Criado em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC) para ser um importante instrumento de avaliação do ensino médio das escolas de todo o Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem transformado a educação ao longo dos seus 20 anos. Realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a ideia era deixar para trás a técnica chamada de “decoreba” das provas tradicionais e trabalhar conteúdos mais contextualizados com interdisciplinaridade.
Atualmente, o Enem é o principal ingresso para o ensino superior: São 5,5 milhões de candidatos inscritos neste ano – sendo 307.318 de Pernambuco – prestes a encarar uma maratona de 45 questões de Ciências Humanas, 45 questões de Linguagens e uma redação durante 5h30 no primeiro domingo (4).
Para o estudante Paulo Ferreira, 25 anos, o segredo é manter a tranquilidade e confiança em sua preparação. Essa não é a primeira vez que ele fará o Enem, mas será a primeira tentativa de conseguir uma nota que o possibilite cursar Publicidade e Propaganda. “Fiz a prova em 2003, como um teste preparatório. Depois, vi que precisaria aprender melhor como funciona sua estrutura e estudar mais. Infelizmente, não consegui alcançar uma boa nota para entrar no curso de Jornalismo. Tentei três vezes. Agora, decidi mudar de área e estou confiante, venho me preparando desde o inicio do ano, os professores do Vestibular Solidário da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ajudam com várias dicas. Estou bem mais tranquilo”, comentou.
PROVAS DESTE DOMINGO
– Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (Língua Portuguesa, Literatura, Artes, Língua Estrangeira – inglês ou espanhol)
– Ciências Humanas e suas Tecnologias (Geografia, História, Filosofia, Sociologia)
– Redação (no mínimo 30 linhas)
NÃO PERCA A HORA
Confira os horários em Pernambuco
11h Abertura dos portões
12h Fechamento dos portões
12h30 Início das provas
18h Término das provas
O QUE PRECISA LEVAR
– Caneta esferográfica de tinta preta e fabricada em material transparente
– Documento oficial de identificação original com foto
– Cartão de confirmação de Inscrição (aconselhável levar)
– Declaração de comparecimento impressa para assinatura do chefe de sala (caso precise do documento)
Dois domingos
Assim como o conteúdo exigido pelo Enem tem sido aprimorado a cada edição – este é o segundo ano em que as disciplinas de ciências humanas e exatas são realizadas em dias diferentes – os estudantes também estão levando mais a sério o ritmo de preparação para as provas. “Lembro quando fiz o Enem mais por experiência. Foi em 2009, quando ele passou a valer como nota para a primeira fase nas universidades. A prova foi muito cansativa, mas não deixou a desejar em relação ao que era abordado em sala de aula”, disse Maria Eduarda Menezes, 25 anos.
No ano seguinte, ela fez o Exame novamente, sonhava em fazer Medicina. Seguiu tentando em 2011, 2015, 2016 e 2017. “O Enem é uma prova de resistência. São muitas questões que terminam exigindo do candidato muito mais que o conteúdo. Não acho uma prova difícil, mas a competitividade tem sido bem maior agora, do que lá no começo”, ressaltou Maria Eduarda, que hoje faz Medicina em uma faculdade particular, mas vai tentar novamente ingressar em uma universidade pública neste ano por meio do exame.
Sisu
Com a criação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), as notas do Enem passaram a ser a principal forma de ingresso para o ensino superior – mais de 130 universidades públicas integram o sistema. O que para alguns especialistas é visto como uma forma de democratizar o acesso às principais universidades do País, há quem considere que o sistema precisa ser aperfeiçoado e mais justo. Para o diretor pedagógico do Colégio Dom, professor Arnaldo Mendonça, o Sisu tem influenciado diretamente no modelo de prova do Enem.
“No início, a prova surgiu mais contextualizada. O que gerou muitas críticas na época, já que os alunos não conseguiam distinguir se uma questão era de química ou biologia, por exemplo. Com o advento do Sisu, as questões passaram a ser mais conteudistas e as provas têm sido mais trabalhosas. Acredito que essa mudança vem ocorrendo por exigência das grandes universidades”, explicou.
