Enquanto o vice-governador e presidente estadual do MDB, Raul Henry, e o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) vão para o tudo ou nada para ganhar o comando do partido, o tempo joga contra os dois. Se do lado do senador a falta de definição impede que ele cumpra a promessa de fortalecer a sigla, do outro, lutar até o último cartucho representa o risco de perder o prazo da janela da infidelidade – que permite a troca de legenda até 7 de abril sem perda de mandato – e não poder se candidatar.
Na última sexta-feira (12), o advogado do MDB-PE, Carlos Neves, protocolou no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) recurso à decisão do juiz José Alberto de Barros Freitas Filho que dá sinal verde para o andamento do processo de dissolução do diretório regional da agremiação, que é comandado pelo grupo de Henry. Na prática, a decisão dá sinal verde para levar a sigla para as mãos de Bezerra Coelho.
Na avaliação do cientista político e professor da Faculdade Damas, Elton Gomes, a tendência é que com o avançar dos dias, alguns peemedebistas abandonem o barco. “Ninguém está maluco de comprar a briga e ficar sem poder se reeleger, sem os privilégios que gozam. No Brasil não é possível ser candidato independente. O político ficar sem partido é como ser um caramujo sem concha. Ele precisa de partido porque ele é o possibilitador de poder”, opinou. Da Assembleia, estão no meio do fogo cruzado Gustavo Negromonte, Ricardo Costa e Tony Gel. Cautelosos, os dois primeiros disseram não trabalhar com hipóteses e acreditar em decisão favorável a Raul.
O ministro de Minas e Energia, Fernando Filho, que vai disputar uma vaga na Câmara e havia prometido ir para o MDB, informou, por meio da assessoria, que só irá se decidir em abril, no limite do prazo. E o deputado federal Kaio Maniçoba (PMDB) já sinalizou que pode ingressar em outra sigla. Nos bastidores comenta-se que ele pode ir para o PSL. Mas, de acordo com o cientista Elton Gomes, a situação de Raul Henry é a mais preocupante. “Se ele deixar o partido admite que Fernando Bezerra Coelho venceu. Se não deixar, corre o risco de não se candidatar, ficando sem cargo, sem condição de barganha. Já Jarbas está em fim da trajetória política. O dano não é tão expressivo quanto o de Raul que tem um caminho a percorrer”, disse Gomes.
Na próxima semana, Raul Henry deverá se reunir com os deputados da bancada para traçar táticas e esclarecer dúvidas jurídicas para os deputados que vão tentar a reeleição. Apesar dos pontos negativos, o vice-governador afirmou que levará a queda de braço com Bezerra Coelho até as últimas consequências no Judiciário, independentemente da janela eleitoral. “Só temos plano A, não temos plano B. Vou ficar no partido até depois de março, independentemente do prazo eleitoral. Ficaremos todos. Nossa disposição é lutar”, garantiu. A estratégia do grupo ligado ao deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB) é esgotar todas as possibilidades de recursos.
De acordo com o jurista eleitoral e membro da comissão especial de direito eleitoral do Conselho Federal da OAB, Emílio Duarte, a definição sobre o comando do MDB pode se arrastar por todo o ano. “O juiz revogou a liminar que impedia o processo de dissolução. Agora terá a decisão de mérito, vai caber recurso e pode subir para outras instâncias, podendo demorar um bom tempo. Com o advento do processo judicial eletrônico os prazos foram reduzidos, mas há um longo caminho a ser percorrido”, explicou o especialista.
Na última quinta-feira, o Judiciário revogou parcialmente a liminar obtida por Raul Heny em novembro após a Executiva Nacional do MDB alterar o estatuto, dando competência à nacional para dar entrada na dissolução. Este era um dos pontos que dava sustentação à medida. No entanto, o magistrado manteve a justificativa de déficit no desempenho eleitoral, que deve ser julgada internamente pela sigla.
Embora impossibilite a garantia de ter o MDB e engesse as arrumações políticas, que tem o maior tempo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio, a prorrogação de um desfecho beneficia o governador Paulo Câmara (PSB) porque trava as negociações políticas do seu maior desafeto: Fernando Bezerra Coelho. Para suprir a lacuna, o socialista tenta, nos bastidores, fechar uma aliança com o PT, que tem o segundo maior tempo de guia.
Bezerra Coelho havia prometido ao presidente nacional do MDB, Romero Jucá, que, caso se filiasse e ganhasse o controle do partido, levaria pelo menos seis deputados federais com ele, além de outros quadros. No entanto, sem a certeza do rumo que a sigla vai tomar nenhum político garantiu ingressar na legenda. Se o processo se estender até depois de março, a intenção de disputar o Governo do Estado estará ameaçada. No entanto, ele continua sendo senador já que seu mandato só acaba 2022.
Blog da Folha
Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco