Política é negócio de família, em Vitória

Publicado no Diário de Pernambuco, edição de 22 de Abril de 2012 
Desenvolvimento não tem se refletido na política, em Vitória, onde três grupos se revezam no poder 

Vitória de Santo Antão, Zona da Mata de Pernambuco, se tornou destino para grandes empresas que, apenas nos últimos quatro anos, foram responsáveis por investimos de R$ 904,4 milhões. “A cidade está praticamente dentro do Recife, mas não é Região Metropolitana, o que faz com que o incentivo (fiscal) possa ser de até 85% (ao invés de 75%)”, explicou o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper), Márcio Stefanni. Dinâmica econômica que contrasta com uma política enrijecida. Há mais de três décadas, dois grupos formados por famílias tradicionais mantêm o poder da cidade de forma alternada.

Lira, Queiroz e Querálvares. Cada um delas ocupa, hoje, sua parte na política do município. A prefeitura é comandada por Elias Lira (PSD), que está no terceiro mandato. Ele tem como vice-prefeito Henrique Queiroz Filho (PR), cujo tio, Ivo Queiroz, governou a cidade por três vezes. O Legislativo Municipal é dirigido por José Aglaílson Querálvares (PSB), que também possui passagem pelo Executivo. Foi quatro vezes prefeito.

A tensão entre essas forças é grande e um novo embate ocorrerá em outubro. Elias Lira quer disputar a reeleição e poderá ter como adversária a filha de Querálvares, Ana Elizabeth (PSB). José Aglaílson, porém, diz que pretende ser o candidato. “Se o partido aceitar meu nome, entro na disputa e minha filha será minha vice”, defendeu. No meio dessa troca de fogo nada amigo, Zé da Loja, um empresário local, se coloca como pré-candidato do PV à prefeitura. “Ele não ganha. Esse grupo aqui ninguém tira”, prevê o vereador governista Everaldo Arruda (PDT).

Na oposição, a incredulidade quanto ao surgimento de um novo nome também vigora. “Os dois grupos jogam a bola de um para o outro e assim fica. É uma política retrógrada mesmo”, disse o vereador Saulo Albuquerque (PSB). O motivo ele resume: “Para ganhar, falta dinheiro”. Na análise do socialista, se um deixasse de participar, o outro não ligaria mais para nada porque não precisaria de nada para ganhar. Nem de vereador”.

Tanto Elias quanto José Aglaílson tiveram contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas de Pernambuco. Ao chegarem na Câmara, entretanto, todas foram aprovadas, fazendo com que pelo menos, nesse primeiro momento, ambos sejam ficha limpa e, portanto, aptos para a eleição. 

Raio-X

População (habitantes): 123.930 
Eleitores: 87.573
Taxa de urbanização: 87,27%
Distância do Recife: (quilômetros) 47,2 
Receita arrecadada em 2011: R$ 134.663.733,60
Fundo de Part. dos Municípios: R$ 2.639.995.311
ICMS e IPI: R$ 1.695.523,55
PIB (2009): R$ 1.023.205
PIB per capta (2009): R$ 8.095
Empresas instaladas: 22
Projeção de investimentos: R$ 904,4 milhões
Geração de empregos: 3.819 diretos 

Queixas quanto à falta de estrutura 

Ruas sem calçamento, esburacadas e com entulhos. Essa foi uma das queixas mais ouvidas pela reportagem do Diário em uma visita a Vitória de Santo Antão. A reclamação é de moradores como a aposentada Severina de Albuquerque, 80 anos. Moro aqui há 40 anos. Entra prefeito e sai prefeito e a gente está assim. As ruas são cheias de buracos”, reclamou. 

Vereadores, inclusive governistas a exemplo de Everaldo Arruda (PDT), concordam com a queixa. Do grupo de oposição, o vereador Saulo Albuquerque dispara. “O prefeito deixou muita coisa para fazer nesse último ano. Ele veio asfaltar as ruas do centro agora, no carnaval”. 

Outro problema denunciado na cidade tem como endereço o bairro de Doutor Alvinho onde diversos porcos são criados no quintal das casas ou andam livres pelas ruas. Os moradores reclamam do mau cheiro e das moscas. Para piorar, o lugar fica às margens de um rio que, quando chove, alaga e traz para casa dos moradores os dejetos dos animais. A reportagem procurou a Prefeitura de Vitória para ouvir sua versão sobre as denúncias. Falou com a assessoria de imprensa e com a secretária de Infraestrutura, Selma Andrade. Até a última sexta-feira, quando a edição foi fechada, não recebeu respostas. 

Por Júlia Schiaffarino