Para espantar o azar, supersticiosos recorrem a patuás e simpatias.
Sexta-feira 13 é sempre uma data que mexe com o imaginário popular. Perto do dia, os mercados públicos recebem supersticiosos das mais variadas crenças, que se munem com ervas e objetos especiais para garantir proteção contra as más energias. O mercado de São José, na área central do Recife, é um local bastante procurado pelos supersticiosos de plantão.
Comerciante na área há 33 anos, Marluce Barbosa dos Santos, 61, vende ervas e produtos naturais há mais de 20. Inicialmente vendedora de vinis, a comerciante mudou de ramo por sugestão dos colegas da área, quando a produção de vinil entrou em declínio e veio à cena os CDs. Desde então, a simpática senhora aprendeu os benefícios de cada produto que vendia para atender seus clientes com prioridade. Segunda ela, as vendas de ervas na véspera da tão temida ‘sexta-feira 13’ dão uma leve alavancada.
“Em todo canto há olho grande, temos que aprender a conviver com isso”, acredita Marluce. Segundo ela, os rituais que espantam a má sorte funcionam se a pessoa acredita neles. “Em tudo nessa vida temos que manter a fé. Se uma pessoa toma um analgésico para dor de cabeça, ela precisa acreditar que vai ficar boa, ou o remédio não fará efeito”.
Os itens mais vendidos pela comerciante são galhos de arruda, pinhão roxo e sal grosso, justamente os elementos necessários para preparar o banho de descarrego. Ela ensina que se deve depositar as ervas em um balde com água, esfregá-las e despejar a mistura do pescoço para baixo. Entretanto, é preciso tomar antes um banho convencional, para se livrar das impurezas naturais do corpo, como o suor.
Além das ervas, outro item que é bastante procurado pelos supersticiosos são o alho-macho e a figa de arruda, que, usados dentro da carteira como amuletos, garantem proteção contra o mau olhado, segundo garante o comerciante José Carlos Pereira Nunes, 51 anos. Zé do Mel, como é conhecido na área, diz que boa parte de seus clientes é composta por frequentadores de terreiros de candomblé.
Ubelândia Silva de Andrade, 44 anos, diz que não se considera supersticiosa, mas costuma comprar galhos de arruda, pinhão e rosas uma vez por semana. Proprietária de um bar em Santo Amaro, a comerciante diz que as plantas servem para “chamar freguês”. “Um dia, chegou um cliente e sugeriu que eu colocasse as ervas na frente do meu bar para abrir mais os caminhos”, conta. Ela garante que, depois que aderiu ao hábito, sua clientela melhorou bastante.
Já Manuela de Carla Nascimento, 35, dona do Box 252 do Mercado de São José há oito anos, revela ser muito supersticiosa. “Ver um marreco na sexta-feira 13 dá um azar ‘triste’, eu acredito”, confessou. Segunda ela, patuás e velas são produtos muito vendidos nas vésperas da fatídica sexta-feira. O patuá é um amuleto de proteção que agrega figas, responsável pelo descarrego, uma pena, para proteção, e olho de lobo, que ajuda a expulsar as energias negativas e trazer saúde. A cada sexta-feira 13, segundo Manuela, os supersticiosos costumam repor os antigos por novos patuás.
Outro ritual realizado para espantar os maus presságios é colocar uma vela preta e outra roxa numa encruzilhada após as 18h, horário em que “o sol já está baixo”. Antes, é preciso esfregar as velas no corpo para se livrar das coisas ruins que ele carrega. A comerciante revela que não só praticantes da umbanda utilizam esses objetos e praticam esses rituais, mas também católicos que acreditam nos malefícios que o olho grande e a inveja podem trazer.
O médium espírita Lima da Luz, que atende clientes há 15 anos no Box 198 do mercado, garante: não acredita em superstições. “É uma crença negativa e falta de fé em Deus”, assegura o Kardecista. Formado em Teologia, Lima traz uma receita básica para manter sempre as boas energias por perto: ler o salmo 91 antes de sair de casa e o salmo 121 ao retornar, usar roupas claras e rezar diariamente um terço para São Miguel Arcanjo.
Da Folha PE
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