Em 11 de outubro de 1997 fechou-se um ciclo na política vitoriense. Morreu Ivo Queiroz, o médico populista que chegou a ocupar o cargo mais alto de uma cidade: o de prefeito e que exercia o mandato de deputado estadual. Um político que gerou polarizações, ao longo da vida política, personificando – entre correligionários e adversários – as imagens antagônicas do bem e o mal.
Há exatos dezoito anos, em 12 de outubro de 1997, milhares de pessoas se dirigiram ao Clube Abanadores – O Leão, no bairro da Matriz, para prestar a última homenagem ao ex-prefeito ‘médico do povo’, que havia falecido, aos 72 anos, vítima de câncer de próstata. A cidade acompanhou, até então, o maior velório já realizado em sua história.
Teve gestos largos, um coração enorme e a força de vontade de ajudar as pessoas de toda e qualquer forma. Sua atividade era baseada na assistência às classes humildes e, proporcionando-lhes, ano a ano, de janeiro a dezembro, haja ou não eleição, receitas, remédios, internamentos, através da Casa de Saúde e Maternidade [atual APAMI]. Não tinha hora para atender seus doentes, ora na Prefeitura, onde administrava fora do gabinete, ora nas ruas.
Foram com esses gestos que conseguiu eleger-se para vereador e, posteriormente, prefeito por três vezes (1963 a 1966, 1977 a 1983 e 1989 a 1992), além de quatro mandatos de deputado estadual.
IVO PREFEITO
Eleito prefeito, em 1963, pelo PSD, após ser vereador, teve como vice-prefeito José Joaquim da Silva Filho. A gestão foi marcada por obras sociais, calçamento de ruas, construções de escolas, chafarizes, construção do Canal da Mangueira e distribuições de terras. As doações tiveram início na Pitada, no bairro de Águas Branca. Em setembro de 1966, renunciou ao cargo para disputar as eleições de Deputado Estadual, onde foi vitorioso. O vice assumiu, tendo mandato prorrogado por lei federal até 31 de janeiro de 1969.
Novamente prefeito em 1989, foi eleito com Umberto da Costa Lins no posto de vice, que faleceu durante o primeiro ano do mandato. O governo foi marcado pela conclusão da reforma da Praça Dom Luís de Brito, início da construção do estádio municipal, construção de chafariz e sanitários e asfalto de vias. Em novembro de 1991, na falta do vice-prefeito, o presidente da Câmara, Pedro Queiroz, assumiu interinamente a prefeitura, em virtude do pedido de licença de Dr. Ivo, que viajou aos Estado Unidos para tratamento de saúde. Em janeiro de 1992, regressa e reassume o comando do município.
A HISTÓRICA DERROTA
Em 1996, Ivo novamente disputa a Prefeitura de Vitória, desta vez tendo como rival Carlos Breckenfeld. Com o respaldo de uma esmagadora vitória, com diferença de 18.420 votos, sobre Queiroz, Breckenfeld chega à prefeitura. Neste ano, o ‘médico amigo’ amargou a maior derrota já vista nas eleições de Vitória.
A LUTA PELA VIDA
Acostumado a lidar com outras vidas, Doutor Ivo tivera a missão de se preocupar com a sua assim que foi descoberto com câncer em 1991. Incansável e sem se deixar abater, o parlamentar lutou sete anos contra a doença. Mesmo sabendo do diagnóstico nada animador, o médico não abandonou a caneta verde que utilizava para assinar prontuários. As filas formadas no prédio da prefeitura e na antiga maternidade da cidade eram o reflexo da afinidade com o povo, com a política e com a profissão. “Ele dizia que amava o povo mais que a própria vida”, relembra a viúva Marluce Queiroz.
Para tratar do sério problema de saúde, o ex-prefeito foi a Houston, no Texas, Estados Unidos, realizar tratamento. Passou dois meses em solo americano para frequentar o Methodist Hospital, mas voltou para cuidar da campanha de 1994. As notícias que chegavam à imprensa só aumentavam o fervor das pessoas a sua espera. Na chegada dos EUA, correligionários, amigos e simpatizantes o esperavam na entrada da cidade. Foi um furor semelhante aos que ocorriam quando o rádio anunciava a contagem de votos a seu favor nas eleições que disputou. Uma faixa dizia em letras azuis: “Ivo, volta pra Vitória vem cumprir tua missão que ninguém suporta mais de ver tanta aflição” e entre parênteses de cor mais escura o nome ‘Antônio Elias’, suposto autor da frase.
