Quase 40% dos entrevistados pela pesquisa afirmam que motivo foi querer ajudar alguém
A solidariedade, que é uma característica importante para a vida em sociedade e é presente no perfil do trabalhador brasileiro, vem trazendo alguns problemas para essas pessoas: nome sujo no Sistema de Proteção ao Crédito (SPC).
Segundo uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), um em cada dez consumidores (11,2%) que estão ou ficaram no “vermelho” há, no máximo, doze meses, alegam que o motivo foi ter emprestado o nome para outra pessoa fazer compras ou tomar empréstimos.
“Não é uma atitude, nem de longe, aconselhável. Porque o bem comprado vai e a dívida fica”, comenta a economista-chefe do SPC Brasil Marcela Kawauti. “Afinal, quem está pedindo dinheiro já é porque não tem ‘crédito na praça’ e possivelmente não consiga pagar depois”, conclui. No entanto, não é a primeira coisa que as pessoas pensam.
Quase 40% dos entrevistados pela pesquisa afirmam que o motivo foi querer ajudar e 16,6% ficou com medo de magoar a pessoa, ao recusar a ajuda. Isso se explica pelo fato da maioria que utilizou o nome emprestado serem pessoas próximas, visto que 26,6% são amigos e 21% irmãos.
Mas emprestar não é o real problema, a questão é não ter condições de devolver e quem fez o favor de “bom coração” acaba “pagando o pato”. Apenas 5,3% pagaram o valor integral da dívida e três a cada dez inadimplentes por este motivo (29,6%) tiveram que cortar gastos para arcar com a despesa indesejada. É um percentual muito baixo dos que honraram o compromisso ante os 76,4% que não pagaram nada.
E as justificativas para não arcar com o pagamento são várias, mas as mais frequentes foram: não ter dinheiro (40,3%), esperar se empregar ou salário melhorar (15,1%) e a pessoa desapareceu (13,3%). Como se a situação não fosse ruim o bastante, 28,5% não sabiam nem o valor que seria gasto pelo terceiro quando solicitado. Oito em cada dez (79,2%) não sabem quanto pagou por dívidas dos outros.
E se a pessoa não devolve como fica? “Quem emprestou é totalmente responsável pelo endividamento, então precisa arcar e não se vitimizar”, diz o educador financeiro e professor de Economia da Faculdade dos Guararapes, Roberto Ferreira. Ele aconselha os inadimplentes a procurar a instituição financeira e negociar ou pegar empréstimo consignado para quitar a dívida.
“Os juros do empréstimo, pelo menos, são bem menores que o do cartão de crédito”, informa. Enquanto o dinheiro da quitação não vem, muitas pessoas renegam a dívida e adiam o pagamento por não se sentirem responsáveis pela conta que não contraíram (em parte).
É o que acredita Marcela, do SPC Brasil, quando indica que 64,1% não quitou a dívida porque ainda está negociando. Pelo menos 82% dos entrevistados alegam que nunca mais emprestará novamente, mas Marcela desacredita, “porque a vontade de ajudar do brasileiro é cultural”.
Folha de Pernambuco
Foto: Felipe Ribeiro/Arquivo Folha