Um alinhamento que passa pela superestrutura conquistada pelos peemedebistas na última reforma administrativa promovida pelo Palácio das Princesas. Recém-empossado secretário de Desenvolvimento Econômico, Raul Henry fala sobre seus principais desafios à frente da pasta, o futuro da aliança com os socialistas e as especulações sobre o espaço do PMDB na chapa da Frente Popular em 2018.
O bom trânsito que o senhor possui com o PMDB facilitará sua gestão na Secretaria de Desenvolvimento Econômico?
Eu espero que sim. Pretendo ir a Brasília levar temas do desenvolvimento de Pernambuco, que têm que, necessariamente, ser tratados com o Governo Federal, como a volta da autonomia de Suape, o reinício das obras da Transnordestina, a concessão da BR 101 e BR-232, e a dragagem do canal externo de Suape. São obras que dependem de conversas, parcerias e iniciativa do Governo Federal. Então, eu pretendo utilizar as relações que construí com vários ministros que são colegas da época de deputado federal e o acesso que tenho com o presidente da República e o ministro Moreira Franco para desobstruir essa agenda de Pernambuco.
O senhor também terá agenda com o empresariado?
Essa agenda vai ser construída naturalmente. Priorizei agenda em Brasília porque há um conjunto de analistas econômicos que dizem que o Brasil tem dois caminhos para retomar o crescimento que é o investimento em infraestrutura e nos setores exportadores, já que as famílias brasileiras estão muito endividadas e os setores voltados para o consumo terão mais dificuldades.
Muitas obras hídricas do Estado dependem de recursos federais e sofrem problemas de repasse. O senhor trabalhará para destravar essas obras?
Apesar da Região Metropolitana não sentir o impacto, o Agreste e o Sertão estão sofrendo muito com a estiagem. A obra estratégica para abastecimento do Estado é a adutora do Agreste, que sai de um ramal da transposição do Rio São Francisco.
Seu nome na Secretaria de Desenvolvimento Econômico vem para estreitar mais o diálogo com Brasília?
Eu acho que a convocação de Paulo não foi, exclusivamente, por essa razão, mas pelo meu perfil, por ter construído uma relação com pessoas que hoje estão em cargos de comando no Governo, pelo PMDB. É por um conjunto de circunstâncias que favorecem minha inserção em Brasília.
Houve recusa de Duere para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e outros nomes?
Somente de Duere (houve recusa). Posso assegurar. O ambiente do serviço público no Brasil está muito tumultuado e, dificilmente, um empresário com vida vitoriosa na iniciativa privada vai querer entrar em um ambiente tão tumultuado como esse que estamos vivendo no serviço público do Brasil. Não convidamos ninguém da iniciativa privada.
O senhor vem atuando como um coringa no Governo do Estado?
Eu conheci Paulo Câmara nas eleições e acertamos que eu cumpriria missões institucionais. Onde ele requisitasse minha presença, eu estaria à disposição dele. E surgiu com a decisão de Tiago Norões deixar a secretaria, a necessidade de um perfil para assumir a pasta. Naturalmente, o governador entendeu que eu tinha esse perfil e me fez o convite no final do ano passado, no dia 26 de dezembro. E eu disse para ele que precisava refletir e amadurecer essa ideia. Amadureci a ideia e achei que tinha a obrigação de aceitar essa convocação.
Qual o principal desafio de Suape?
Suape tem o desafio de retomar sua autonomia administrativa, de poder licitar e fazer concessões e ter a plena gestão do porto, como teve no passado. Isso foi modificado pela Lei dos Portos, equivocadamente. Então, esse é um desafio, trazer de volta para Suape sua autonomia. Outro é atrair novos empreendedores para Suape. Os desafios para retomada do crescimento não são pequenos, mas entendemos que podemos reinstalar ambiente de confiança na economia e investimento.
Como o senhor vê as críticas de que o PMDB está ocupando muito espaço no Governo Paulo Câmara?
Essa é uma percepção equivocada. Primeiro, desde que nos reencontramos com o PSB, na eleição de Geraldo Julio, que a gente não exigiu nada nem de Eduardo Campos, nem de Paulo e nem de Geraldo. Quando Geraldo venceu a eleição, nos colocamos à disposição para colaborar. Com Paulo foi a mesma coisa. Tanto que, inicialmente, ocupamos apenas a Secretaria de Habitação e a missão da Arena. Nós construímos, naturalmente, uma relação de confiança, temos afinidades pessoais e políticas. Construímos uma relação com muita naturalidade. O que houve foi uma convocação dele para ajudar, com missões administrativas. Não houve nunca reivindicação do PMDB para ocupar espaços.Falou-se que PMDB iria exigir a vice de Geraldo Julio, nunca houve isso. Tanto Luciano Siqueira se manteve como vice.
