Políticos com mandato parlamentar avaliam o que fazer caso TSE não dê o registro a tempo de ex-senadora disputar eleição de 2014
Para poder ter candidatos em 2014, a Rede precisa ser criada até 5 de outubro, mas tem enfrentado dificuldades para certificar as 492 mil assinaturas necessárias para obter o registro.
Sem uma legenda própria, Marina teria de procurar um partido para abrigar seu projeto de poder que oferecesse “um mínimo de conforto programático”, como diz um operador político da Rede. O espectro é pequeno, mas traz opções. A mais viável seria o retorno ao PV, sua antiga legenda. Outras alternativas aceitáveis seriam o PDT, PPS e até o novato PEN, que poderia ser moldado à imagem e semelhança de Marina.
Todas essas siglas se dizem abertas ao diálogo e já abrigam militantes ligados a Rede. O problema é que uma eventual migração poderia deixar os parlamentares do grupo sem mandato, já que a lei só permite mudança para partidos recém-criados.
Para a maioria dos políticos que estão na linha de frente do movimento pela criação da Rede, a permanência em suas atuais legendas se tornou insustentável. Deputado federal eleito pelo Rio, Alfredo Sirkis explodiu pontes com o PV, partido que ajudou a criar. Ele já sabe que não seria fácil conseguir a legenda para tentar renovar o mandato. “O grupo do (José Luiz) Penna (presidente nacional do PV) quer ver a minha caveira”, afirma. “Se eu quiser, sou candidato pelo PV pelas vias legais. Mas eu não sei se quero isso. Estou extremamente calmo, enfrentando essa situação com muita tranquilidade, até porque eu não sou político, estou político.”
O mesmo dilema vive o deputado federal Domingos Dutra (PT-MA). Ele anunciou publicamente que não fica na sigla se os petistas mantiverem a aliança com a família Sarney no Estado, hipótese mais provável. Dutra não esconde que, caso a Rede não saia do papel, vai buscar outras alternativas. “Estou acompanhando (o processo no TSE), mas só vou pensar numa alternativa a partir do dia 20 de setembro. Aí eu vou ver se fico no PT ou se vou para outra sigla”. PSOL, PDT e PSB já se ofereceram para abrigar o dissidente.
Na semana passada, o diretório paulistano do PSDB aprovou a expulsão do deputado federal Walter Feldman (SP). A decisão não deve ser endossada pelas demais instâncias da sigla, mas criou um constrangimento caso o parlamentar decida ficar entre os tucanos. “Apesar da iniciativa do diretório municipal, eu tenho uma relação muito carinhosa com o PSDB. Se a Rede não sair, não veria problema em ficar no partido”, afirma Feldman.
Embora tenha mandato garantido até 2016 na Câmara Municipal do Rio, o vereador Jefferson Moura já foi comunicado que não terá mais espaço nenhum em seu partido, o PSOL. “Ele está em um mato sem cachorro. Nem o grupo dele o aceitaria de volta”, afirma o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). Já a ex-senadora e hoje vereadora em Maceió Heloísa Helena, ex-presidente do partido e aliada de Marina, teria espaço para negociar. “Ela tem se distanciado muito da direção do PSOL até em Alagoas, mas foi uma fundadora do partido. Levaríamos isso em consideração”, pondera o deputado Ivan Valente (SP), presidente nacional da legenda.
Obstáculos. Com medo de ficar de fora da disputa eleitoral do ano que vem, a Rede ingressou na segunda-feira com o pedido de registro no TSE mesmo sem cumprir os requisitos prévios para apresentar a solicitação. Até agora, o grupo conseguiu certificar cerca de 60% das assinaturas necessárias e criou apenas um dos nove diretórios estaduais exigidos pela lei.
Para agilizar o processo, os marineiros chegaram a pedir para que as assinaturas de apoio à criação da legenda fossem validadas pelos cartórios eleitorais sem a checagem da veracidade dos dados apresentados. O pedido foi negado pela ministra Laurita Vaz, relatora do caso.
Outras 200 mil assinaturas ainda aguardam o crivo dos cartórios, mas o número pode não ser o suficiente, devido ao elevado índice de rejeição das fichas em alguns Estados. Amanhã, a Executiva provisória da sigla se reúne em Brasília para fazer um balanço da situação.
Estadão