Guerra do tráfico tem disputa de território na Mata Sul

A violência no Brasil tem elevado as estatísticas de crimes violentos nas pequenas e grandes cidades país à fora. Grande parte destes crimes estão relacionados ao tráfico de drogas. Não muito distante da capital, a cidade de Escada, na Mata Sul do Estado, vivencia um cenário que revela estes números. A guerra entre três facções tem causado pânico na população local.


Em meio a essa guerra, estão as forças de segurança, que travam uma batalha constante com a linha de frente desses núcleos criminosos. Representando uma dessas forças, o 21 Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento da área, vem fazendo uma série de ações para frear o números de CVLIS (Crimes Violentos Letais Intencionais) ocasionados por estas facções criminosas.

A ousadia dos criminosos tem sido compartilhada até nas redes sociais, com publicações afrontosas à corporação. Moradores relatam que essas afrontas saem do espaço cibernético e se concretizam na vida real. Em uma das postagens, um homem, já identificado pela polícia por homicídio e outros atos criminosos diz que “não tem polícia certa para bater de frente”. Na publicação, o homem ainda faz menção às localidades de atuação de uma das gangues. Por fim, complementa com a frase “polícia de mer**”.

Em uma operação recente feita pelo Batalhão Especializado de Policiamento do Interior (Bepi), foram apreendidos dois suspeitos ligados ao grupo Trem Bala, que, segundo a polícia, atua na região. Na ação, um adolescente foi apreendido com 30 pedras de crack e 1.630 reais em espécie. Na delegacia, ele foi liberado após assinar um Boletim de Ocorrências Circunstanciado (BOC).


Segundo boletins de ocorrência, a dupla é suspeita de cometer vários crimes no Bairro Firmeza, na zona urbana do município. Em uma dessas ações, um adolescente de 16 anos foi morto a tiros. Ele participava de um grupo rival.

De acordo com a Polícia Civil, a irmã da vítima disse em depoimento que quatro homens em um carro efetuaram os disparos e um dos autores foi reconhecido por uma testemunha ocular.

Em outro confronto no mesmo bairro, um menor de idade foi executado com disparos de arma de fogo às margens do Rio Ipojuca. Na cena do crime, os policiais militares aprenderam munições, maconha, e crack. Segundo a corporação, o local era utilizado para venda e consumo de drogas. Na mesma investida, mais um jovem morreu e outro ficou ferido. O sobrevivente foi levado à unidade de saúde do município.
 
PM’s fizeram diligências na residência do socorrido e encontraram diversos rádios comunicadores. O material de origem ilícita foi encaminhado à delegacia. Já o jovem baleado, foi liberado.
 
Em outro ponto da cidade, após um homicídio na comunidade do Imopel, efetivos da polícia conseguiram capturar os autores do crime que vitimou outro adolescente. A prisão aconteceu logo depois do fato, quando a polícia ouviu os disparos e empreendeu uma perseguição aos ocupantes de um veículo. Dois suspeitos conseguiram fugir sem serem identificados.
 
Dias depois, no bairro da Firmeza, dois componentes de uma dessas facções foram mortos a tiros. Um homem de 20 anos e outro de 30 foram as vítimas. Cápsulas de pistola foram encontradas ao lado dos corpos.
 
Residentes no bairro Mangueira, contaram que um grupo fortemente armado estava abordando moradores da comunidade e solicitando a identificação. “Após nós mostrarmos que não éramos policiais, tivemos livre acesso à localidade”, conta.
 
Para demarcar território, integrantes de grupos criminosos pintaram diversos muros de casas no bairro Alto do Sacrifício. Com a sigla “CLS”, que segundo disse o apresentador Sérgio Dionísio, da TV Nova Nordeste, em uma reportagem sobre um duplo homicídio, significa Comando do Litoral Sul – outra organização criminosa. Conforme relatado pelos moradores, a pichação é um aviso para obedecerem e permanecerem na “lei do silêncio”. Para intimidar, os criminosos ainda ameaçam cometer crimes, caso não seja cumprido o que eles ordenam.
 
No intuito de frear esses delitos foi deflagrada pela Diretoria Integrada do Interior (DINTER I), a operação “Impacto Integrado” que contou com mais de 10 equipes de diversos batalhões e companhias da PM atuando no município. Abordagens a duplas de motos, buscas pessoais em transeuntes, interceptação de veículos em atitude suspeita e consultas em aparelhos celulares foram enfatizadas pelas equipes que trabalharam durante uma semana. O tenente-coronel Adriel Serafim, comandante da unidade, coordenou o emprego operacional.
 
Os munícipes questionam que outras corporações deveriam unir forças para arrefecer esses atos violentos. A exemplo da Polícia Civil, que tem como sua principal função prevenir, repreender e investigar crimes, no entanto, os residentes se dizem carentes de uma postura mais repressiva da operativa objetivando uma resposta às ofensas e aos crimes cometidos pelos diversos grupos criminosos contra o Estado. De acordo com informações apuradas pela coluna Diário Policial, desde o fim de março, a delegacia estava com as atividades reduzidas por conta da pandemia do novo coronavírus. A partir de junho, a PC reiniciou as investigações e solicitou vários mandados de prisão. Em julho, ela voltou a funcionar normalmente.
 
 
Outro aliado de suma importância que poderia engajar-se também nesses trabalhos é o Ministério Público – instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado. Responsável, perante o poder judiciário, pela defesa da ordem jurídica e dos interesses indisponíveis da sociedade, fiscalizando e protegendo os princípios e interesses fundamentais da sociedade.
 
 
Fechando esse ciclo de alianças, o Poder Judiciário, que defende os direitos de cada cidadão, promovendo a justiça e resolvendo os prováveis conflitos que possam surgir na sociedade, através de investigação, apuração, julgamento e punição.
 
A crítica social nos veículos de comunicação é a falta de medidas mais severas para que haja uma redução significativa na criminalidade e na disputa pelo tráfico de drogas na região. “A gente precisa mesmo é de uma força tarefa, uma ação conjunta, para que conseguimos melhorar a situação do nosso município. A união faz e força. Se cada um contribuir a região é beneficiada”, disse Eduarda Silva, estudante. 


 
COMPANHIA INDEPENDENTE DA POLÍCIA MILITAR
 
Com 68.281 habitantes, Escada, desde 2018, está em processo para sediar uma Companhia Independente da Polícia Militar, entretanto, esse trâmite ainda permanece ‘guardado na geladeira’. Segundo relatos extraoficiais, os estudos já foram realizados e se aguarda o interesse do Governo do Estado para implantação.  
 
Sendo a sede da unidade, o núcleo reforçaria o policiamento em Amaraji e Primavera, também na Mata Sul. Após a implantação, o efetivo aumentaria consideravelmente e seria beneficiado com as especializadas: Gati, Rocam, Malhas da Lei e Serviço de Inteligência, além de ter um comandante e subcomandante.
 
Vale salientar que municípios com índices violentos menores que Escada já foram contemplados, principalmente Gravatá, no Agreste, que conta com a 5ª Companhia Independente, que é responsável também por Chã Grande. O que resta à população escadense é aguardar a iniciativa do governador Paulo Câmara (PSB) em sanar a problemática criminal que vem impondo medo em cada morador da cidade.

Por Nogueira Junior e Marcio Souza, para a coluna Diário Policial