Há dois anos um serviço público de saúde em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata do Estado, tem mudado a realidade e perspectiva de futuro de crianças e adolescentes carentes com diversos transtornos de desenvolvimento. Instalado em 2016, diante da urgência dos quadros de microcefalia relacionados ao zika, o Núcleo de Assistência Multidisciplinar à Microcefalia e outros agravos (NAMNI), que funciona na Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Vitória (Apami), atende atualmente 294 meninos e meninas com deficiências diversas do quadro neurológico. São pacientes que vêm de várias cidades do Agreste, Zona da Mata e até RMR, numa demanda que tem sido crescente e que comove a todos.
Para tentar ampliar a assistência e, assim, dar esperança de recuperação aos pequenos, a direção do núcleo estuda formas de ampliar a capacidade do espaço, mas, para isso, a participação popular é elemento indispensável. Informações sobre como colaborar com o serviço podem ser obtidas por meio dos telefones 99915.9715, 98626.0913 ou o com a Apami, que atende pelo número (81) 3523.8244.
“Como nós somos uma instituição filantrópica, se tiver alguma empresa que queria fazer doação, existem benefícios no Imposto de Renda. Já tivemos também a ideia de buscar políticos para conseguir uma verba por emenda parlamentar. Outra saída mais rápida seria conseguir mantenedores para angariar mais recursos. Hoje o que temos são parceiros pontuais”, explicou a coordenadora e idealizadora do NAMNI, a médica Isla Queiroz. O sonho da equipe, segundo ela, é ver o serviço se tornar um Centro Especializado de Reabilitação (CER), mas isso ainda é um projeto de longo prazo. Mesmo sem estar com a certificação de CER, que depende de uma habilitação do Governo Federal, o NAMNI é a principal referência terapêutica no SUS da região para a abordagem multidisciplinar às doenças neurológicas. Profissionais de fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia, psicologia, psicopedagogia, neuropsicologia, medicina, enfermagem e nutrição compõe o quadro.
“Dói não poder atender hoje a todos que nos procuram, mas, com a equipe que a gente tem hoje, espaço físico e incentivos atuais (verbas apenas do SUS), não há como. E, com isso, já existe uma demanda reprimida, fila de espera para alguns terapeutas, principalmente na fonoaudiologia”, comentou a fonoaudióloga e enfermeira Sandrely Veras. Os resultados nas crianças acolhidas e tratadas no serviço estampam resultados surpreendentes. Diagnosticado aos dois meses de vida com microcefalia, Luiz Miguel, hoje com 2 anos, é um dos xodós da unidade e foi um dos primeiros a ser tratado no núcleo. “Fiquei sem querer acreditar quando tive o diagnóstico de microcefalia dele. Não consegui comer ou dormir. Mas ele, graças a Deus, evoluiu muito bem com todo o trabalho feito aqui”, contou a mãe dele, Vera Lúcia da Silva, 27. Miguel anda, desenvolveu a linguagem e se alimenta por via oral.
Outro caso que chama atenção é o de Vitória Rayane, 10 anos, filha de Maria José Soares, 46. Somente quando chegou até o NAMNI, há seis meses, é que foi constatada que a quietude atípica da menina era devido a um retardo mental, aliado a um quadro de surdez que passou despercebido durante toda a infância. “Ela ficou muito melhor depois que chegou aqui, e finalmente soubemos o que ela tinha”, disse. Entre os pacientes atendidos no núcleo, os de transtorno do espectro autista atualmente é maioria. Entre eles está o pequeno Pedro Henrique, 2 anos, filho de Rivânia Andrade, 42. “Não suspeitava de nada da doença até que assisti um programa de TV e vi que Pedro tinha todas as características que falavam lá. Até então, a única coisa que achava estranho era o fato de ele não responder quando o chamava”, relembrou Rivânia. Com um ano no programa, o menino é só evolução, segundo ela. “Parece mágica. Além do profissionalismo, há amor”, comemorou.
Folha de Pernambuco
Foto: Brenda Alcântara