A silenciosa volta dos que se foram

Apesar das obras e entulhos, o silêncio é o que impera. Sob as incertezas em meio a comentários, os comerciantes da Feira da Estação, Centro de Vitória de Santo Antão, assistem com atenção a volta daqueles que se foram. Pequenas barracas de alvenaria são desocupadas. O calçamento é retirado e, em meio a grande buraco, eles reaparecem: os antigos trilhos da linha férrea.

A mudança na rotina do espaço foi iniciada em dia estratégico e sem movimento. Manhã de domingo de sol. Apesar das obras, não há quaisquer isolamento ou sinalização. Barracas chegaram a ser afastadas para a realização do serviço. Apesar disso, o Governo Municipal age silenciosamente, sem explicações aos que ali possuem fonte de renda.

As radicais mudanças na área em questão não são de hoje. Em meados de 2008, ocorreu o aterro e calçamento do antigo pátio do conjunto ferroviário de Vitória, por cima dos trilhos e do girador. Sem consulta aos órgãos responsáveis, o espaço foi alterado com a proposta de virar Pátio de Eventos. Mais tarde, em 2010, com uma nova gestão municipal, ambulantes que ocupavam as calçadas do centro comercial foram realocados para o local e assim foi criada a Feira da Estação, permitindo, inclusive, a construção de edificações ao longo da área da via férrea.

Às vésperas das Eleições 2020, o impacto das modificações preocupa e cala o Governo. Contudo, as mudanças devem prosseguir. As ações cumprem medida judicial, com recurso já improvido por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao Município, cabe a elaboração e execução de projeto de requalificação e regularização do conjunto ferroviário, seguindo as diretrizes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mas porque disso tudo? O espaço não poderia passar por modificações, por ser tratar de patrimônio histórico-cultural – tombado pela FUNDARPE e protegido pela Lei Federal 11.483/2007 – e a área ser pertencente à União. A rotunda, que hoje está voltando a aparecer, é a única existente da Linha Tronco Centro (Recife – Salgueiro).

A decisão estabelece a retirada da feira livre, do estacionamento formado embaixo do conhecido “trepa bode”, além da desocupação dos prédios da estação e armazém, cuja inauguração ocorreu em 1866. Caberá ao Município a remoção de todas as barracas e edificações implementadas sobre o terreno do pátio ferroviário, nas edificações e nas estruturas constitutivas – como terreno do pátio, trilhos, aparelho de mudança de via, equipamentos de sinalização, comunicação e manobra, caixa d’água, garagem troller, girador, rotunda, estação e armazém. O pontilhão, bem como a Ponte de Gaiola, não foram considerados como parte do pátio.

Um cronograma de ações deve ser executado pelo Governo Municipal, partindo das desocupações até a conclusão final da recuperação prédios e áreas afetadas. A preservação do patrimônio histórico é bem necessário. Mas, enquanto ocorrem as caladas ações do Município, a sociedade assiste e aguarda, no mínimo, um esclarecimento do Governo Municipal a respeito do assunto. Ou tudo seguirá da mesma forma misteriosa? Eis a indagação.

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