A luta de Ivo pela vida atravessou meses. Nesse espaço de tempo sua visão fora perdida totalmente. O quadro era grave, mas o tratamento ocorrera em casa por decisão dos parentes e da equipe médica. A iniciativa dos cuidados domésticos evitara descer diariamente os seis andares do apartamento da família, na Avenida Fernando Simões Barbosa, em Boa Viagem, no Recife. Levá-lo ao hospital só como última opção, era o intuito.
Era um sábado e já estava perto das 9h da manhã quando ocorreu a decisão de levar Dr Ivo até uma unidade hospitalar. O estado de saúde era gravíssimo. Na casa ninguém queria, mas era quase inevitável imaginar o pior. No leito, entre as preces e os pensamentos positivos, as horas se passavam, o telefone tocava, e a cada atualização do boletim médico a ansiedade tomava conta da família. A tarde estava chegando ao fim quando Marluce foi testemunha daquilo que milhares de habitantes saberiam minutos depois: morreu Ivo Queiroz Costa. “Ele não disse nada. Abriu os olhos, fez um gesto como se fosse acenar e partiu”, recorda emocionada.
O relógio passava das 16h quando a morte foi confirmada. Marluce, sob forte emoção, havia ligado para Henrique Queiroz, irmão de Ivo, que deu início aos preparativos para o velório e transmitiu a notícia àqueles que esperavam por uma novidade. A noite raiou e o corpo foi levado à Assembleia Legislativa. De lá, na mesma noite, foi transportado para Vitória. Na chegada, uma multidão aguardava o féretro, transportado em um carro do Corpo de Bombeiros até o local do velório. Muitas pessoas estavam na Praça Dom Luiz de Brito esperando a chegada do corpo, quase dez da noite, conforme recorda a viúva.
Era como se as pessoas não estivessem interessadas em outra coisa naquele momento. Os bares tiveram pouco movimento naquela noite, a cidade ficou serena e a calçada do clube O Leão estava ocupada por muita gente, inclusive derramada em prantos.
O cortejo até o cemitério São Sebastião no dia seguinte trouxe uma coincidência infeliz. Era Dia das Crianças. Muitos daqueles que acompanharam o seu último trajeto foram cuidados pelo pediatra que viveu mais de sete décadas. Não se há pelo menos uma conotação de quantas pessoas estiveram no enterro, considerado até hoje uma das maiores concentrações de pessoas para uma ocasião pública na cidade. “Não lembro bem do semblante, mas havia um homem que chorava muito e chegou a desmaiar quando chegou perto do caixão”, recorda Marluce.
Além do legado, Ivo deixou quatro filhos. Do primeiro casamento com Maria do Socorro teve Ivo Queiroz Costa Filho e Isla Queiroz Alvares. Do segundo, com Marluce Queiroz, nasceram Ivo Queiroz Costa Júnior e Ivina Queiroz Costa.
Por Danilo Coelho e Marcio Souza, para o Blog Nossa Vitória
Fotos: Cortesia/Acervo da família
Eu estava na Assembleia Legislativa e fui a Vitória, para o sepultamento. Acompanhei in loco.
Meu pai… Homem que jamais será esquecido.
Esse sim foi um Político de valor os que atuam deveriam se espelhar nele.
esse medico era muito atençioso ele não escolhia local pra atender as pessoas hoje e difiçil encontrar pessoas assim
Verdadeiro político, homem do povo, como pessoa não se discute, só elogios.
De fato como se diz no texto acima,foi uma esmagadora vitória de Breckenfeld sobre Ivo Queiróz,mas com detalhe muito importante que, graças a Deus,a história confirmou o que eu disse no dia dessa eleição: a gestão do eleito será desastrosa! e assim foi.Ao contrario das três de Queiróz,que em nenhuma foi maculado.
No campo politico não pensava e não concordava com muitas das atitudes de Ivo Queiroz, mas com certeza Reconheço a importância desse que foi um dos maiores prefeitos que está cidade já teve, ele foi com certeza um grande politico, medico, homem; será sempre lembrado como um expoente da politica vitoriense, deixo aqui minhas sinceras homenagens a esse grande homem, que tive o privilegio de conhecer e vê-lo muitas vezes atuando…
Antes das eleições de 1996 eu disse a muitos que, a derrota de Dr. Ivo se acontecesse, seria uma verdadeira tragedia para a nossa cidade, pois não confiava no adversário, que, ao final acabou levando o pleito com uma vitória esmagadora; como esmagadora foi o resultado durante os quatro anos seguintes.
Ele não deixou 4 filhos e sim 6. Ele tem mais duas filhas com Dona Maria de Lourdes, Isa íris e Isabelle Vanessa.