O educador, apesar de reconhecer a importância do sistema, tem uma série de ressalvas, principalmente sobre o fato de o processo seletivo ser a nível nacional, já que as oportunidades não seriam as mesmas para os estudantes de diversas região do Brasil. “A lógica era colocar os melhores alunos nas universidades, mas quando o sistema é único para todo o Brasil, essa lógica se contradiz ao formato das cotas. Já que o sistema de cotas dá a vez nas universidades para aqueles que não tiveram as mesmas condições de estudar. Então, acredito que eles precisam ser revistos”, criticou Mendonça.
Por outro lado, segundo o coordenador do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) Clécio Santos, o Sisu não deve ser visto como uma política pública isolada. “Obviamente, existe a crítica de que estudantes do Sudeste com um nível de renda superior pudessem invadir os espaços que poderiam ser ocupados por estudantes pernambucanos. Mas há uma recíproca verdadeira também”, disse.
“Muitas vezes esquecemos que os estudantes do próprio Estado não tinham condições de acessar os melhores cursos, e o Sisu abriu essa possibilidade”, destacou Clécio. O IFPE possui cerca de 340 vagas destinadas ao Sistema de Seleção Única. “É uma chance que todos os alunos possuem de participar do processo seletivo sem grandes deslocamentos”, concluiu o coordenador.
Ele também concorda que a associação ao sistema tem transformado o Enem em um grande vestibular, perdendo as características iniciais ao qual havia sido proposto. “Ele, nos últimos anos, está passando por um processo de transição, com um perfil mais conteudista. Um caminho não desejado, mas visto como natural”, afirmou. Mesmo com todas as adaptações de formato, o Enem é considerado tanto pelo MEC quanto pelo Inep, um dos maiores acertos na história da educação.
“O exame é uma forma de fazer com que o aluno coloque para fora todo o seu conhecimento. Não basta apenas apresentar uma fórmula. Ele precisa explicar como chegou a ela. Ele traz um amadurecimento para os estudantes hoje, muito diferente de quem fez a prova nos primeiros anos, pois exige um acúmulo de conhecimento”, avaliou a assessora técnica Priscila Barbosa da Silva, que fez a prova em 1999, um ano depois de sua implantação nas escolas.
Segurança
O Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apresentaram, na última quarta-feira, detalhes da estrutura para aplicação do Enem 2018. São 10.718 locais de prova, 155.254 salas e mais de meio milhão de colaboradores. Foram impressas 11,5 milhões de provas. Doze Cadernos de Questões diferentes e uma videoprova em Libras garantem acessibilidade. Segundo, o ministro Rossieli Soares, será feita uma verdadeira “operação de guerra” para a realização do Exame.
“São quase 600 mil pessoas envolvidas com a aplicação do Enem, o que demonstra todo o esforço do Ministério da Educação, e especialmente do Inep, para que todos os participantes possam fazer suas provas com toda a segurança e isonomia necessárias”, afirmou. Este ano, foi ampliado em cinco vezes o número de detectores de ponto eletrônico para evitar qualquer tipo de vazamento da prova. Ao longo destes 20 anos, o Enem também acumulou polêmicas em torno da segurança da prova.
Em 2009, houve um furto das provas dentro da gráfica responsável pela impressão dos cadernos. Com o vazamento, o Enem teve que ser adiado e os prejuízos para os estudantes foram enormes. Devido ao cronograma, algumas universidades desistiram de usar a nota do exame em seus processos seletivos. O fato causou o esvaziamento de candidatos no segundo dia de prova e essa edição registrou 37,7% ausência. No ano seguinte, o tema da redação, “Trabalho na construção da dignidade humana“, foi vazado por uma aplicadora da prova na Bahia, que enviou o tema para o filho. Eles foram processados e o filho, desclassificado. Em 2011, no Ceará, alunos de uma escola particular tiveram acesso ao conteúdo do pré-teste do Enem.
