Nestor de Holanda Cavalcanti Neto, 1921/1970, vitoriense,
Escreveu poesias, romances, contos, teatro e novelas.
Vitória
Você está longe de parecer o que é
Vitória
Você que foi tudo para mim,
Que já foi minha
Que já foi meu mundo
O mundo onde fui rei,
Rei do bodoque,
Sujo,
Descalço,
Em correrias pelas ruas calçada, estreitas e tortuosas
Em carros de caixão
Vitória
Você está bem longe de parecer o que é
Aquela que eu deixei,
Deixei para rever nas páginas de História-Pátria.
Para rever,
Sim,
Para rever
Mas outra Vitória que não era minha
[a minha que deixei sempre atrás daquela montanha]
Era uma Vitória sem apitos de trem,
Sem moleques nas ruas,
Sem estalos de relhos,
Sem o gemido de carros de bois,
Sem grito dos matutos.
Uma Vitória evocada por um professor carrancudo,
Com personalidade de saliência no cenário da História
Onde estava sendo representado aquele drama fantástico.
E era Vitória.
Era a Vitória da História.
Da História que m´a mostrou sem tudo quanto nela eu via.
Uma Vitória sem nada.
Uma Vitória sem mim.
Vitória
Você está bem longe de parecer o que é,
Porque eu lhe tenho na memória.
O LIDADOR, 06/05/1939