Clubes, FPF e seguradora lucram com brecha na lei do Todos Com a Nota

Programa do governo do estado vira “muleta” para equipes do Pernambucano

No último dia 23 de março, o Vitória, já rebaixado para a Série A2 do Estadual, recebeu o Pesqueira, livre do risco de queda, no estádio Carneirão, pela última rodada do hexagonal da morte. Na bilheteria, nenhum dos 300 ingressos colocados à venda por R$ 10 foi comprado. Mesmo assim, a partida rendeu aos cofres do clube de Vitória de Santo Antão R$ 25.200. Tudo graças aos 4 mil ingressos do Todos com a Nota, registrados no borderô da Federação Pernambucana de Futebol (FPF). Apesar das arquibancadas estarem praticamente às moscas.


O caso, apenas mais um entre os vários públicos “fantasmas” verificados pelo Superesportes ao longo da competição, ajuda a ilustrar o desvirtuamento do objetivo inicial do programa governamental. Se em 1998, a justificativa para a sua criação era ajudar a levar o torcedor de baixa renda aos estádios, agora o TCN virou uma espécie de “muleta” financeira dos clubes intermediários, independentemente da presença de público. O que, indiretamente, também acaba beneficiando terceiros. Entre eles, a própria FPF.

A reportagem analisou os borderôs de todos os 132 jogos realizados até agora no Estadual e verificou o quanto o campeonato é dependente do dinheiro público. Dos pouco mais de R$ 6,2 milhões arrecadados ao longo da competição, R$ 4,5 milhões vieram do Todos com a Nota – 72,3% do total. Por conta da taxa de 8% cobrada pela FPF em cada partida, a entidade faturou pouco mais de meio milhão de reais com as rendas do Estadual, sendo que R$ 363 mil saíram dos cofres do estado. Vale lembrar que, no contrato assinado entre clubes, Federação, e governo, cada agremiação recebe o valor referente a cada bilhete trocado (interior) ou reservado (capital) do TCN. Nada é falado com relação à presença do torcedor. É a brecha.

Mesmo com os estádios vazios na maioria das partidas, pouco mais de 621 mil ingressos do Todos com a Nota foram registados pela FPF. E, por cada um, é descontado R$ 0,12 referente à taxa do seguro obrigatório. Com isso, o erário público pagou um total R$ 74,5 mil para a seguradora contratada pela FPF. A maior parte desse valor para garantir a segurança do torcedores que não estavam nos estádios.

Ao contrário dos jogos no Recife, nos quais a reserva do Todos com a Nota é feita individualmente por telefone e o torcedor usa um cartão magnético, no interior a troca ainda é feita manualmente, com o vale cidadão. O que facilita a falta de controle, segundo a própria coordenadoria do programa. O reflexo disso está nos borderôs dos jogos dos clubes intermediários.

No hexagonal do rebaixamento todos os ingressos do TCN, em todas as partidas, foram trocados. Ao mesmo tempo, cinco jogos não tiveram um ingresso sequer vendido nas bilheterias. Com isso, enquanto a receita do Todos com a Nota chegou a R$ 756 mil (R$ 126 mil por clube), a obtida com os bilhetes vendidos foi de apenas R$ 12.433.

Federação

Procurado pelo Superesportes, o presidente da FPF, Evandro Carvalho, disse que todas as medidas tomadas pela entidade são amparadas pela lei. Assim, a existência de públicos “irreais” não é ilegal.  “A lei foi feita para pagar pela troca, não pela presença em campo. Pela lei de licitação, o governo não pode vender ingresso. Por isso ele compra o lote todo. Isso não pode mudar. A não ser que se acabe o programa”, argumentou.  Ainda de acordo com o dirigente, a cobrança do seguro é legal. “É obrigação cobrar o seguro. Eu não posso ir de encontro à lei.”

Informações do Superesportes