Dia 13 de agosto, uma data duplamente triste para os pernambucanos

Arraes se foi em 2005; Eduardo, em 2014. Ambos, no mesmo dia: no fatídico e triste 13 de agosto.

Avô e neto marcaram política pernambucana e brasileira. (Foto: Arquivo/ABr)
Avô e neto marcaram política pernambucana e brasileira. (Foto: Arquivo/ABr)

Há exatos dez anos, cerca de 80 mil pessoas se dirigiram ao Palácio do Campo das Princesas, no Recife, para prestar a última homenagem ao ex-governador Miguel Arraes, que havia falecido, vítima de uma infecção pulmonar. Dezenas de caravanas partiram do campo para acompanhar, até então, o maior velório já realizado na história do Estado. No cemitério, já no dia 14, as imagens dos camponeses com chapéus de palha, foices e arados na mão, comoveram os que conheciam a trajetória de Miguel. Uma homenagem digna do homem que era conhecido como Pai Arraia, o pai dos desvalidos. No ano passado, no mesmo dia, o destino reservava mais uma perda para os familiares do ex-governador Eduardo Campos, neto de Arraes, morto em um acidente aéreo, em Santos. A notícia chocou o povo pernambucano, que também compareceu em massa ao funeral, realizado quatro dias depois, em 17 de agosto. A cerimônia, marcada por muita comoção e dor, reuniu 160 mil pessoas nas ruas do Recife, entrando mais uma vez na história. Novamente o Estado parava para reverenciar seu líder.

Miguel Arraes, que exercia o mandato de deputado federal, em 2005, faleceu depois de 59 dias internado no Hospital Esperança, após um choque séptico, causado por infecção respiratória, agravada por insuficiência renal. Com a notícia, o então presidente Lula (PT) decretou luto oficial de três dias e viajou ao Recife, para acompanhar o funeral daquele que classificou como “uma das maiores lideranças das lutas populares que marcaram a segunda metade do século 20 no Brasil”.

O vice-governador do Estado na época, Mendonça Filho (DEM), também decretou luto oficial de três dias. Ele disponibilizou a estrutura do Estado para que a família de Arraes pudesse prestar as homenagens. O então governador, Jarbas Vasconcelos, havia viajado para a Coreia, de onde enviou uma nota de pesar. “Miguel Arraes abriu espaço para os movimentos populares, com a inversão das prioridades da gestão pública. Seu desaparecimento é uma grande perda para a política nacional”, ressaltou.

Sob o grito “Arraes, guerreiro, do povo brasileiro”, milhares de trabalhadores rurais presenciaram a cerimônia de despedida, no Palácio do Campo das Princesas. Uma delas, enviada pelo então presidente de Cuba, Fidel Castro, chamava a atenção dos presentes. A cerimônia também contou com a presença de José Serra (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB), Dilma Rousseff (PT), que era ministra da Casa Civil, Cristovam Buarque, José Dirceu e do cantor Caetano Veloso.

Eduardo

A morte do ex-governador Eduardo Campos, no ano passado, também gerou grande comoção popular. Com o impacto da partida precoce do socialista, em plena campanha presidencial, cerca de 160 mil pessoas ocuparam as ruas do Recife, numa grande demonstração de afeto e respeito pela sua trajetória.

Os restos mortais de Eduardo Campos chegaram ao Aeroporto dos Guararapes no dia 16 de agosto. Colocado em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros, o caixão seguiu para o Palácio do Campo das Princesas, com os filhos do socialista, que bradavam gritos de “justiça” e eram seguidos por milhares de pessoas. Em frente à sede do governo, cidadãos de todas regiões do Estado, dividiam o lamento da partida.

Ao todo, 185 prefeituras pernambucanas organizaram transportes para os moradores. Muitos deles percorreram até 800 quilômetros para presenciar as cerimônias. Homens, mulheres, crianças e idosos portavam bandeiras, cartazes e camisetas de campanha, com fotos de Eduardo Campos e Miguel Arraes. A multidão estarrecida repetia os gritos entoados na despedida de Arraes: “Eduardo Guerreiro, do Povo Brasileiro”.

O ex-presidente Lula e a presidente Dilma voltaram ao Recife para mais um velório. No entanto, ao contrário do que aconteceu no velório de Miguel Arraes, os dois foram vaiados pela população. Eduardo Campos havia se distanciado do PT desde 2013, para concorrer à presidência da República.

Novamente, Geraldo Alckmin e José Serra viajaram ao Recife para acompanhar a despedida. O senador Aécio Neves (PSDB), que concorria à presidência e recebeu o apoio do PSB no segundo turno, também compareceu ao velório. A então candidata à vice de Eduardo, Marina Silva (Rede), fez questão de permanece ao lado dos filhos e familiares de Eduardo, durante sua passagem pelo evento.

Homenagem

Último espaço ocupado pelo ex-governador Eduardo Campos antes de assumir o comando do Palácio das Princesas, a Câmara dos Deputados prestou homenagem ao líder, nesta quarta-feira (12), na véspera da data do trágico acidente que tirou a vida do socialista. A solenidade contou com a presença da família do ex-gestor e lideranças nacionais do PSB. Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira fez o discurso mais político ao afirmar que o ex-governador não estaria apoiando iniciativas antidemocráticas e anti-sociais. Nos últimos meses, o Congresso Nacional vem sendo lembrado pelo perfil mais conservador imposto pelo novo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“Eu sei onde Eduardo não estaria agora. Ele não estaria apoiando qualquer iniciativa que reduzisse direitos, que fosse antipopular, anti-social ou antidemocrática”, destacou. Filho mais velho do líder socialista, João Campos fez discurso pregando a unidade das forças políticas. “O que faria Eduardo hoje? É a pergunta que muitos se fazem. Ele diria que não deixasse de acreditar na força e capacidade do povo de vencer desafios, que não perdesse a esperança e não deixasse que o desânimo crescesse”.

Em seu discurso, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmou que o socialista era um quadro em ascensão, que não tinha vergonha da política e defendia o diálogo para ultrapassar as dificuldades do País. “Certamente ele ascenderia em outro momento pela sua obstinação, pela sua perspicácia, pela sua competência e pelo seu posicionamento de buscar melhorar a política, para melhorar o Brasil”, disse.

Sucessor de Eduardo Campos no comando do Palácio das Princesas, o governador Paulo Câmara (PSB) ressaltou a atuação do padrinho político nos seus três mandatos como deputado federal e a importância da passagem pela Casa na formação do ex-gestor. Os feitos à frente do Executivo estadual, também foram lembrados pelo apadrinhado. “Isso tem feito a diferença para continuarmos com a cabeça erguida; com vontade de fazer aquilo que ele queria que nós fizéssemos.”

Além de Câmara, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), a ex-primeira-dama Renata Campos e os seus filhos Maria Eduarda, Pedro, José e Miguel; e a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes – mãe do ex-governador – também acompanharam a sessão da Mesa Diretora da Câmara. No encerramento, um grupo de jovens entrou no plenário lembrando que Eduardo era contra a redução da maioridade penal, que já foi aprovado em 1º turno pela Casa.

Folha de Pernambuco

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