Folha de São Paulo
Tradicional parceiro do PT nas disputas nacionais, o PSB anunciou oficialmente na tarde desta quarta-feira (18) a entrega dos cargos que possui no governo Dilma Rousseff, que incluem o ministério da Integração Nacional e a Secretaria de Portos. O partido afirmou ainda que não irá para a oposição, mas que o apoio ao governo no Congresso será discutido caso a caso.
A atitude é uma resposta a recentes ataques do PT e representa o primeiro passo concreto da candidatura presidencial do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, que deve ser oficializada em março.
“Estamos deixando o governo, entregando as funções que ocupamos, para deixar o governo à vontade e para que também possamos ficar à vontade para fazer o debate sobre o Brasil. (…) A decisão sobre candidatura própria é só em 2014, [MAS]o desejo hoje do partido é pela candidatura própria”, disse Campos após o fim da reunião.
A pedido do ex-presidente Lula, com quem conversou ontem para comunicar a decisão, o governador terá nesta quarta-feira uma audiência com Dilma para oficializar o desembarque.
A decisão foi anunciada após reunião de emergência da Executiva do PSB, realizada em Brasília, conforme a Folha antecipou na terça-feira. O desembarque teve o apoio de praticamente todos os membros da Executiva, com exceção do governador do Ceará, Cid Gomes, um dos principais aliados de Dilma dentro da sigla.
Presente na reunião, ele disse considerar “intempestiva” a ruptura, mas afirmou que “assinava embaixo” a entrega de cargos caso essa fosse o entendimento da maioria da legenda. Na votação, entretanto, se absteve por não concordar com a decisão.
O estopim para o anúncio de hoje foi a avaliação da cúpula do PSB ficaria refém de críticas de fisiologismo. O partido considera que o PT e integrantes do governo Dilma são os responsáveis por alimentar noticiário contra o partido, na linha de que o PSB, apesar de ensaiar a candidatura de Campos, não abria mão dos cargos na Esplanada dos Ministérios.
“Estávamos chegando a uma situação que beira a humilhação. É uma decisão madura de um partido que quer discutir livremente sua candidatura, sem ter que ouvir toda semana baboseiras e constrangimentos de integrantes do PT e do governo sobre cargos”, afirmou o deputado Beto Albuquerque (RS), líder do partido na Câmara, segundo quem o governo Dilma está autorizada a demitir todos os ocupantes de cargos federais indicados pelo partido.
Ainda segundo ele, o PSB espera que o PT “seja correto”, aja com reciprocidade e devolva os cargos que possui nos seis Estados governados pelo PSB –Pernambuco, Ceará, Paraíba, Piauí, Amapá e Espírito Santo, . “Amigável ou não, é um divórcio.” Eduardo Campos, porém, afirmou que isso não foi discutido na reunião e que caberá a cada Estado avaliar o seu caso.
O clima entre o PT e o PSB já não era dos melhores havia algum tempo. Na semana passada, Dilma e os integrantes de seu conselho político informal chegaram a discutir a expulsão do PSB da Esplanada, mas Lula acabou conseguindo barrar essa movimentação. Antes Dilma já havia comentado com assessores ter sido uma provocação a foto em que Eduardo Campos aparece, sorrindo, ao lado do oposicionista Aécio Neves (PSDB-MG), outro virtual candidato à Presidência em 2014.
Na reunião, vários socialistas criticaram o ministro Aloizio Mercadante (Educação), apontado com o interlocutor de Dilma nas ameaças de expulsar o PSB da Esplanada dos Ministérios.
Indicado por Campos para o cargo, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, estava na reunião e anunciou a saída do cargo. “Pedirei audiência para a presidenta Dilma para agradecer a possibilidade de servir ao país e dizer que sigo a recomendação do partido. Direi também que fiquei honrado com o apoio do partido e a confiança da presidenta”, afirmou.
Leônidas Cristino (Portos), afilhado de Cid Gomes, está em viagem ao exterior, mas Cid afirmou no encontro que ele também deve sair.
CONGRESSO
Nono partido da Câmara dos Deputados, com 25 cadeiras, e oitavo no Senado, com 4 vagas, o PSB diz agora que discutirá o apoio do partido ao governo no Congresso caso a caso, em uma posição de independência.
“Não vamos de forma nenhuma entregar os cargos e entrar em oposição à presidenta Dilma, vamos continuar dando apoio naquilo que entendemos que é correto. (…) Tudo aquilo que for correto para o Brasil terá o apoio do PSB. Se houver uma coisa relevante que o governo entenda que é preciso a ajuda do PSB, não haverá nenhum problema dialogarmos”, afirmou Campos.
Nos últimos tempos, porém, a posição da legenda já tem sido mais na linha da independência. Na noite de ontem, por exemplo, o partido de Eduardo Campos liberou sua bancada a votar como quisesse na análise do veto da presidente Dilma ao fim da multa de 10% sobre o FGTS pago pelos empregadores ao governo em caso de demissão sem justa causa. O veto acabou sendo mantido pelo Congresso.
Apesar do discurso de independência, o clima na reunião foi de muitas críticas ao PT e a Dilma. “Ela [DILMA]é uma excelente figura humana, mas é uma péssima política. Ela era é a tal ‘gestora’, mas tal gestora está vendo que gestão política, uma coisa não bate com a outra. Mas é até injusto cobrar dela. É aquela coisa, bananeira não dá laranja”, disse o deputado federal Márcio França (SP).
De acordo com a última pesquisa do Datafolha, Campos tem 8% das intenções de voto no cenário mais provável hoje, contra 35% de Dilma.