Jornal do Commercio
Clube criado há 88 anos mantém o Carnaval espontâneo na Zona da Mata pernambucana.
O Clube Carnavalesco Misto Taboquinhas, de Vitória de Santo Antão, não é apenas um dos mais antigos em atividade no município da Zona da Mata pernambucana. Criado há 88 anos, o grupo se destaca pela forma espontânea de brincar. Para começar, não há ensaios. As músicas são as mesmas de sempre e todo mundo da cidade conhece as letras. Sendo assim, os Taboquinhas só se encontram no dia do desfile, afiadíssimos, e qualquer morador pode entrar na folia. Claro que avisando com antecedência, para dar tempo de fazer a roupa.
Aliás, a música dos Taboquinhas é um tanto curiosa. Eles nasceram em 1924 como Clube de Fado e têm 16 composições próprias. Quatro delas bem populares. Com o passar dos anos, as canções melancólicas portuguesas foram se aproximando do frevo. “Hoje, tocamos fado com ritmo de frevo”, define o arquiteto Kléber Carvalho, um dos diretores do clube, entoando o mais famoso refrão: Adeus, adeus Taboquinhas/Adeus, adeus Carnaval/Adeus, adeus minha gente/Até para o ano quando nós voltar.”
Ninguém da atual diretoria sabe quem escreveu as músicas. “Não havia essa preocupação de assinar, as pessoas se juntavam e criavam as composições. As letras exaltam acontecimentos históricos da cidade”, observa Geraldo Oliveira, também diretor da agremiação. O nome é uma homenagem à Batalha das Tabocas, combate entre holandeses que ocuparam o Nordeste do Brasil e luso-brasileiros em 3 de agosto de 1645, no Monte das Tabocas, em Vitória de Santo Antão.
A rabeca dá o tom da música e em harmonia com cavaquinho, violão, banjo, atabaque e pandeiro compõe a orquestra de 13 músicos. O cordão, formado por 24 pessoas, leva tabocas e dá pancadas ritmadas no chão – são 12 damas e 12 cavalheiros vestidos como antigos camponeses de Portugal. Dezoito pessoas no coral (Madrigal de Olinda), dois porta-bandeiras, duas sinhazinhas e um sinhozinho completam o clube.
No começo, lembra Geraldo Oliveira, apenas homens desfilavam no Clube de Fado Taboquinhas, que fazia apresentações no Carnaval, São João e Natal, tocando fados. “Como não havia mulheres, parte deles usava roupas de dama”, diz. O ritmo mudou, tendendo para o frevo, quando o clube passou a circular só no Carnaval. Com a entrada de mulheres no grupo, o nome foi substituído para clube carnavalesco misto. As raízes lusitanas fazem referência ao português Diogo de Braga, fundador da cidade.
As figuras centrais da agremiação, Senhora Helena e Sinhá Pequena, além do sinhozinho, resgatam os engenhos de cana-de-açúcar existentes na região. “Taboquinhas não tem origem religiosa e não é um grupo formado, é tudo natural. A cor é vermelha e verde e o símbolo é uma caravela”, afirma Geraldo Oliveira, diretor há 13 anos. O coral entrou em cena a partir de 2008.
Iracema do Rego Neto, costureira da vestimenta da Senhora Helena, confirma espontaneidade da turma. “Vez ou outra a gente escuta o povo falando que Taboquinhas não vai sair. Quando se vê, o clube tá na rua. É muito bonito, acompanho desde criança, é lindo ver a Senhora Helena dançando”, declara a costureira, ajustando o longo vermelho com detalhes dourados e mangas bufantes.
Taboquinhas desfila às 20h30 de sexta-feira, em Vitória, saindo da Praça Professor Juca. “Primeiro, tocamos na Casa dos Pobres, um asilo de idosos, e depois vamos às ruas, até 1h”, diz Kléber Carvalho, o sinhozinho de Taboquinhas. O clube se apresenta novamente às 18h de domingo, em Porto de Galinhas, no Litoral Sul. E às 20h30 de segunda-feira, em Vitória. Vale a pena conferir. Vitória fica a uma hora do Recife.