Vocês se sentiram contemplados no secretariado de Geraldo Julio?
Houve redução de duas pastas que estavam com dois secretários que disputaram a reeleição (Secretaria da Juventude com Jayme Asfora e Combate às Drogas com Aline Mariano). Geraldo esteve comigo, falou das dificuldades que estava enfrentando, que teria que reduzir a máquina, e as despesas e teve nossa absoluta compreensão.
Incomoda quando Paulo Câmara faz cobranças mais fortes ao Governo Temer?
As críticas que Paulo fez são procedentes. São colocações que eu fiz também na reunião da Sudene e explicitei ao Presidente. Fiz isso quando houve a primeira negociação das dívidas dos estados, quando 80% ficou para Rio, Minas e São Paulo, enquanto o Nordeste ficou com 4,5%, no primeiro pacote de concessões, onde só entraram aeroportos de Fortaleza e Salvador. Eu próprio expressei isso publicamente.
Há espaço para dois nomes do PMDB na chapa da Frente Popular em 2018?
As circunstâncias de 2018 só se darão em 2018. O Brasil vive um momento de tanta instabilidade que não tenho nenhuma ansiedade em relação a isso. Quando a gente chegar em 2018, vamos analisar os cenários e vamos constituir uma chapa que seja a melhor.
Cabe algum partido ter duas vagas na chapa?
Depende das circunstâncias. Somente em 2018, quando a gente souber o arco de alianças, se poderá avaliar.
O que dá mais prazer: Câmara ou vice-governadoria?
São prazeres diferentes. O meu último mandato me deu muito prazer, fui relator da lei de responsabilidade educacional e estreitei relação com setor educacional. Aqui, estou no meu Estado, colaborando com meu Estado e tenho a estabilidade pessoal de ver meus filhos crescerem. Mas, quando a gente entra na política, tem que estar aberto às possibilidades.
Jarbas seria um bom nome no Senado para Pernambuco?
Muito bom. Jarbas é uma referência para política do País. Respeitado, de grande credibilidade. Se ele desejar ser candidato a senador e ele deu indicativos de que desejaria, é um grande nome, com todas as credenciais e legitimidade.
Hoje são duas vozes da oposição e somente uma alinhada ao Governo. Isso faz a decisão ser ainda mais crucial?
Eu acho que é sempre uma escolha estratégica. A escolha deve ser feita pelos nomes mais habilitados para disputar a eleição, com os atributos para desempenhar o mandato no Senado. Ter dois senadores alinhados ajuda a conduzir os debates em Brasília, mas, para além disso, os senadores de Pernambuco, quando os interesses do Estado estão em jogo, jamais tiveram mesquinhez de trabalhar contra o Estado por conta de uma posição política.
O PMDB deve ter candidato próprio à Presidência?
Não necessariamente. O PMDB se caracterizou a vida inteira por ser um partido de alianças, eu acho que temos que analisar os candidatos que vão se colocar, vamos viver momentos muito conturbados em 2017, o imponderável que virá da Lava Jato. Então, é preciso ter muita tranquilidade e serenidade para ver o cenário de 2018.
O PMDB está fechado com Paulo Câmara para 2018?
Isso tem sido dito reiteradas vezes por mim, foi dito por Jarbas. Não temos nenhum motivo para não permanecer aliados do PSB. Não há nenhum fato que justifique a gente romper.
O senhor acredita na volta do PSDB e DEM para a Frente Popular?
Em 2018 vamos ter que discutir isso. Não posso falar por eles e não sei a disposição deles. Mas a política é ambiente de diálogo, eu não fecharia nenhuma porta de diálogo para 2018. Sempre fiz política buscando o diálogo e o diálogo deve ser buscado com DEM e PSDB.
A saída dos partidos não fechou portas?
Acho que estreitou. A eleição de 2016 passou e é página virada. Quando formos discutir 2018, defendo que a gente tenha diálogo franco com todas as forças.
Como o senhor vai conciliar secretaria, vice-governadoria e presidência do PMDB?
Vou ter que aumentar muito meu esforço para dar conta das três missões. Vice-governador e secretário são funções que se confundem porque eu vou poder defender os interesses do Estado como vice e secretário. A de presidente do PMDB terei que cumprir nos fins de semana, quem vai pagar a conta é a família.
Folha de Pernambuco