”. Mesmo com a disseminação de várias denúncias, inclusive, divulgadas por esta coluna Policial, do Blog Nossa Vitória, a situação que vivem os policiais é um prenuncio de uma tragédia.
Do Sertão, do Agreste, da Zona da Mata, Litoral e Sertão, os policiais denunciam os abusos que sofrem dentro da caserna. De acordo com um soldado do 9º Batalhão, sediado em Garanhuns, os policiais estão trabalhando de plantão extra de forma obrigatória, na segunda folga. “A escala normal é 24hx72, desse modo quando saímos de serviço na segunda folga temos que trabalhar obrigatoriamente”, revelou.
O soldado também disse que “o policiamento ostensivo (PO) que antes tinha uma jornada de seis horas no atual comando ficou de oito horas”. Ele alega que os companheiros de fardas estão doentes, pois não aguentam mais essa jornada de trabalho, além do serviço ordinário. Outra reivindicação dos PMs é sobre as escalas de serviços em outras unidades, pois para isso é preciso viajar de meios próprios e sair mais cedo, porém o perigo é no retorno para casa, quando bate o cansaço físico e mental.
“A gente vai trabalhar em outras cidades. Vamos de carro, gastamos nosso combustível, alimentação e temos que sair cedo da nossa cidade para chegar a tempo e se chegar atrasado pode ser comunicado”, disse.
O PM também revelou que além da sobrecarga casos de assédio moral são constantes. Ele conta que “o comandante da unidade já ameaçou transferir policiais para unidades da Capital ou realizar permutas forçadas, com a alegação de necessidade de serviço”.
Segundo dados da Polícia Militar, o 9º Batalhão Monsenhor Arruda Câmara é atualmente comandado pelo tenente-coronel Paulo Roberto Rodrigues de Albuquerque e tem responsabilidade territorial por quinze municípios: Água Belas, Angelim, Bom Conselho, Brejão, Caetés, Capoeiras, Correntes, Garanhuns, iati, Lagoa de Ouro, Palmeirinha, Paranatama, Saloá, São João e Terezinha.
“O comandante é ligado a um deputado daqui da região, que também é amigo do Diretor da Diretoria Integrada do Interior (DINTER I), por isso as nossas denúncias nunca são apuradas”, finaliza.
Para piorar, no Sertão do Estado, a situação é a mesma – o que muda são os personagens. Um sargento do 3º Batalhão Martin Soares Moreno, que fica localizado em Arcoverde, denunciou à coluna que “estaria trabalhando cinco dias seguidos com a jornada de trabalho de 12h, juntando com o serviço ordinário”.
O graduado conta que “o comandante e o subcomandante há mais de dois anos e quatro meses destroem a tropa, tirando-lhes o descanso – e como forma de punição tiraram a condução para as cidades mais distantes da unidade”.
Ele também denuncia as ameaças de transferências. “Não aguentamos mais! Uma companheira tentou tirar a própria vida por causa dessas pressões psicológicas, referente as transferências”, afirmou. O militar explicou também que pelo fato do comandante-geral da PM ser da cidade há plantões extras em frente à casa para garantir a segurança.
Na 10ª Companhia Independente, com sede em Tamandaré, Litoral Sul do Estado, apesar da unidade ser de pequeno porte, as irregularidades denunciadas pelos militares são alarmantes.
Os combatentes explicaram que após “o major Ramos Neto assumiu com promessas de andar ladeado dos PMs, não é o que se ver”. Relatos enviados afirmam que “existem praças com sérios problemas psicológicos tendo que trabalhar nas ruas normalmente”.
A sobrecarga de PMs durante as madrugadas é outro problema. “Nenhum policial se posiciona com medo de perseguição e represálias, cortes de gratificações e o pior receio de ficar longe das famílias”, enfatizou.
Eles pontuaram que o comandante já foi denunciado e contra ele foi instaurado um procedimento preliminar. “O comandante proíbe as folgas. Diz que na PMPE não é permitido folgar três dias. E que o policial tem obrigação de cumprir as escalas, mesmo sem ser voluntário para isso”, diz a denúncia enviada à coluna.
Para os soldados, cabos, sargentos, subtenentes, “a sensação de impunidade piara em meio a tropa, uma vez que, embora haja procedimento preliminar contra o oficial, apenas pessoas próximas a ele foram convocadas a prestar esclarecimentos e todas são influenciadas por ele”.
Um procedimento relatando a denúncia foi aberto no dia 11 de janeiro e o prazo para o retorno era 31 de janeiro, mas até o fechamento desta matéria não houve nenhuma resposta da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS).
Foto: Sgt Elton Camilo | ASCOM PMPE
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