Repelentes naturais são mitos, alertam especialistas

Os supostos poderes de repelentes naturais contra o mosquito Aedes aegypti ligados ao extrato de própolis fizeram essa substância vender “como água” nas farmácias do Grande Recife. O NE10 entrou em contato com cinco estabelecimentos e em todos a procura aumentou de maneira tão inesperada que o produto acabou faltando nas prateleiras.

Recentemente, em meio às epidemias de dengue, chicungunha e zika vírus, notícias foram veiculadas sugerindo que ingerir doses diárias dessa substância seria indicado para evitar picadas dos mosquitos. No entanto, especialistas negam que esta relação tenha sido cientificamente comprovada. O biólogo, especialista em entomologia (ciência que estuda os insetos), André Freire Furtado explica que há muitos mitos circulando, no entanto a eficácia de tais produtos não foi confirmada ou totalmente descartada.

De acordo com ele, que também é pesquisador do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (Fiocruz PE), a teoria de que o suor humano e o uso de perfumes atrairiam o mosquito não procede. “Há muita balela por aí. A cultura popular aqui acolá pode até funcionar, mas cada organismo tem sua reação. Não há nada comprovado cientificamente. A única certeza é que os repelentes aprovados pela Anvisa são confiáveis, mas mesmo assim não agem por mais do que duas horas”, comentou o especialista.

Outra teoria popularizada é de que a ingestão de alimentos ricos em vitaminas do complexo B também agem como repelentes naturais. Segundo os ditos populares, as pessoas que reforçam a alimentação ou ingerem suplementos vitamínicos com esse nutrientes tendem a transpirar um cheiro – notado apenas pelos mosquitos – que não agrada o vetor das arboviroses. Porém a nutricionista Sylvia Lobo nega que haja qualquer estudo que comprove essa informação.

“Pode ser que dê certo em um organismo e não dê em outro. Não é uma regra, por isso não dá para sugerir essa tática para todos. O certo é que o excesso de qualquer coisa, mesmo de vitaminas, não é saudável para o organismo”, comentou a nutricionista. Ela ainda falou da teoria do própolis: “Não sabemos se ele é um repelente natural, mas é certo que ele aumenta a imunidade do nosso corpo, por isso não fará mal incluir na dieta.”

O alergologista José Ângelo Rizzo explica que enquanto não há comprovações científicas sobre outras formas de repelir o mosquito Aedes aegypti, a indicação é usar o repelente tradicional como proteção. “Tenho pacientes que têm alergia à picada de mosquitos. Costumo orientar a usarem repelente, colocar telas e mosquiteiros, ligar o ar-condicionado. O repelente deve ser reaplicado a cada duas horas e outra tática é usar roupas claras e com mangas compridas. O resto eu não tenho informação se realmente funciona”, finalizou o médico.

Embora diversas táticas já aplicadas no dia a dia da população já tenham sido desmistificadas, uma pesquisa da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais e da Fundação Ezequiel Dias (Funed) atestou a eficiência do uso dos óleos de orégano e de cravo para matar as larvas do mosquito Aedes aegypti. O estudo é um desdobramento de outra pesquisa mais ampla, que testa o uso de produtos naturais para combater diversos tipos de vírus.

“Nesse cenário preocupante em relação ao vírus da dengue, nós decidimos começar a estudar também plantas que pudessem eliminar o vetor”, acrescentou a pesquisadora Alzira Batista Cecílio, envolvida no estudo, em entrevista à Agência Brasil. O próximo passo desta descoberta é desenvolver uma fórmula para um larvicida baseado nos óleos de orégano e cravo. Depois de pronto, o produto será colocado à disposição do mercado.

Informações do NE10

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