Depois de uma década e meia, trecho duplicado por R$ 400 milhões entre Recife e Caruaru, será restaurado. Custo está estimado em R$ 100 milhões
Dezesseis anos depois de duplicada, mudando completamente o desenvolvimento das cidades no seu caminho, e após quase uma década de degradação displicente, a BR-232 será totalmente restaurada no trecho entre o Recife e Caruaru, no Agreste pernambucano. Ou seja, será refeita, provavelmente de ponta a ponta, nos 134 quilômetros que, em 2004 foram duplicados pelo governo de Pernambuco, às custas da venda da Celpe por R$ 400 milhões. A destruição avançada do pavimento, o permanente desperdício de recursos públicos e a consequente insegurança viária da rodovia forçaram a decisão, acertada entre o governo do Estado – responsável pela BR até 2027 -, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e o Ministério da Infraestrutura.
E essa “nova BR” – vamos chamar assim – custará, pelo menos R$ 100 milhões. Esse é o valor inicial projetado pela Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco (Seinfra), que já está iniciando o processo, com o lançamento – ainda em outubro – da licitação para contratação do projeto executivo, estimado entre R$ 3 e R$ 4 milhões – valor pago pelo governo estadual. Será uma obra para começar no primeiro semestre de 2021 e que levará de dois a três anos devido ao volume de tráfego da rodovia. Segundo a Seinfra, toda a restauração terá que ser realizada com a rodovia em movimento – são mais de 30 mil veículos circulando diariamente no corredor. Em épocas festivas, como Semana Santa e São João, esse número aumenta em 40%.
“Dialogamos muito, nós e o governo federal, através do Dnit, sobre a urgência da restauração da BR-232. Ações paliativas para recuperar o pavimento não resolvem mais. É preciso refazê-la. Já houve esse consenso. Está decidido que será refeito. Por isso já estamos lançando a licitação para o projeto executivo. Será ele quem dirá o que precisa ser refeito. Se tudo ou quase tudo, por exemplo. A questão jurídica é outra coisa. Não podemos mais esperar por um desfecho. Caso ele aconteça e, por exemplo, as construtoras sejam condenadas, o prejuízo será reposto ao Estado ”, explicou ao Jornal do Commercio, a secretária da Infraestrutura de Pernambuco, Fernandha Batista.
Manutenção da BR-232 voltou a ser feita
São anos e anos em que a reportagem do JC observa as condições de trafegabilidade e segurança viária da BR-232. E, como consequência, agora a degradação visível do eixo que virou símbolo do desenvolvimento interiorano de Pernambuco. Por muitos anos, um abandono político, com a política impedindo a conservação técnica da rodovia, já prejudicada pelas falhas de drenagem da duplicação do corredor. Ao ponto de comprometer a segurança de motoristas e apagar a imagem de estrada moderna e segura conquistada com a duplicação.
Em abril de 2019, por exemplo, nem contrato de manutenção a BR-232 tinha. Estava totalmente abandonada pela gestão do PSB, que tanto criticou a execução do projeto. Até mesmo serviços básicos como a retirada da vegetação e a manutenção da sinalização não existiam. A rodovia parecia uma floresta, por exemplo. Atualmente, está menos ruim. O Estado retomou a manutenção do pavimento e, embora siga jogando asfalto sobre as placas de concreto – o que potencializa o perigo para os veículos em velocidade e amplia a deterioração do pavimento -, pelo menos repassa a imagem de cuidado.
Principal eixo rodoviário do Estado, a BR-232 liga a Região Metropolitana do Recife ao Agreste e é considerada uma coluna vertebral da economia de Pernambuco por ter sido responsável por acelerar o processo de interiorização do desenvolvimento. Sempre foi considerada uma marca da gestão Jarbas Vasconcelos e, por isso, deixou de ter a atenção necessária nos primeiros anos do PSB à frente do Executivo estadual. Em 2002, o governo de Pernambuco ficou responsável pela duplicação – entregue em 2004 – e pela gestão até 2027.
Embora a BR em nada mais lembre a rodovia duplicada de 2004 e não tenha, sequer, mais placas verticais ao longo dos 134 quilômetros entre Recife e Caruaru, ao menos dessa vez o governo estadual fez uma operação tapa-buraco mais ampla. Alguns trechos completamente esburacados – principalmente no sentido Caruaru-Recife, o mais degradado dos dois -, receberam uma camada de asfalto por uma extensão maiorã. De tão recente, a recuperação do pavimento ainda não foi nem concluída e permanece ainda sem a sinalização horizontal.
Segundo o Estado, têm sido gastos entre R$ 12 e R$ 15 milhões com a recuperação paliativa (tapa-buraco) do pavimento e a capinação da rodovia. A 232, no entanto, segue sendo uma verdadeira montanha-russa e exigindo muita atenção dos motoristas.
Concessão pública da BR-232 leva Estado a pedir fim de convênio
A possível concessão pública da BR-232 faz parte de um pacote de 5.348 quilômetros de rodovias federais, que cortam 11 Estados. A transformação da BR-232 em uma rodovia pedagiada vem ganhando força e, por isso, o cidadão já deve esperar a mudança em poucos anos.
A decisão do governo federal de incluir o eixo pernambucano no pacote de rodovias que serão estudadas para concessão pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), numa parceria com o Ministério da Infraestrutura, provocou, inclusive, o pedido de antecipação do fim do convênio de delegação da BR pelo governo de Pernambuco, previsto para acabar apenas em 2027.
Jornal do Commercio
Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem