O Natal para cada religião

Qual o sentido do Natal? A pergunta pode ser respondida com várias explicações na linguagem das mais diversas religiões. Para algumas, não existe nenhuma festividade relacionada. Para outras, a celebração do nascimento de Jesus Cristo. Há, inclusive, as que falam de gratidão. Mas no imenso universo de possibilidades, é possível encontrar uma intersecção: o respeito.

Por mais que o Natal, atualmente, esteja intimamente vinculado à troca de presentes entre familiares e amigos, luzes espalhadas pela cidade e árvores, a espiritualidade, para algumas pessoas, é o principal da festa. Quando não existe aproximação religiosa, então, é o momento de celebrar os semelhantes, mesmo que de diferentes crenças.

Jesus Cristo, Messias, Oxalá, Buda. Dentro da particularidade de cada religião, todos são tratados como luz. A celebração, até mesmo para quem não tem fé, tem significado: a família. A Folha de Pernambuco ouviu quatro religiosos de diferentes crenças e todos ressaltaram a importância do resgate ao espírito natalino e a celebração familiar.

Católicos

Árvores recheadas de presentes, adereços natalinos espalhados por toda a casa e um farto jantar com a família. De todo esse roteiro, seguido por grande parte dos católicos, o mais importante é a celebração do nascimento de Jesus Cristo. Na casa do professor de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) Benjamin Gomes é o momento mais importante da noite. “A sociedade contemporânea matou a celebração do Natal, priorizando luzes, pisca-pisca, fogos, árvore bonita. Para os cristãos, o mais importante é se reunir com a família para celebrar o nascimento de Jesus”. Benjamin, que já estudou para ser padre, mantém o hábito de ir a missas nos dias de Natal. Comungar, para ele, é fundamental. Somente depois desse rito, o professor volta para casa e celebra junto à família. “As quatro semanas antes do Natal a igreja chama de período do advento, que o cristão deve se preparar para a chegada de Jesus Cristo, que é a luz do mundo. Faço muita questão da eucaristia e da celebração familiar. Seria uma coisa linda se as famílias se reunissem para ler o evangelho sobre o nascimento de Jesus e, quando terminassem, fizessem reflexão para os dias de hoje”, disse.

Judeus

Foto: Marina Mahmood/Folha de Pernambuco
No judaísmo não existe Natal. As religiões cristãs comemoram o nascimento do Messias, o que ainda não aconteceu para os semitas. Em dezembro é comemorado o Chanuká, a Festa das Luzes, que celebra a retomada do templo de Salomão, depois de ter sido profanado pelos gregos, ainda na Antiguidade. Após a revolta judaica, os judeus decidiram limpá-lo das impurezas que aconteceram. Nesse momento, aconteceu o milagre celebrado. “No templo existia um candelabro (chanukiá) que representava a presença divina. Ele teria que permanecer aceso por oito dias, com azeite puro e consagrado. Mas não havia tempo para essa preparação. Os herois da festa encontraram um frasco de azeite, que era para durar apenas um dia, mas durou oito”, explicou o judeu Marrano, Nuno Gomes. Esse milagre foi entendido como a prova da manifestação divina. Por isso, durante oito dias, uma vela do candelabro é acesa. Que remete à religiosidade e ao orgulho judaicos. Mesmo sem relação entre o Natal e a Festa da Luz, nada impede que famílias mistas celebrem a ceia natalina. “Há muitos judeus que são casados com não judeus e há um respeito e aproximação. Alguns participam do Natal não no sentido religioso, mas da confraternização familiar. Religiosamente os judeus não participam do Natal”, disse Gomes.

Evangélicos

Foto: Marina Mahmood/Folha de Pernambuco
“O maior significado do Natal, para nós, é o nascimento de Jesus”, resumiu o pastor da igreja presbiteriana do Pina, Daniel Chagas. Por isso, a data serve como reflexão sobre a mensagem deixada na história. A véspera do Natal, quando a ceia é realizada,  para o pastor serve apenas como um momento para a aproximação e celebração familiar. Para ele, o significado do Natal vai muito mais além do que os adereços e presentes distribuídos entre familiares. “Em todos os apelos natalinos, muitas vezes, vemos famílias que desmontam a árvore, o presépio e guardam em caixas empoeiradas. Depois, no outro ano, trazem de volta a figura do Cristo na casa. Isso, para nós não é o verdadeiro sentido do Natal. O Cristo, para nós, é o Cristo vivo, quando vivemos com ele todos os dias”, disse. O pastor ressaltou a beleza estética dos adereços adotados nessa data. Mas também para ele, o Natal é mais grandioso que isso. “No dia 25 celebramos o Natal nas nossas igrejas, com cantatas e corais que se preparam para essa hora. O culto é voltado para uma mensagem do Cristo que veio entre nós. Este é o momento de celebrar o nascimento daquele que veio e é a razão da nossa existência, da nossa fé”, explicou.

Umbandistas

Foto: Marina Mahmood/Folha de Pernambuco
“Para Umbanda, o Natal é um símbolo de grande luta. São os filhos cobertos pela grandiosidade de Nossa Senhora, que sempre protegeu seu filho para lhe salvar”, disse Mãe Graça Costa, umbandista do Centro Espírita Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A ligação entre os Orixás da Umbanda e os santos católicos é muito forte, já que, pelo sincretismo religioso, os negros conseguiram dar continuidade a sua espiritualidade e ancestralidade. Mãe Graça explicou que essa é a motivação que torna o Natal um período de gratidão, pois os santos católicos protegeram os Orixás no passado. Como não poderia ser diferente, a véspera do Natal é celebrada junto aos familiares, mantendo uma tradição, inclusive, que era do seu pai, umbandista e criador da casa. “No dia 25 faço a celebração aqui na minha casa. Quando louvo “ó Jesus e Maria, José,” digo que é o momento em que Nossa Senhora cobria o filho para que ele se salvasse e eu faço minha oração pedindo por todas e todos, que estão precisando”, afirmou. Essa oração, no entanto, só pode ser realizada pela Mãe Graça, já que carrega a responsabilidade da missão espiritual que herdou do pai.

Folha de Pernambuco