Uma oportunidade de repensar a vida, e, através do diálogo e atividades lúdicas, sonhar com um futuro melhor. Esse é o mote do Projeto de Vida, promovido pela Vara Regional da Infância e Juventude (VRIJ) da Comarca de Vitória de Santo Antão. Os participantes são adolescentes que cumprem medida de privação de liberdade na unidade Pacas da Fundação de Atendimento Socioeducativo – Funase, localizada na área rural do município.
Até agora, foram realizadas duas oficinas do Projeto de Vida na Pacas/Funase, nos dias 9 e 15 de setembro, com os meninos, e programadas mais duas para os dias 22 e 29 deste mês. “Estamos buscando parcerias para estender o número de oficinas e o projeto em si, pois precisamos de mais facilitadores”, diz a juíza da VRIJ de Vitória, Sheila Cristina Torres Santos Moreira.
A magistrada conta que “o Projeto de Vida nasceu de uma inquietação dela e da equipe multidisciplinar quanto ao cumprimento da medida de internação dos socioeducandos da Pacas/Funase, um procedimento acompanhado pela Vara”. A juíza, então, reuniu-se com a equipe multidisciplinar da VRIJ e obteve a proposta de implantação do Projeto de Vida, que inclui realizar, em sua primeira versão, um ciclo de quatro oficinas temáticas e três palestras, direcionado a grupos de sete jovens por ciclo, na faixa etária de 16 a 18 anos. A criação do projeto é da estagiária de Psicologia, Ana Clécya de Moura Silva.
“Eu construí o projeto, com todo embasamento teórico e referências, partindo de uma perspectiva psicológica e produções de Psicologia. O projeto foi elaborado sob orientação e suporte das minhas supervisoras da equipe multidisciplinar da Vara, a assistente social Mônica Oliveira e a psicóloga Ana Flávia Maia”, conta Ana Cléysia. Ela tem cinco meses de atuação na VRIJ, e cursa Psicologia na Universidade Federal de Pernambuco.
“O estágio no TJPE está sendo a experiência mais potente e marcante que tive a oportunidade de vivenciar na graduação. É imensamente gratificante estar na Vara Regional da Infância e Juventude de Vitória, enquanto estagiária voluntária. Sem dúvida, uma vivência que ficará marcada na minha trajetória em diversos aspectos”, declara a universitária.
A juíza Sheila Moreira considera que o Projeto de Vida vai ao encontro da legislação da execução de medidas socioeducativas, regulamentada pela Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – Sinase (Lei 12.594/2012). “As oficinas realizadas estão proporcionando aos adolescentes um espaço de reflexão sobre o seu futuro, o que pode levar a uma reintegração social mais bem-sucedida”, defende a juíza.
“Por meio de atividades lúdicas, usando recursos como músicas, questionários, recortes de publicações, desenho, pintura, eles têm a oportunidade de repensar os seus objetivos e construir um projeto de vida, daí o nome de nossa iniciativa. Sabemos que a saída de um contexto pessoal permeado pelo ilícito não é uma missão fácil”. A juíza também enfatiza que muitos dos reeducandos da Funase têm famílias desestruturadas, e não sabem ler e escrever.
Programação
De acordo com Ana Cléysia, “o conteúdo das oficinas parte de um caráter prático, onde as temáticas trabalhadas visam a participação ativa dos adolescentes, que vem ocorrendo satisfatoriamente, com forma simples e linguagem acessível, trabalhando a história de vida, a inteligência emocional, o autoconhecimento, a construção e o reconhecimento de metas, objetivos e planos para o futuro”.
O ciclo de 2022 do Projeto de Vida, que prevê eventos até o próximo mês de outubro, é composto das quatro oficinas, como também de três palestras, promovidos na unidade de internação Pacas/Funase:
Oficina 1 – Quem sou eu? Refletindo sobre história de vida – 09 de setembro;
Oficina 2 – Inteligência emocional: Conhecendo as emoções – 15 de setembro;
Oficina 3 – Autoconhecimento e Construção de projeto de vida: “Como me imagino no futuro?” – 22 de setembro;
Oficina 4 – “Projeto de Vida: Possibilidades e passos” – 29 de setembro.
Palestras
Diálogo sobre educação sexual – 06 de outubro;
Conhecendo profissões, os sistemas educacionais e as possibilidades – 13 de outubro;
Família: Vulnerabilidades e configurações – 20 de outubro.
Ser criança de novo
Um dos participantes da Oficina “Quem sou eu? Refletindo sobre história de vida”, com idade de 16 anos e três meses de internação na Funase, declara ter se sentindo muito bem na oficina. “A gente falou da infância, do que a gente gostava de brincar, e até dos momentos tristes que a gente passou. E, aí, eu percebi que eu nunca tinha parado para pensar na minha vida”.
O jovem, cuja identidade está em sigilo nesta matéria, apontou o que ele mais gostou de fazer no encontro: dialogar. “Ela (a psicóloga) falou da infância dela, daí os meninos falaram da deles, e eu falei da minha. É bom isso porque a gente relembra o passado, e fica até com vontade de voltar no tempo, né, tia? Se pudesse, queria voltar a ser criança.”