Um dos maiores estadistas do Brasil, o “pai dos pobres”, o trabalhista, o ditador. Faz exatamente 60 anos, neste domingo, que uma das figuras mais complexas da política brasileira deixou esta vida para entrar para a história. Getúlio Vargas, presidente da República por quatro mandatos, porém, eleito democraticamente somente para um, foi amado e odiado, mas no fim, pondo fim à própria vida, conseguiu, sozinho, mudar o curso da história.
Uma das marcas mais vivas de Vargas é a do gestor que deu direitos aos trabalhadores brasileiros. De fato, houve um avanço social significativo durante o período em que ele esteve no poder. Foi entre 1930, ano da revolução que colocou Vargas no comando do Brasil pela primeira vez, e 1945, data da sua deposição, após a ditadura do Estado Novo, que a maior parte das leis trabalhistas foi formulada e os maiores avanços nesta área também, como o salário mínimo, descanso semanal, farias remuneradas e redução da carga horária para oito horas diárias.
Foi no seu governo que se fez a Consolidação das Leis Trabalhistas, a conhecida CLT, que reúne todas as normas da área. Getúlio também era um grande defensor da economia nacionalista e foi o responsável por um conjunto de ações estruturadoras que possibilitaram o desenvolvimento da indústria no Brasil. Seu objetivo era tornar independente a economia brasileira. Visando proporcionar essa infraestrutura para o desenvolvimento industrial, Vargas criou, já no governo democrático, duas forte estatais no setor energético: a Petrobras e a Eletrobrás.
A herança do modo de governar “getulista” curiosamente foi herdada pelas forças de esquerda do Brasil. Curioso, porque Getúlio era, em princípio, um ditador com inclinações fascistas, que perseguiu, torturou e matou muitos comunistas durante o Estado Novo. Seu legado e, principalmente, as circunstâncias da sua morte fizeram o Getúlio ditador ficar no passado. “Ele é a figura a quem se associa a proteção social, dos direitos dos trabalhadores, a previdenciária. É também a referência do que se costuma chamar de nacionalismo econômico. A essência desse legado de Vargas hoje pode ser identificada nas propostas e governos dos partidos mais à esquerda”, avaliou o historiador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Flávio Weinstein.
Segundo ele, as forças políticas que trazem um sentimento econômico mais liberal e que encaram a legislação trabalhista como um entrave ao desenvolvimento são também aquelas que normalmente fogem desse legado getulista. “Esse grupo que fala em flexibilização das leis trabalhistas, tornando mais fácil contratar e demitir, reduzindo os custos com a remuneração de pessoal, no geral, tem verdadeiro horror à herança de Vargas”, explicou.