Com a chegada do período político partidário e com a permissão da Justiça Eleitoral para que os candidatos comecem a fazer suas divulgações, as músicas de campanha, incontestavelmente, se tornam uma febre em poucos dias. Fase em que as ruas são tomadas por carros de propaganda. Na maioria das vezes, essas músicas são simples, com refrões curtos e repetitivos, mas sempre evidenciado o número do político que contratou o serviço. Esse período é de muita fartura para músicos e proprietários de estúdios. Eles aproveitam a demanda para fazer uma renda extra.
Por trás do que se ouve tocando diariamente, há um processo que envolve um turbilhão de ideias, capricho e planejamento. “Entramos em contato com o candidato interessado e falamos sobre nosso trabalho. Depois gravamos e enviamos para eles”, afirma José Domingos, músico. Como ele fazia parte de uma banda de forró, conheceu vários políticos nas viagens que fez para tocar – o que tornou mais fácil fechar um contrato. Da vivência na banda também formou parceria com Edmilson Ferreira, vocalista. Hoje, um compõe e o outro grava. Juntos, já produziram pelo menos dezoito jingles eleitorais. “Já gravamos várias músicas. Tem muita criação nossa rodando por aí”, garante Edmilson, mais conhecido como Edy Pureza.
O também músico Danilo Lima se planejou com antecedência. Há quatro anos montou o DL Stúdio, e agora percebe a diferença no movimento. A atividade, inclusive, está sendo muito cansativa para ele. “São de cinco a dez pedidos por dia e a jornada de trabalho vai até de madrugada. Tem dia que vamos até duas horas da manhã. Até gente de outras cidades pede nosso trabalho”, conta.
Essa época ainda exige um pouco mais dos profissionais. Eles têm que se desdobrar para emplacar uma boa letra e obter um resultado final com qualidade. “Se o candidato contrata nosso serviço, temos que fazer bem feito. É um verdadeiro quebra cabeças para compor algumas letras, mas outras já são mais fáceis. Gosto de entregar tudo bem feito para não haver arrependimentos”, diz Jonatha Chocolate, cantor e compositor.
A questão do preço
Em uma pesquisa rápida nos estúdios de Vitória, constata-se a variação dos preços. Para estabelecer um valor, alguns fatores são levados em consideração, como por exemplo, o tempo utilizado na gravação.
Para comprar um jingle, o candidato deve desembolsar em média de R$ 300 a R$ 500 (geralmente para vereador). Valores para candidatos a prefeito são maiores, pois as músicas comumente são autorais. “Tem aquela gravação mais barata quando eles trazem o playback e contratam o cantor, mas quando somos o responsável pela composição, gravação e mixagem esse valor pode chegar a mil reais”, garante Samuka Voice, dono de estúdio.
Essa mesma lógica serve para a gravação dos guias para reprodução em rádio e televisão. “Tudo vai depender do que vamos precisar. Se for necessário gravar um guia completo, o valor com certeza sobe. Diferente de gravar um ou outro candidato da coligação”, sintetiza Edpo Wagner, proprietário do Stúdio Vip.
Tem gente que ‘’passa a perna’’
Muito comum no bate-papo entre músicos, a expressão “levar um xexo” não soa positivamente entre a classe, pois significa ser enganado, trapaceado. Isso acontece porque na maioria dos acordos para a gravação de uma música no estúdio, o acerto é fechado por um intermediador, que, em muitos casos, recebe o material final e não retorna para fazer o pagamento. A ausência de um contrato oficial entre as partes só dificulta a vida de quem foi lesado.
Apesar de muitos apostarem no jeitinho brasileiro para tentar se sair bem nessa trama, músicos e produtores de áudio usam como antídoto uma prática simples das relações de consumo: comprou, pagou. O proprietário do L.W Studio Digital Áudio, Lucyan Lemos, já passou por essa situação. Hoje fez mudanças na forma de fechar negócio. “Existe gente que me deve desde a outra campanha. Só entrego o trabalho com o pagamento adiantado, diretamente com o político”.
“A gente precisa ter o nosso trabalho valorizado. Se alguém faz e não quer pagar, o prejuízo é muito grande, por isso, temos que cobrar adiantado”, relata Raylton Batista, do Stúdio R.
O proprietário do L13 Stúdio, Lucenildo Felisberto, também não dá brecha para o prejuízo. Ele, que também é tecladista e produtor musical, gosta de deixar tudo acertado. “Eu faço feito no cinema onde se paga para entrar. O contratante paga pra ouvir e depois levar. Mas tem candidato que eu confio, pois grava comigo faz muito tempo e nunca trapaceou”, garante.
Por Marcio Souza, especial para o Blog Nossa Vitória
Fotos: Marcio Souza/Blog Nossa Vitória e Divulgação