Campanha eleitoral está na cara e “ninguém vê”

Faltando ainda mais de cinco meses para a realização das eleições nacionais e estaduais deste ano, o cidadão minimamente informado não consegue, nem se quiser, esquecer esse fato. Nas redes sociais, sites de notícias e blogs, além, é claro, da mídia impressa e das rádios e canais de TV, não se fala de outra coisa. Apesar de, oficialmente, a campanha só começar em 6 de julho, já estão estampados, para quem quiser ver, quais são os nomes dos postulantes e que linha eles seguirão, até as propostas de um futuro programa de governo já estão colocadas para o eleitor. Tem até adesivo com número circulando em vidros de automóveis.

Toda essa publicidade, que inclui também a movimentação dos chamados pré-candidatos, que viajam o Estado inteiro (e no caso dos candidatos federais, o País), realizando palestras, debates, encontros de partidos com a população, antecipa o processo eleitoral e gera dúvidas sobre a licitude de tanta exposição. Neste momento – que se convencionou chamar de pré-campanha -, é possível identificar irregularidades evidentes, inclusive noticiadas na Imprensa, mas quase não se tem notícias sobre denúncia ou punição efetiva.

A fiscalização dos passos daqueles que já colocaram seus nomes na disputa eleitoral é praticamente nula e parece existir uma espécie de acordo implícito entre os concorrentes. Ou seja, todos sabem o que acontece e acompanham, inclusive através do setor jurídico de cada legenda, mas não têm interesse de denunciar, uma vez que também têm a mesma prática.

Para o cientista político e professor de Comunicação e Política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Juliano Domingues, esse entendimento entre os “candidatos” e partidos possibilita a continuidade da exposição. “Como todos, ou boa parte deles, adotam a mesma prática, pode-se supor a existência de uma espécie de acordo tácito entre as partes. Em tese, não seria vantajoso para um candidato entrar em conflito com outros concorrentes. Ninguém denuncia ninguém e todos dão continuidade a sua campanha velada, desde que não haja exageros. Caso contrário, esse ‘acordo’ pode vir a ser quebrado por meio de denúncias formais ou informais”, avaliou.

Por Amanda Seabra, da Folha de Pernambuco