Isolados fisicamente, não precisamos e nem podemos nos distanciar afetivamente

Por Joyce Mayara Domingos do Nascimento *

Os últimos dias tem nos mostrado que não temos controle de quase nada nessa vida, e isso vem chegado de forma dolorosa, quando paramos pra pensar nas pessoas que morrem todos os dias por Covid-19. Por maior que seja nossa comoção e nosso sentimento coletivo de perda, não podemos ter contato físico por motivos que todos já sabem quais são: o único jeito de prevenir o vírus é lavando as mãos, usando máscaras e ficando em casa.

Mas e como ficam aqueles que estão tendo que enterrar os familiares que partiram contaminados? A maior parte deles não tiveram a chance de uma despedida em vida é muito menos em morte. O que faz a dor da perda ser ainda maior, pois é inclusive comprovado cientificamente, que a realização e participação de rituais de despedida, é um dos fatores facilitador no processo de elaboração de luto. Visto que o coronavírus, de maneira avassaladora, nos rouba a chance de uma despedida no sentindo físico, porém nos impõe uma reinvenção desses rituais de despedida, afim de proporcionar para aquele que está morrendo o sentimento de pertencimento e de não abandono, bem como para a família enlutada, a possibilidade de realizar um cerimônia de despedida (velório), prestar homenagens, falar sobre aquele ente que partiu, junto aos seus. Mas como isto é possível, se estamos obrigados a ficar em casa, e evitar aglomerações? online.

A tecnologia hoje, mais do que nunca, é um item facilitador para que tudo isto aconteça, como algumas pessoas já devem ter visto, esses dias foi noticiado que o governo realizou a distribuição de tablets em alguns hospitais, afim de possibilitar que os familiares dos pacientes com COVID-19 fiquem sabendo notícias da pessoa querida por meio virtual, além de possibilitar proporcionar a esse paciente a sensação de não estar sozinho, é possível inclusive se fazer presente em momentos em que a situação fica mais complicada, tendo a possibilidade inclusive de se despedir dessas pessoas tão queridas, para os que estão do lado de fora do hospital. A tecnologia, como dito acima, também proporciona a possibilidade de realizar as cerimônias costumeiras que são realizadas quando alguém falece, (velórios, missas e tantos outros rituais) onde familiares e amigos se reúnem para prestar solidariedade para os que ficam, e homenagens para os que partiram.

Atualmente existem algumas plataformas digitais, que dão a possibilidade de várias pessoas estarem se comunicando ao mesmo tempo, uma delas é o App Zoom, desse modo, é possível que as pessoas mais próximas do ente falecido, bem como um líder religioso, participe desse “velório” online. É possível por meio disto, que os parentes e amigos enlutados, prestem homenagens, condolências e partilhem de apoio mútuo uns com os outros, de uma forma que visa nesse momento de distanciamento, lembrar que apesar de estarmos isolados fisicamente, não precisamos e nem podemos nos distanciar afetivamente falando, pois  o afeto, a presença e o olhar do outro, é o que tem nos dado a possibilidade de enfrentamento desses dias tão dolorosos.

Bem como a realização desses rituais de despedida, a internet também trouxe a possibilidade de alguns profissionais atenderem online, entre eles, nós psicólogos, nesse momento de tanta dor, em que a forma repentina como as pessoas estão morrendo, pode vir a ser um fator complicador no processo de elaboração do luto, o atendimento psicológico vem a ser suporte no processo de enfrentamento, e ampliação das possibilidades de ressignificação de tantas perdas, perdas que não se referem somente a mortes, bem como perdas de emprego, de rotinas e etc. Enfim, que sigamos acreditando que vai passar, e que temos a possibilidade de buscar estratégias de passar pela pandemia, preservando nossa saúde física, mental e emocional.

*Psicóloga Clínica e Pós-graduanda em Psicologia Hospitalar

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