Redação
A redação é sem dúvida a prova mais temida do Enem e por esse motivo os estudantes precisam estar atentos ao que é exigido para obter uma boa pontuação. Na edição de 2017 – cujo tema foi “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” – foram corrigidas 4,72 milhões de redações e destas, 309.157 tiveram nota zero. Diferente dos editais anteriores, este ano o texto que desrespeitar os Direitos Humanos perderá 200 pontos. “Mesmo que a prova não possa ser zerada, o candidato poderá ter uma perda muito grande na pontuação. Já corrigi uma redação em que o aluno escreveu que ‘os negros hoje tem muitas regalias, como o direito de ir e vir’. Essa opinião claramente fere os Direitos Humanos”, explicou o professor de redação Alex Inácio.
O educador também afirma que, independente do tema, é necessário o aluno entender o que a banca de avaliação espera do texto. “O aluno que está bem preparado conseguirá expor sua opinião e defendê-la tranquilamente com argumentos. Isso é o esperado.” Segundo a Cartilha do Participante, o candidato também precisará mostrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa; demonstrar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa; e mostrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Apesar do marco do ano ser as eleições, o professor acredita que o Enem não deverá abordar uma temática voltada a política. Não seria perfil de o Exame trazer assuntos que deixe os alunos desconfortáveis. “O importante é o aluno ler com calma o tema, circular as palavras importantes e identificar o que o comando está pedindo. Esses são os primeiros procedimentos para começar a fazer uma boa redação.” Outros pontos que também levam o candidato a zerar a redação é a fuga total do tema; não obediência à estrutura dissertativo-argumentativa; a extensão de até sete linhas; folha de redação em branco, mesmo que haja texto escrito na folha de rascunho; entre outras exigências apresentadas na Cartilha do Participante.
#SócorreEnem
Um dos grandes vilões do Enem é o tempo. Seja para chegar ao local do exame no horário previsto ou para aproveitar ao máximo as5h30 de prova. São inúmeras as histórias de candidatos que dão de cara com o portão fechado e acabam virando alvo de piadas maldosas na internet. Por acompanhar a trajetória dos alunos que se preparam o ano inteiro para o Enem e compreender os possíveis imprevistos que podem ocorrer no dia da prova, o professor de história e filosofia Danúbio Santos criou em 2013 o projeto #SócorreFera. “É importante deixar claro que nossa intenção não é prestar um serviço de moto táxi, mas um serviço emergencial para que o aluno que se organizou, mas que por algum motivo teve um problema que possa impedi-lo de fazer o Enem, não perca o horário de fechamento dos portões”, adianta o educador.
Muitos feras, mesmo saindo mais cedo de casa para evitar imprevistos, dependem do sistema público de transporte para ir ao local de prova. “Sabemos que o sistema é deficitário e nem sempre a quantidade de ônibus disponíveis dá conta do público. Percebemos que muitos jovens se atrasavam não por uma questão de desorganização. Por isso, surgiu à ideia de socorrer esses estudantes”, explicou. Os chamados geralmente ocorrem pelas redes sociais (@profdanubio) e a divulgação é feita pelos próprios alunos. O socorro é totalmente gratuito e já ajudou cerca de 130 pessoas.
Horário de verão
Neste ano, os candidatos precisam estar atentos ao horário de abertura e fechamento dos portões já que o domingo também é marcado pelo início do horário de verão. O Ministério da Educação (MEC) solicitou, no mês passado, o adiamento horário, alegando que poderia causar confusão nos estudantes já que o adiantamento dos relógios em uma hora não contempla todas as regiões do País. No entanto, o Governo Federal não acatou o pedido do MEC. Por isso, os professores têm orientado os estudantes a chegarem aos locais de prova até três horas antes.
Folha de Pernambuco