Dias amargos para o setor sucroalcooleiro

Cai a produção de açúcar e álcool em Pernambuco e Nordeste. A safra encolheu mais de 20%

A safra de cana-de-açúcar e etanol 2015/ 2016 deverá encolher 20,31% no Nordeste e 23,02% em Pernambuco na comparação com a safra 2014/2015. As projeções do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindacúcar-PE) indicam que serão processadas 11,5 milhões de toneladas de cana no estado, contra 15,5 milhões de toneladas na safra anterior. A seca provocada pelas condições climáticas do fenômeno El Niño na Região reduziu a produção de cana, que deverá passar de 61,2 milhões de toneladas para 48,8 milhões de toneladas neste ano. As perdas estimadas pelo setor são de R$ 1,9 bilhão para a atual safra nas regiões Norte e Nordeste.

Além das condições climáticas adversas, o setor sucroalcooleiro se retraiu diante da política regulatória do etanol no mercado interno e da crise econômica. No Nordeste, a produção de etanol deverá recuar 12,59% na atual safra, passando de 2,2 milhões de litros (2014/2015) para 1,9 milhão de litros (2015/2016). Em Pernambuco, a produção de álcool recuou 9,41%, passando de 387 mil litros para 350 mil litros no período. “As incertezas regulatórias do etanol desestimulam os investimentos para ampliar a produção e melhorar a produtividade do setor”, salienta Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE.

Cunha critica o atrelamento do preço do etanol à gasolina, argumentando que o combustível verde e limpo deveria contar com uma política diferenciada de preços. A estimativa do setor é que o preço da gasolina no Brasil esteja 6,60% mais baixo do que o valor cotado no mercado internacional, interferindo no preço do etanol no mercado interno. “Defendemos que o preço do etanol fique independente do valor da gasolina para melhorar a remuneração. Somos um combustível limpo e temos custos maiores de produção.”

O porta-voz do setor sucroalcooleiro de Pernambuco critica o “passeio do etanol”. Pelas atuais regras de comercialização da Agência Nacional do Petróleo (ANP), os produtores de álcool vendem o produto à distribuidora, para depois chegar ao posto de combustível, encarecendo o preço final ao consumidor. Cunha argumenta que o preço do álcool está defasado, mas evita estimar a defasagem sob o argumento de que cada região tem a sua peculiaridade e matrizes diferentes de custos.

Segundo Renato Cunha, o recuo de 23,02% da produção de cana-de-açúcar em Pernambuco surpreendeu o setor, que estimava a retração entre 10% e 12% na safra 2015/2016. Do total de 17 usinas que esmagaram cana na atual safra, apenas duas faltam concluir a moagem. Na safra 2011/2012, ele lembra, foram esmagadas 17,4 milhões de toneladas. A projeção para a próxima safra (2016/2017) é de recuperação de 14% da produção de cana, chegando a 13,2 milhões de toneladas.

Safra

Produtos Norte/Nordeste

                                          2014/2015    2015/2016    Variação %
Cana-de-açúcar (t)     61.257.477    48.816.628    -20,31
Açúcar (t)                  3.570.465    2.608.571    -26,94
Etanol total (m3)        2.282.091    1.994.841    -12,59
Mix (%) Açúcar           48,84%       44,53%              –
Etanol                        51,16%       55,47%             –

Produtos Pernambuco

2014/2015    2015/2016    Variação %

Cana-de-açúcar (t)     15.012.648    11.557.296     -23,02
Açúcar (t)                   386.822          350.414    -22,50
Etanol total (m3)         2.282.091     1.994.841    – 9,41
Mix (%) Açúcar            63,65%        58,98%                 –
Etanol                         36,35%        41,02%                –

Fonte: Sindaçúcar

 

 Foto: Teresa Maia/DP

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