Consumidor deve ficar atento à compra de veículos no começo do ano

Segmento terá aumento médio de preço de 5,8%, previsto para entrar em vigor a partir da segunda quinzena deste mês
AGÊNCIA BRASIL – O ano de 2015 definitivamente é para ser esquecido pela indústria automobilística brasileira. Os dados apresentados nessa quarta-feira (6) pela Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontaram uma redução nas vendas de veículos novos de 26,5% no ano, com 2.569.014 de emplacamentos em 2015, abaixo dos 3.497.805 registrados em 2014. Antes disso, o pior resultado foi registrado em 1987, período de outra recessão cujas vendas caíram 33,1%. Reflexo da estagnação da economia, o setor espera dias melhores neste ano, mas isso é algo improvável, ao menos para algumas das montadoras.

Quem desejava trocar ou comprar um novo carro este ano tem opções distintas, mas um ponto-chave é opinião unânime entre as concessionárias: é preciso pesquisar. E rápido. O setor aguarda um novo aumento de preços que deve entrar em vigor a partir da segunda quinzena deste mês. Resta ao consumidor avaliar as possibilidades de modelos, alinhar o desejo de compra ao já apertado orçamento mensal, corroído pela inflação de dois dígitos, ou partir, se for o caso, para um seminovo.

Embora alguns dirigentes de montadoras apontem um aumento de até 15% no valor dos carros zero até o fim deste ano, a previsão do mercado aponta uma elevação média de 5,8%, estimativa semelhante para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Há quem defenda uma subida de 5,4%, abaixo dos 8,4% cogitados para o índice geral. No cenário positivo mais recente, os preços caíram cerca de 5%, em 2012, ainda com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), benefício cortado pelo governo federal em outubro de 2014.

A preferência de alguns consumidores tem sido, diante do quadro negativo do setor, pela linha 2015. O comerciante Alexandre Bóris Borinecico, 45, é um dos que busca um veículo seminovo, modelo HB20 (3º mais vendido em 2015, com 99.170 unidades comercializadas, segundo a Fenabrave). Segundo ele, a ideia era comprar um carro zero 2016, mas diante da economia estagnada, os planos mudaram. “Pretendo pagar um valor máximo de R$ 33 mil em um modelo 2014/2015. Para fechar negócio, é preciso barganhar, pesquisar muito as condições e avaliar o custo-benefício do modelo, entre as várias montadoras. Ganha quem pesquisa mais”, afirmou.

Em uma das concessionárias da montadora Hyundai, na Zona Sul do Recife, a reportagem do Diario constatou que, embora a economia atravesse um momento crítico, a procura neste início de ano tem sido grande. Há, inclusive, unidades 2015 em estoque. O gerente da concessionária, Samuel Miranda, acredita em um aumento médio de preços de 6%. Mesmo com a estratégia ousada das montadoras, deixando o veículo mais caro quando o consumo se retrai, o desemprego assusta a classe trabalhadora e o crédito fica mais restrito, ele vê um cenário positivo. A Hyndai terminou 2015 com 8,1% de participação no mercado e deve turbinar esse percentual este ano.

“O que é crise para uns, pode se tornar oportunidade para outros, entre montadoras e consumidores. No caso das fabricantes, carros confortáveis que aliem garantia mais longa, design e bom valor comercial podem diminuir ou elevar as vendas. Com preço competitivo e custo-benefício acessível, algumas montadoras devem crescer”, aponta Miranda. Questionado sobre a escolha entre modelos zero km e seminovos, ele é enfático. “O usado tem a vantagem de ter o preço inferior, mas os juros do financiamento são, em média, 10% maiores que no zero quilômetro”, alerta.

Condições e avaliação
Aos indecisos que ainda não escolheram uma alternativa para aposentar o antigo carango, resta avaliar o mercado e pesquisar. Ainda mais considerando o cenário econômico atual, cuja previsão para 2016 é desanimadora. Para o economista Marcelo Barros, o consumidor deve ficar atento às ofertas, mas principalmente ao orçamento e a possíveis alterações no padrão já acostumado do veículo que tem.

“Entramos em um novo ano herdando uma crise econômica com inflação em dois dígitos e o fantasma do desemprego assombrando os trabalhadores. Esses itens, por si só, são determinantes na hora da escolha. Quando se trata de um bem durável, como um veículo, é necessário avaliar as taxas de juros, o tempo de financiamento e as condições de pagamento. Além disso, o consumidor pode recorrer a modelos com atrativos interessantes sem estarem classificados na categoria ‘top’. Essa calibragem entre avaliação e necessidade pode definir uma boa compra”, explicou Barros.

Quem quiser comprar um Hyundai zero quilômetro ano 2015 vai encontrar um tempo de financiamento de até 48 meses. A taxa de juros é zero, mas dependendo do modelo o comprador terá de desembolsar até 75% do valor veículo. “Quanto mais prazo, maior é o custo subsidiado pela montadora, daí a diferença no montante da entrada”, destaca Samuel Miranda. A reportagem também pesquisou condições em outras concessionárias do Recife.

A Ford, que ficou em 5º lugar no ranking dos mais vendidos em 2015 (modelo Ka, com 83.403 unidades vendidas), também oferece vantagens. Na Ford América, na unidade da Avenida João de Barros, Zona Norte do Recife, a linha 2016 está concedendo ao comprador taxa zero em até 30 meses. No entanto, não há mais modelos 2015 em estoque. “Os que haviam já foram faturados até dezembro passado. O consumidor deve pesquisar, até por que veículos usados nunca apresentam taxa zero de juros”, ressaltou Renato Melo, gerente da unidade.

A General Motors (GM), cujo modelo Onix foi o campeão de vendas em 2015, com 110.819 carros vendidos, é outra montadora que recorreu a promoções. Em uma concessionária pesquisada, a reportagem apurou que restam apenas cinco unidades 2015 em estoque (de modelos não informados). Para quem deseja adquirir um zero quilômetro 2016, a montadora oferece preço de 2015. No financiamento de 18 ou 24 meses, dependendo do modelo, a taxa de juros é zero com entrada de 60% do valor do veículo.

Programa
Com o cenário desanimador do segmento, o governo deve anunciar ainda em janeiro a assinatura de um decreto que estimule a venda de veículos novos em 2016. A informação foi confirmada ontem pela Fenabrave. Alarico Assumpção, presidente da associação deu alguns detalhes do possível pacote. “São 19 entidades do setor automotivo que estão discutindo com o governo um novo programa de renovação de frota, que deverá se chamar Programa Sustentabilidade Veicular, e o anúncio deverá ser feito no decorrer deste mês”, disse. Segundo ele, há um “compromisso verbal” para a implementação dessa medida. O setor automotivo teve seu auge em 2012, quando vendeu 3,8 milhões de unidades. À época, o mercado ainda contava com a redução do IPI, medida que tornou os veículos mais baratos e estimulou o consumo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *