A saída do ex-ministro, ex-deputado federal, ex-governador e ex-prefeito do Recife Joaquim Francisco do PSB e a consequente ida para o PSDB, comunicada ao governador Paulo Câmara no início da noite da última sexta-feira, tumultua o já tumultuado ambiente na sigla socialista, que parece perdida no esforço prosseguir unida após a morte do seu principal líder, Eduardo Campos, em agosto do ano passado. De quebra, coloca mais pressão sobre o prefeito Geraldo Julio e suas articulações para tentar viabilizar o seu projeto de reeleição.
Não era de agora que Joaquim Francisco demonstrava descontentamento com a falta de diálogo com os líderes do PSB. Em entrevista à Rádio Folha, no início de fevereiro, por exemplo, o ex-governador já falava que nunca havia sido chamado para conversar com o prefeito Geraldo Julio.
“Eu não tenho muito acesso. Nunca fui chamado para opinar, eu acompanho pelos jornais. Eu tenho mais contato com alguns secretários. Então, a avaliação que fazem é que ele está trabalhando no Recife como um todo. Eu não posso entrar em detalhes porque, efetivamente, ele não permite esses detalhes no momento em que não se deixa aproximar de algumas pessoas com maior frequência”, relatou o ex-governador, em entrevista no dia 3 de fevereiro.
E esse distanciamento só foi aumentando a partir dali. Joaquim foi tocando o seu escritório de advocacia e dando palestras sobre gestão pública. Ao mesmo tempo, foi sendo cortejado pelo PSDB, partido com o qual alimentava afinidade. Agora, o ex-governador segue para uma legenda que, apesar de aliada do PSB no Estado, já chegou a divulgar nota anunciando que terá candidato próprio no Recife.
Já tem um nome natural para a disputa, o deputado federal Daniel Coelho. No entanto, naquela mesma entrevista à Rádio Folha, em 3 de fevereiro, Joaquim Francisco afirmou que se dessem uma brecha, poderia entrar na disputa da Prefeitura do Recife, que já comandou por duas oportunidades. A simples movimentação do ex-governador acende mais um sinal amarelo no PSB, uma ameaça a mais no principal projeto da sigla, que é o de reeleger o prefeito Geraldo Julio.
Ao contrário do deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB), que não nega, nem admite se será candidato no Recife, em outubro do próximo ano, deixando uma pulga atrás da orelha nos socialistas, Joaquim já disse que se tiver oportunidade, irá para a disputa.
A mudança de legenda de Joaquim é mais um episódio que demonstra a deficiência de articulação política nas hostes socialistas, com problemas se multiplicando em vários municípios, como Petrolina e Caruaru, por exemplo. Denota uma fragilidade, uma necessidade de alguém puxar o freio de arrumação de um partido que, por vezes, aparenta estar desmantelado.
Alguns socialistas com mais estrada na legenda afirmam que o PSB está mais preocupado em ampliar o seu quadro de filiados, com a vinda de políticos, do que cuidar de quem já está na sigla. A saída de Joaquim parece confirmar essa avaliação.