A cruz nossa de cada dia

Na Bíblia, Jesus fala no evangelho de Marcos que, para segui-lo, é preciso carregar a própria cruz. No dia de hoje, quando todas as lembranças dos cristãos se voltam para a crucificação do Cristo, a passagem é particularmente oportuna: é difícil lidar com os próprios problemas. Milênios depois da escrita do livro, ainda não se aprendeu a fazer isso. É comum terceirizar e rejeitar as dificuldades. É uma tentação.

Para o padre Ulysses da Silva, reitor do santuário de Nossa Senhora da Conceição, na Zona do Recife, a passagem, quando bem absorvida, leva as pessoas a viver de maneira mais suave. “Podemos fazer das cruzes um grande problema ou enfrentá-los com amor.

Dessa maneira, a cruz não se torna tão pesada assim. E ela passa, como passou a de Cristo. Vitoriosa é a vida de quem consegue fazer isso. Mas quando tudo o que fazemos é queixar-nos, você vê aquela questão crescer e se tornar maior que você”, contou.
Márcia Regina, 32 anos, encontrou sua cruz no próprio corpo há um ano. Começou a se sentir mal e procurou um hospital. Ainda passa por exames, mas já sabe que o mioma no útero será retirado com uma cirurgia. É a partir desse procedimento médico que ela espera renascer. Como toda cruz, de acordo com o padre Ulysses, a dela também é indesejada e apareceu de maneira repentina.

“Pode estar em qualquer esquina, num acidente, numa perda, não há como controlar. As doenças são exemplos disso”, explica o religioso. Para Regina, a esperança e a fé em Cristo são o que tornam a madeira menos pesada. “Essa fé é capaz de me fortalecer”, contou a estudante universitária que participou ontem da missa do lava-pés na Ilha de Deus, na Imbiribeira, Zona Oeste do Recife. A leveza a leva a já fazer planos para quando estiver recuperada. “Vou voltar a trabalhar e a estudar. Hoje também vim, neste dia especial, pedir por todas as graças que ainda preciso.”

Espiritismo
A atitude de Regina é valorizada também pelos espíritas. Para eles, lutos, doenças e todas as cruzes que carregamos são débitos adquiridos em outras vidas. “Antes de reencarnar nós fazemos promessas, como se assina um documento, para podermos viver essas cruzes e pagarmos os débitos. Se as arrastamos com amor a Deus e sabendo que o sofrimento é uma virtude para melhorarmos, quitamos a dívida. As doenças são bons exemplos disso. Se não, se ficamos reclamando, sem entender, o débito continua para a próxima encarnação”, explicou o coordenador do Centro Espírita de Paulista, Carlos Rocha Leite.

Folha de Pernambuco

Foto: Felipe Souto Maior

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *