Clube Abanadores – O LEÃO: 110 anos

Confira a história de um dos clubes mais tradicionais de Vitória.

Imagem extraída do Google imagens

 No segundo semestre de 1902, alguns rapazolas organizaram um clube de manobras com a denominação de Clube Carnavalesco Abanadores.

 Seu primeiro Presidente foi José de Holanda Cavalcanti, tendo como diretor de ensaios Manuel José Veloso.

  Iniciou os passos na antiga Rui da Baixinha, tendo como sede um casarão de taipa que existiu na esquina das atuais Ruas Dias Cardoso e André Vidal de Negreiros, de propriedade do comerciante Manuel Bezerra da Silva, o “Manuel da Baixinha”.

  A Primeira orquestra foi composta de quatro músicos: José Cândido de Melo, no piston; João da Luz, no bombardino; Antônio Pitombeira, na trompa e José Agripino, no clarinete.

 Acompanhava as “cantorias” entoadas pelos cordões dos figurantes, na sede e nas ruas, com letra e música de Joaquim Rodrigues dos Passos, conhecido por “Mestre Quincas”, seresteiro e flautista, o qual fantasiado de velho, de barba espessa e longa cabeleira, cajado à mão, era considerado o “Papai” do clube e como tal venerado pelos seus “filhinhos”.

 Num dos recantos da vasta sala de frente de sua sede improvisada, armava-se uma “caverna”, onde o “Papai”, sentado, recebia as homenagens dos “filhos”, que cantavam:

“A bênção, meu papai,
Nós viemos do sertão,
pra entregar nossas armas
ao Tenente-Capitão
Respondia o “Velho”:
“Salve o Deus Momo,
Deus da troça, sem igual,
Salve o Deus filho
Que está em seu lugar”.
E os cordões respondiam em coro:
“Salve Abanadores!
Brincamos com prazer,
A glória do Carnaval
Nosso clube há de ter”.
Saía, então o clube, executando suas evoluções ou manobras, sempre pulando, os cordões puxados pelos “balisas”, ziguezagueando em diversos sentidos como desenhar figuras sobre o chão, cantando, logo de saída:

“Somos Abanadores,
saímos a passear
pelas ruas da cidade
dando vivas ao carnaval”.
E ao regressar:
“Nós já vamos
para a sede descansar.
Ali está nosso Papai,
cansado de trabalhar.”
 Assim nasceu e folgou o Clube Carnavalesco Abanadores nos seus primeiros anos de vida, mais como uma brincadeira de garotos, estreantes na folia.

Imagem: Jornal A Verdade
 Uma das figuras tradicionais dos clubes de manobras era o “Morcego”, folião fantasiado  de preto, com quatro asas, duas interligadas de cada lado, armadas de aspas metálicas com extremidades salientes como as do guarda-chuvas, e costurados à própria fantasia, com articulações para os braços, que as podiam mover para diferentes sentidos.

 Nos encontros de rãs, trocavam os “Morcegos” amabilidades, agredindo-se mutuamente, procurando cada qual abater o contrário.

 O último “Morcego” do Clube Abanadores, de todos o mais requebrado, verdadeiro contorcionista, foi Júlio Rodrigues, conhecido por “Júlio Mosquito” por ser franzino e de baixa estrutura, sempre aplaudido pela piruetas incríveis que executava.

 Ganhou fama o “Abanadores” como papa-clubes” nos primeiros anos de século atual, pois conseguia sempre abater os seus rivais. Entre os seus maiores animadores nesses longínquos tempos figuravam  José de Holanda, João Alves de Miranda, Joaquim Rodrigues dos Passos, Alexandre Alves dos Santos, Francisco de Assis Vasconcelos, o “Chico Benedito”, artista exímio na armação de carros alegóricos e na ornamentação da sede; Eugênio Cunha, Emílio Nepomuceno, José Bernadino de Sena, Manuel Bindinho, Márcio de Albuquerque, João Sousa Lima, Célio Meira, vindo mais tarde Honório Lopes de Sena, Geminiano Camelo, Orlando e Amadeu Sena, JOÃO Ricardo Tavares, Henrique de Holanda, José Hermínio da Silva, Adolfo Feliciano de Albuquerque, Horácio de Barros, José Joaquim da Silva, Aberto, Mendel e José Azoubel, Severino das Neves (pai e filho), Carlos  Chalmers, João Campelo, Alfredo Gomes do Rego, Antão Wanderley, e vários outros.

 Pelas suas portentosas exibições e pelo entusiasmo dos seus inúmeros fãs, num dos mais animados ensaios do Clube, ao recolher-se este, em 1925, o poeta Teopompo Moreira, em arrebatado discurso, chamou “Abanadores” de “O Leão” e o cognome pegou, sendo, desde então, assim denominado pelo povo.

 Em 1940, tendo adquirido o prédio onde existira o Cine Dom Luís, na Praça Dom Luís de Brito, o Clube Abanadores remodelou-o completamente e nele instalou sua sede, festivamente inaugurada em 2 de agosto de 1942, comemorando o 40º aniversário de sua fundação.

Imagem: Jornal A Verdade
 Desde então, realizando grandes noitadas festivas e excelentes exibições, continua animando não só o carnaval. Mas a vida social da Vitória, projetando-a, e a si mesmo, até na Capital, em alguns anos, com exibição de belos carros alegóricos, até há pouco executados  pela perícia de um admirável artista, João de Barros.

Imagem: Jornal A Verdade
 Nas fases de sua melhor organização e maior animação, muito contribuíram para o êxito de sua apresentação as diretorias femininas, cuja eficiente colaboração na decoração interna, na escolha da confecção de fantasias, na organização de bailes, foi decisiva.
Fonte: José Aragão, História da Vitória de Santo Antão, Volume III, 1983.