Além dos prejuízos ambientais, o contato com o petróleo bruto traz consequências para a saúde, pois trata-se de produto tóxico. Segundo especialistas, ainda são poucas as pesquisas que avaliam os efeitos do contato humano com o produto. De qualquer forma todos são unânimes e alertam que pessoas trabalhando na limpeza de animais e de praias devem usar equipamentos de proteção, como luvas e roupas protetoras. De quinta-feira (17) até segunda-feira (21), 257 toneladas de óleo foram recolhidas no litoral pernambucano, sendo 186 toneladas tiradas apenas na segunda-feira, nas praias do Paiva, Itapuama, Pedra do Xaréu, Gaibu e Sirinhaém.
O professor do Departamento de Oceanografia da UFPE, Gilvan Takeshi, em curto prazo, o contato com o óleo pode causar irritação na pele e mucosas. “Efeitos de longo prazo seriam apenas se as pessoas ficassem expostas, constantemente, respirando alguns vapores desse petróleo. Mas como isso (o trabalho de retirada dos resíduos) está sendo feito em ambiente de praia, que é aberto e e com bastante vento, isso não deve ser um problema. Se ficar respirando o dia inteiro aquilo pode ser que tenha reação alérgica ou náusea em determinado momento. O principal efeito em longo prazo haveria caso ingerisse o produto”, disse.
De acordo com a dermatologista Ana Cristina França, o contato com o óleo pode causar dermatite. Por isso, a orientação é evitar tocar a substância. Ela explica que a dermatite é um processo alérgico composto de vermelhidão no local afetado, seguida por coceira e ressecamento na região. “Dependendo do contato e da vulnerabilidade do paciente, pode haver um quadro cutâneo mais grave, em seu efeito agudo, com formação de bolha. A reação pode acontecer imediatamente, seis horas depois ou até um dia após”, detalha a especialista.
Ainda de acordo com a especialista, caso a pessoa opte por integrar as equipes voluntárias, a recomendação é utilizar roupas com proteção UV, luvas e botas que protejam a pele do contato direto com o resíduo. Uma vez que aconteça, lavar com sabonete neutro e água em abundância. O óleo mineral também pode ser utilizado. Para os olhos, a indicação é o uso de soro fisiológico. Em caso de irritação, a primeira orientação é buscar assistência médica.
Para o trabalho nas praias, o governo do Estado tem contado com um efetivo de 400 pessoas mobilizadas, seja da Defesa Civil, CPRH, Corpo de Bombeiros, incorporando também equipes de apoio da Seplag e da Secretaria de Administração. O governo ainda conta com helicópteros da SDS e do Ibama, além de dez embarcações e 30 viaturas. Todo o material coletado foi levado para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), em Igarassu.
De acordo com Bertotti, o comandante de Operações Navais da Marinha, almirante Leonardo Puntel, informou que amanhã chegarão três navios da Marinha para ajudar nos trabalhos realizados em Pernambuco. “Mas no ponto de vista de EPIs, boias de contenção não chegou nada. Esses são alguns dos itens previstos na implementação do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água”, disse o secretário. Ele informou ainda que hoje mandou novo ofício para o Ministério do Meio Ambiente pedindo boias de contenção e equipamentos de proteção individual. Conforme Bertotti, o Plano prevê a instalação de um comitê que analise a extensão do dano, mas essa medida não teria sido tomada pela União.
Caos no Cabo
O Cabo de Santo Agostinho, município mais atingido ontem, foi tomado pelo petróleo. Na praia de Itapuama, era possível sentir o cheiro do óleo antes mesmo de chegar à faixa de areia, repleta de grandes placas pretas. As pedras e as ondas mais rasas também ficaram sujas de piche. Da mesma forma estavam os braços e pés descalços de Everton Miguel dos Anjos, 13, que trabalhava colhendo petróleo desde a noite de domingo, quando vieram as primeiras manchas do mar.
Acompanhado de quatro irmãos e alguns vizinhos, ele mora no bairro de Ponte dos Carvalhos. “Minha mãe abriu o bar aqui em Itapuama e eu vim para ajudar. Tinha nada para fazer”, revelou. No meio dos cerca de dois mil voluntários que juntavam o petróleo bruto para guardar nos cinco mil sacos de náilon distribuídos pela prefeitura, Everton era parte do cenário de confusão e correria que dominou Itapuama na tarde desta terça-feira. Enquanto a maré enchia, eles denunciavam a falta de orientação técnica. “Não tem governo que faça o que estamos fazendo. A gente deve tirar o resíduo com o mínimo de areia possível. Precisa de luva, mas também de material de trabalho”, protestou a bióloga Gabriela Barros.
Minutos depois, o secretário de Serviços Públicos da cidade, Raimundo Sousa, mandou duas retroescavadeiras para a remoção do material e reclamou da falta de apoio. “Esse acidente é de grandes proporções. Estamos administrando isso no peito e na raça. Isso nunca aconteceu em nossa região. O Cabo de Santo Agostinho é a cidade mais afetada por conta da geografia. A maré veio e a situação ficou mais agressiva. O município por si só não vai dar resposta”, afirmou.
Folha de Pernambuco