Déficit de chuvas fez a safra cair em 25%. Se a estiagem persistir, a previsão é de desemprego
Alexandre Gondim/JC Imagem
Alexandre Gondim/JC Imagem
A paisagem da Zona da Mata pernambucana já não é a mesma. Os vales cobertos pelo verde da cana-de-açúcar ganharam um tom acinzentado. A seca, que há 2 anos castiga o Agreste e o Sertão, também deixou seu rastro na região tradicionalmente mais chuvosa do interior do Estado. A safra 2012-2013 encolheu 25% e provocou um prejuízo de R$ 700 milhões. A estiagem prolongada prenuncia problemas para a próxima safra. No primeiro trimestre deste ano choveu apenas um quarto do previsto e as raízes da cana morreram antes da planta germinar. Se o cenário persistir, a estimativa é de uma redução de até 14 mil postos de trabalho (equivalente a 15,5% dos empregos) na atividade sucroenergética.
O presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool em Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, alerta que esta é a maior seca vivida pelo setor nos últimos 50 anos. Na safra 2012-2013 foram produzidas 13,1 milhões de toneladas de cana, na comparação com as 17,4 milhões de toneladas da moagem anterior. “Chegamos a ter um volume menor na safra 1993-1994, quando a produção atingiu 12 milhões de toneladas, mas naquela época o potencial produtivo era muito menor. Hoje trabalhamos com um ponto de equilíbrio de 19 milhões de toneladas”, observa. “Anos seguidos de seca poderão configurar grandes perdas para a atividade, com a diminuição de 14 mil empregos, num setor que gera 90 mil”, destaca.
Nessa época do ano, os produtores de cana já deveriam estar adubando as terras para iniciar a colheita no segundo semestre. Com a seca, as raízes (socarias) estão morrendo e inviabilizando a produção em algumas áreas, mesmo que as chuvas caiam nos próximos meses. “A planta tem vida média de seis safras, mas com o déficit hídrico a cana não brota mais e é preciso investir em um novo plantio. Em função disso, as perspectivas são pessimistas para a próxima safra”, explica o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), Alexandre Andrade Lima. A estimativa é que a redução na safra 2013-14 seja de 15%.
Os índices pluviométricos ficaram muito abaixo das médias históricas. Na Zona da Mata Sul (a mais chuvosa), o nível baixou de 2.221 para 1.118 milímetros. Na Mata Norte passou de 1.686 para 821 milímetros. O déficit diminui a produtividade da cana-de-açúcar de 62 para 47 toneladas por hectares. Na safra que se encerrou em março, a produção de açúcar minguou 18% e a de etanol foi reduzida em 30%.
O prejuízo da atividade produtiva também se reflete em problema para municípios dependentes da atividade sucroenergética, que se distribui por 50 cidades. Em Vicência, na Zona da Mata Norte, o prefeito teme o desemprego. “A Usina Laranjeiras é a maior empregadora da cidade (2.966) e em segundo lugar está a administração municipal”, diz Paulo Tadeu Guedes. A produção de cana e de banana são as principais atividades econômicas do município, de 30.500 habitantes que decretou estado de emergência por conta da estiagem.
Responsável pela área jurídica da Usina Laranjeira, Maurício Fernandes, diz que a perda de produção na última safra foi de 35%.
A indústria é uma das poucas que resistiram na Mata Norte, que já chegou a ter 17 estabelecimentos. A Laranjeiras compra cana a 524 fornecedores de 25 municípios da região. “Se continuar o desastre que está, a tendência é o setor demitir porque não tem como manter os custos. Isso sem falar que o preço do açúcar não reage”, diz.
O fornecedor de cana Marcelo Oliveira da propriedade Chão do Fogo, em Vicência, diz que a produção vem escasseando nos últimos anos por conta da seca. “Fiz 7 mil toneladas na safra 2011/12, depois a produção caiu para 5 mil e este ano estou esperando 3,5 mil tonelada. Já demiti oito dos 13 funcionários que tinha”, lamenta.