Parentes de Iury, executado na Funase de Abreu e Lima, vão lutar para que o Estado seja responsabilizado.
A família de Iury Wilker Vieira de Lima, 16 anos, vai lutar para que o Estado seja punido pelo assassinato do rapaz, esquartejado e queimado por internos que se rebelaram no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Abreu e Lima (Grande Recife) no último sábado (1º). Após o sepultamento do adolescente, na tarde desta quarta (5), uma das irmãs dele, Charlene Vieira, 21, assegurou que irá buscar ajuda do Ministério Público a partir de segunda-feira.
Amigos e parentes só puderam sepultá-lo esta quarta, em Vitória de Santo Antão (Zona da Mata), porque o corpo de Iury passou quatro dias sem identificação no Instituto de Medicina Legal (IML) e por isso houve burocracia para liberá-lo. Quase à meia-noite de terça souberam que um exame das impressões digitais confirmou que era o jovem. Mesmo assim, o atestado de óbito ainda não tem o nome completo do adolescente, que havia apenas três dias estava no Case, onde nunca havia pisado. A unidade deveria atender 98 jovens mas amontoava 272. Iury tinha assaltado uma van e por isso cumpria medida socioeducativa.
Somente após um teste de DNA, ainda não agendado, a família poderá provar que Iury morreu sob a guarda do Estado. Após a coleta de material, o resultado sai em 20 dias. “Queremos justiça. A culpa é do governo, porque foi ele que mandou meu irmão para aquele lugar. Não era para ter feito isso. Transferiram Iury da Funase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do Bongi e não avisaram. Sábado teve a rebelião e às 13h do domingo chegaram duas funcionárias da Funase para avisar a minha mãe. Depois disso, sumiram todos, não tivemos ajuda”, disse Charlene.
“O que aconteceu com Iury não foi uma morte qualquer. Ele foi destruído dentro de uma unidade do Estado. Se ele se arrependeu do que fez, não podia ter morrido daquele jeito. Vamos cobrar as responsabilidades porque o que se passou com ele pode acontecer com qualquer uma dessas crianças humildes que estão aqui neste cemitério. Elas têm direitos, mas ninguém os vê”, desabafou uma das tias do rapaz, Izamara Vieira de Lima.
A mãe do adolescente, Irismar Vieira da Silva, precisou ser amparada por parentes, pois acompanhou todo o cortejo sob efeito de sedativos. Ela havia passado quatro dias de plantão no IML lutando para poder enterrar o filho.
A Funase abriu sindicância para apurar as circunstâncias da morte de Iury. Ele foi escolhido aleatoriamente pelos amotinados do Case de Abreu e Lima para servir de símbolo da reivindicação. Arrastado de dentro da cela, foi espancado a pauladas, teve cabeça e pernas arrancadas e seu corpo foi queimado. Os internos da unidade exigiam visitas íntimas, porém a lei permite o benefício apenas para os casados ou com união estável reconhecida.
Do JC Online
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