*Por Cláudia Vicente
“Quem controla o passado, controla o futuro” esta frase do livro “1984” de George Orwel, foi lembrada recentemente num intenso debate sobre como lidar com o passado histórico. Neste texto, vamos esclarecer sobre um importante movimento ocorrido, aqui, onde hoje encontra-se a cidade da Vitória de Santo Antão. É por bem mencionar, que os eventos ocorridos em 03 de agosto de 1645 no Monte das Tabocas são frutos de um contexto maior da história, não só de Pernambuco, como do Brasil e também da Europa.
Isso nos faz perceber que a história não é uma ciência exata, e que ao tentar interpretá-la fica visível que nada se dá de forma aleatória, ou como simples evento do acaso. Assim sendo, entender o processo de produção e comércio da cana-de-açúcar nessa região em que chamamos de Nordeste e mais especificamente em Pernambuco, é necessário para entendermos o que está por trás do desejo de libertação do território ocupado pelos holandeses.
Acontece que não apenas quem produzia a cana-de-açúcar, mas também quem financiava o processo obtinha muitos lucros, por isso quando há uma quebra de parceria entre Portugal e Holanda em decorrência do início da União Ibérica (1580-1640) as animosidades sobre controle da produção do açúcar tonaram-se intensas.
Assim, as disputas diplomáticas travadas entre Espanha, Portugal e Holanda após a união das coroas portuguesas e espanholas, desencadeou uma série de insatisfação dos comerciantes holandeses envolvidos no comercio do açúcar. Basta lembrar que a Espanha passou a controlar os dois reinos e com isso buscou prejudicar os interesses econômicos dos seus desafetos nos países baixos. Em contrapartida, os comerciantes holandeses agiram para tentar não perder o domínio desse poderoso comércio, para isso criaram a Companhia das Índias Ocidentais que tinha como objetivo tomar algumas terras e retomar o comércio do açúcar na América e a Companhia das Índias Orientais que buscava atrapalhar os interesses espanhóis no Oriente, nas terras onde antes eram dominadas por Portugal.
Neste sentido, o destino como uma mola propulsora vai traçando novas possibilidades para que Tabocas pudesse acontecer e mudar os rumos da história dos batavos no Brasil. Em 1624 os holandeses decidiram invadir a Bahia de todos os santos, que então era a capital da colônia portuguesa. No entanto, não foi tão fácil como esperavam, um ano depois foram expulsos e obrigados a retornar a Europa. Em 1630, após uma análise estratégica do território e o restabelecimento do prejuízo da primeira expedição os holandeses decidem voltar a região e invadir àquela que era a maior produtora da cana-de-açúcar daquela época, muito embora tenha havido resistência e um confronto direto com os habitantes da terra comandada por Matias de Albuquerque após dois anos quando finalmente os holandeses conseguem êxito ao ocupar o espaço, uma ocupação que vai durar até 1654. Os primeiros anos foram difíceis, e é então que a Companhia das Índias Ocidentais decide mandar um administrador para consolidar essa invasão. Assim é contratado o Alemão Maurício de Nassau.
O período em que Nassau esteve à frente da administração do território tomado pelos holandeses foi de grande mudança na estrutura organizacional de Pernambuco, por ser um homem das letras, da ciência ele se fez acompanhar por cientistas, artistas plásticos, entre eles: Frans Posts, Ekaut e assim marca através de sua administração um novo tempo para o Recife, uma vez que foi o lugar onde o mesmo estava estabelecido. A construção de pontes, construção de palácios, do zoo botânico, além da convivência pacífica com os senhores de engenhos é um ponto importante para entender o período de estabilidade durante o seu governo, que vai de 1637-1644.
A Companhia das Índias Ocidentais discordando de algumas atitudes de Nassau decide demiti-lo, obrigando-o a retornar a Europa. O que faz com os senhores de Engenho pensem como expulsar os holandeses, afinal os seus interesses não eram mais contemplados, então pensemos que a palavra de o núcleo gerador do conflito foram os interesses econômicos.
Os senhores de engenho não pretendiam pagar os empréstimos feitos no tempo de Nassau uma vez que os juros eram altíssimos. Sendo assim, em 1645 o levante começa e tem seu desfecho final na Campina do Taborda em 1654.
O início da expulsão do invasor ou da Restauração Pernambucana comandada pelos senhores de Engenho tendo à frente João Fernandes Vieira, que era proprietário do engenho da Várzea, nas terras onde hoje pertencem a família Brennand, vai se dá com outros senhores de engenho bem como com outros representantes de grupos étnicos como Felipe Camarão representando os povos indígenas, Henrique Dias representante dos povos africanos, bem como o Antônio Dias Cardoso, importante organizador e estrategista do embate.
Os vários confrontos iam acontecendo sempre com os holandeses obtendo vantagem, uma vez que eles eram bem organizados militarmente, bem preparados, a grande parte bastante experiente na arte militar, bem armados, porém tem algo interessante a refletir: os holandeses não conheciam a região, com características geográficas bem distintas das de onde eles vinham.
João Fernandes Vieira por estar à frente do conflito passa a ser perseguido o que o leva a fugir, nessa fuga os holandeses vêm como que por um golpe do destino parar às margens do Rio Itapacurá, observados pelos senhores de engenho e os demais revoltosos. Mais uma vez a geografia contribuiu para que a história mudasse e os acontecimentos fossem diferentes. A Serra do Camocim onde encontra-se o Monte das Tabocas serviu de emboscada muito bem montada pelo estrategista Antônio Dias Cardoso e assim os holandeses passam a ter a sua primeira grande derrota.
E essa é a grande importância da Batalha do Monte das Tabocas, é a primeira derrota imposta aos holandeses e foi realmente uma glória para os que faziam parte dos grupos revoltosos. Neste confronto entre o rio e o morro o monte das tabocas os holandeses são derrotados depois de várias horas de combate e sofrem seu primeiro desfalque.
*Professora, graduada em História, especialista em Educação e mestranda em Educação