Redução de R$ 3,4 milhões vai apertar a situação de quem veio do Interior e pode provocar evasão estudantil
“Eles vão tirar o direito de a gente estudar”, lamentou Rayná Miranda, 23 anos, que está no último período de Licenciatura em Física, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no campus de Caruaru, Agreste do Estado. A jovem, que pensa em desistir do curso por não ter condições de se sustentar na cidade, está entre os 7,2 mil alunos que serão prejudicados, a partir de maio, pela redução de R$ 3,4 milhões no orçamento para o auxílio estudantil. Neste ano, o valor designado à assistência será de R$ 31,6 milhões. Segundo a UFPE, a medida foi necessária para adequar a universidade à nova realidade orçamentária e atender à expectativa de aumento na demanda com o crescimento, neste ano, do número de cotistas para 50% do total de vagas ofertadas na graduação.
Os novos valores dos auxílios vão de R$ 100 a R$ 700. No Campus Recife, o valor máximo será de R$ 400. O estudante de Ciências Sociais Jessé Samá, 22 anos, recebe pouco mais de R$ 700 de auxílio-moradia e permanência, uma concessão para estudantes oriundos de cidades diferentes das sedes dos campi da UFPE. Ele é de Caruaru e veio morar no Recife há cerca de três anos. “Infelizmente, estou pensando em desistir. O jeito é trancar o curso e voltar para casa”, desabafou o jovem, que está no sexto período. Só de aluguel, Jessé paga R$ 380. Sem contar com alimentação e transporte. “Como vou sobreviver? Promessas foram feitas e não serão cumpridas. Ainda vou lutar pelos meus direitos”, disse.
Os alunos de Vitória de Santo Antão, na Mata Sul, e Caruaru poderão receber até R$ 700, se comprovar renda per capita de até R$ 299. De Palmares, também na Mata Sul, Rayná Miranda reclamou que ainda não sabe quanto receberá, porque o recadastramento para a implantação da nova Política de Assistência Estudantil (PAE) não terminou. “O máximo que posso receber é R$ 700, mas não será esse o valor depositado para mim”, avaliou. Hoje, a jovem recebe R$ 1,1 mil, graças a auxílios de moradia, transporte, alimentação e permanência. Ela acredita que o montante será reduzido para R$ 300. “Terei que desistir. Prestes a terminar o curso e ter que abandonar por falta de planejamento da universidade.”
JUSTIFICATIVA – Reduzir contratos terceirizados, diminuir o teto de bolsas e auxílios estudantis e mobilizar uma campanha de redução de energia elétrica estão entre as metas deste ano para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O pró-reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças (Proplan), Thiago Galvão, destacou que, além dos R$ 32 milhões destinados à assistência, em 2015, a UFPE colocou mais de R$ 16 milhões além do previsto. Segundo ele, a Universidade tem o segundo maior orçamento previsto em Lei Orçamentária Anual (LOA) das Instituições Públicas de Ensino Superior para o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), ficando atrás apenas da UFRJ.
Questionado sobre uma possível evasão na universidade após os cortes, Galvão afirmou que o abandono vai além do pagamento de bolsas estudantis. “Se os estudantes concluíssem o curso por causa de benefícios ofertados a eles não tínhamos índice de evasão”, enfatizou, acrescentando que, apesar das dificuldades que os alunos vão enfrentar, em compensação, outros estudantes que não ganham nada vão passar a receber o auxílio. “Não houve corte de benefícios, mas o estabelecimento de um teto para a concessão. Tudo é uma questão de necessidade para a nova conjuntura orçamentária”, explicou Galvão.
Folha de Pernambuco
Foto: Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco