Por Marcio Souza e Nogueira Júnior, do Blog Nossa Vitória
Desde o início da semana, um boato que circula nas redes sociais engana ao dizer que há um carro preto em busca de crianças em Vitória de Santo Antão. Apesar de alguns relatos de supostas mães e responsáveis serem compartilhados informando sobre “a aparição de um veículo escuro”, e de “sequestradores” os detalhes são muito vagos e pouco ajudam a chegar na veracidade dos fatos. A primeira característica deste boato é que em diversos áudios o suposto carro dos sequestradores muda de cor. Numa informação, ele é branco; Na outra, trata-se de um carro preto; Já em um outro áudio, “são vários carros”, sequestrando crianças, segundo a mensagem de uma mulher.
É claro que esse tipo de alarde costuma deixar as pessoas amedrontadas, mas com tantas aparições públicas do suposto veículo suspeito sendo relatadas, estranhamente ninguém conseguiu anotar a placa e/ou repassar para a Polícia Civil. De acordo com o delegado Diogo Bem, titular da 61ª circunscrição, nenhuma ocorrência de sequestro ou de perseguição à criança foi registrada na delegacia. “As mães começaram a entrar em contato com a delegacia amedrontadas, mas não existe nada de concreto. Não fomos acionados e não tem nenhuma notícia de que isso tenha o mínimo de verdade”, salientou o delegado.
Também consultamos o 21ª Batalhão da Polícia Militar, sediado no município, e não houve nenhuma notificação ou ocorrência neste sentido. O comandante da unidade, Tenente Coronel Norberto Lima afirmou que trata-se de um boato antigo que roda em diversas cidades.
Mas, afinal, por que caímos em boatos?
Segundo um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, uma informação falsa tem 70% mais chances de se espalhar do que uma história verdadeira, já que geralmente são repassadas por perfis falsos de compartilhamentos estratégicos – conhecidos como robôs. Enquanto os conteúdos verdadeiros em geral chegam a 1.000 pessoas, as principais mensagens falsas são lidas por até 100.000 pessoas.
A psicóloga Edileuza Silva explica porque essas informações envolvendo crianças percorrem vários locais de forma muito rápida. “Nesse caso específico, a notícia [falsa] é espalhada por causa do instinto de proteção. O medo é o principal motivo para que as pessoas nem busquem a informação em fontes seguras e verdadeiras antes de repassar. Afinal, é uma coisa que pode e muito acontecer, pois existe a pedofilia, o tráfico de órgãos, etc. É por isso que as pessoas ficam em estado de alerta”, destacou.
Boato pode até levar à morte
Uma informação compartilhada de forma irresponsável pode chegar ao seu extremo quando as pessoas saem do campo do imaginário e partem para o real. Em 2014, uma mulher foi morta após ser confundida com uma suposta sequestradoras de crianças. O caso aconteceu no litoral paulista depois que uma página local divulgou um retrato falado atribuído à suposta criminosa, que na verdade, não existia. A foto era de uma outra ocorrência no Rio de Janeiro em 2012. Fabiane Maria de Jesus passava em uma rua quando foi atacada por moradores logo que atribuíram o rosto fictício do retrato com a sua semelhança. Ela morreu espancada por diversas pessoas.