Os produtores de laticínios do Estado estão preocupados com a entrada de leite e derivados de outros estados e países. Convivendo com a seca pelo sexto ano consecutivo e com as margens de lucro cada vez menores, o setor começa a se adequar à realidade imposta pelos concorrentes. Atualmente, o preço médio do leite praticado pelos pequenos produtores do Agreste pernambucano é de R$ 1,35. No entanto, como o Sudeste está em período de safra, o alimento chega por aqui ao custo de R$ 1,10. Para sobreviver, não há outra alternativa a não ser se equiparar ao mercado enquanto os custos para manter o animal só aumentam.
Diretor-administrativo da Bom Leite, Júnior Galvão disse que os produtos com maior inserção no mercado local são o leite longa vida e o queijo mussarela, itens que balizam o valor do leite no mercado. “Porque eles são os mais consumidos. Quando entra queijo mussarela barato, inevitavelmente, baixamos o custo do leite aqui. Isso faz a rentabilidade e o preço final caírem”, explicou. Ele destacou ainda que o interessante seria se os produtos entrassem aqui durante a nossa safra, ou seja, na entressafra das regiões do Sul e Sudeste do País. “Porque não afetaria a nossa produtividade”, afirmou.
Para se ter ideia, os preços nas gôndolas, conforme Galvão, já sentem esses efeitos. De R$ 3,90, o longa vida está custando R$ 2,90. Por ano, a Bom Leite chega a vender cinco milhões de litros para o Estado e Alagoas.
Segundo o diretor da Betânia, Bruno Girão, em virtude dessa seca histórica, as indústrias locais ficam impossibilitadas de competir com as de fora. “Claro que, em algum momento, isso muda por se tratar de uma questão cíclica. No entanto, dependemos de água e, hoje, o único apoio que temos é de carro-pipa. Esperamos que esse quadro não perdure”, projetou. Por dia, a fábrica produz 200 mil litros de leite, processados em Pernambuco.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Criadores, Emanuel Rocha, esse assunto gera grande preocupação para o mercado local. “Apesar de o preço do milho e da soja terem caído (fundamentais para alimentação do gado), permanece a importação do produto, sobretudo, da Argentina. Isso tem que ser estudado”, comentou. Em função do persistente quadro hídrico, a produção de leite ainda não foi recuperada e isso ainda provoca o repasse do rebanho. Atualmente, 1,4 milhão de leite é fabricado por dia. Há seis meses, era de 1,8 milhão. Antes da seca, a fabricação chegava a 2,5 milhões/dia.
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior dão conta que Argentina, Uruguai, Suíça, Itália e Alemanha são os países que mais exportam leite e derivados para cá. “Sabemos que a situação dos produtores não é fácil. O Estado já tirou o ICMS do milho e desenvolveu ações de combate à clandestinidade”, disse Erivânia Camelo, diretora-presidente da Adagro. Ela antecipou ainda que estuda, em breve, lançar um selo para controlar a entrada e saída desses produtos pelo Estado.
Folha de Pernambuco