Desabafo de Deivinho Sanfoneiro reflete uma dificuldade vivida por toda a classe forrozeira
Nenhum artista contratado para se apresentar no São João de Pernambuco recebeu cachê do governo do estado dois meses e meio depois dos festejos mais tradicionais da região. A informação confirmada em nota ao Viver pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) revolta os forrozeiros escalados para as apresentações juninas e motiva até cobranças bem-humoradas em forma de música por quem se sente lesado pela demora em receber o dinheiro dos cachê.
“Governador, ajuda a gente / Pois é o forró que deixa o povo contente / Pois desse jeito já não dá / Olhe, governador, eu tenho contas pra pagar”, diz o trecho da música Ajude o artista, composta por Daivinho Sanfoneiro, 30, de Carpina, e publicada por ele nas redes sociais (veja o vídeo abaixo) no começo do mês.
O comentário no vídeo também critica valores destinados às atrações de fora do estado e credita a diferença a uma desvalorização dos artistas locais. “Acredito que é uma forma de fazer protesto sem ofender ninguém e expondo as necessidades da classe artística”, comenta o músico, que se chama Deivson Barbosa e toca acordeon há 15 anos. “O artista popular ama viver da sua arte e está cada vez mais difícil se manter desta forma sem o comprometimento do poder público”.
A nota da Fundarpe se limita a informar o não pagamento e a estimar o próximo mês como prazo final para a quitação dos débitos junto aos artistas: “Não pagamos ainda o São João. Nossa expectativa é que possamos concluir os pagamentos até outubro”.
Forrozeiros tradicionais da região ouvidos pela reportagem do Viver só aceitaram falar sem revelar a identidade. Eles confirmaram o calote, se queixaram da demora e disseram ter obtido como justificativa por parte dos representantes dos órgãos públicos “uma dificuldade do estado de arrecadar dinheiro para quitar a dívida”.
O anúncio das atrações do São João deste ano já previa dificuldades orçamentárias para tocar a festa. A verba destinada à contratação de artistas em 2015 foi reduzida de R$ 12 milhões (2014) para R$ 8 milhões – mas o governo sinalizou com a preferência pelos artistas pernambucanos ou radicados no estado.
O problema de pagamento de cachê é constante nas festas públicas promovidas no estado. Atrações locais do carnaval se queixam com frequência de não pagamento da remuneração pelas apresentações – tanto em nível municipal quanto estadual. A burocracia é, em geral, apontada pelos dirigentes de órgãos públicos como a principal dificuldade para quitar em dia as pendências.