Humanizar para ressocializar

Dedicação, humanização, amor, compromisso e fé. Essas são as palavras que Elieser de Souza leva para o dia a dia de trabalho. Aos 62 anos, viúva e mãe de dois filhos, ela sai todos os dias de sua casa para coordenar o anexo I da Escola Estadual Prisional Professora Amélia Coelho, localizada na Unidade Prisional de Vitória de Santo Antão, Zona da Mata pernambucana. Com 43 anos de profissão, a professora atualmente coordena cerca de 240 estudantes e demostra emoção quando fala de cada um. Nesta matéria, a segunda da série especial do “Dia Internacional da Mulher”, vamos homenagear as 16 mil docentes da rede estadual e falar sobre o amor de uma professora pelo que faz.

“Diretora”. É desta forma carinhosa que a coordenadora é tratada, mesmo estando na unidade há apenas um ano. Parece pouco, mas ao longo desses doze meses, Elieser mudou a realidade da escola. Ela humanizou o espaço escolar, tornando-o ambiente mais atrativo para os reeducandos. Formada em biologia, com especialização em ciências biológicas, ela escolheu seguir o caminho de educadora por se identificar com a profissão e ter a certeza de que mudaria a vida de muitas pessoas. “Trabalhar com aluno é muito gratificante, me identifico demais em uma sala de aula, trabalho com a conquista, mostrando a eles a responsabilidade que eles têm no aprender e no fazer”, declara.

Na escola prisional não é diferente. Para a professora, os reeducandos não são apenas pessoas privadas de liberdade e sim estudantes. Para eles, ela criou a biblioteca “Liberdade do Saber”, copa, jardim, solicitou cadeiras e armários. Todo o imobiliário foi organizado pelos próprios estudantes, sob sua coordenação. “É visível a mudança que ela proporcionou aos nossos alunos. O tratamento humanizado que ela trouxe para a escola nos emociona. Sempre disposta a conversar, a dar conselhos, orientações e palavras de incentivo aos alunos”, diz Adriana Ferreira, professora de língua portuguesa, que se emociona ao falar sobre o amor que Elieser dedica à escola.

Vista como mãe, amiga e confidente, Elieser é motivo de mudança de comportamento de muitos estudantes. “A escola é um pedacinho do mundo dentro do presídio, onde temos a oportunidade de ter momentos de tranquilidade, de estudo, de companheirismo”, fala o estudante E.A.. Foi exatamente esse sentimento que a professora idealizou: transformar a escola em um espaço onde eles pudessem sentir o calor humano, o valor que cada um tem. E é cuidando de um por um, em todas as situações, que ela conquistou cada coração lá dentro. Para o estudante J.A., Elieser é uma mãe. “Ela está presente sempre que nós precisamos, escutando, nos dando conselho e cuidando de cada um como se fosse filho. Me mostrou o quanto é importante o estudo e me deu uma nova chance, uma esperança de ter uma vida digna lá fora”, diz.

Para o coordenador da unidade prisional, Emanuel França, a chegada da professora mudou toda realidade da escola. “Ela foi o fator principal para que a escola tivesse dois momentos, antes e depois dela. Após a sua chegada, conseguimos ver, de fato, a educação efetivada com base nas diretrizes de uma educação de qualidade”, ressalta.

Visivelmente emocionada, a professora leu uma carta que recebeu de um estudante, onde ele agradece todo o apoio e o incentivo para construir uma vida digna quando estiver fora de lá. “Aqui tenho o retorno mútuo de tudo o que realizamos e sempre repito uma frase de Clarice Lispector: ‘Até onde posso, vou deixando o melhor de mim. Se alguém não viu, foi porque não me sentiu com o coração’”, diz com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso no rosto.

 

Foto: Pedro Menezes

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