O ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou, nesta quarta, sua desfiliação do PPS, partido que integrou por 26 anos. O documento foi protocolado nesta terça-feira (21).
No documento, o ministro afirma que se desliga do partido por “discordar da forma pela qual se deu a entrega do seu comando partidário aos que nele ingressarão, uma forma autoritária, que desconsiderou, sem transparência e ao arrepio da democracia interna”.
“Chegou-se ao cúmulo do arbítrio de impedir e retirar membros indicados da delegação do Estado de Pernambuco ao Congresso Nacional do partido e substitui-los ao sabor das preferências do sr. Presidente nacional, sem qualquer comunicação à direção estadual!”, escreve Jungmann.
A decisão de Raul Jungmann de deixar o PPS ocorre após o presidente nacional da sigla, Roberto Freire, ter decidido adiar o congresso estadual – o que gerou insatisfação das direções dos diretórios do Estado e do Recife. Além disso, o posicionamento crítico dos diretórios estadual e recifense do PPS levou o presidente nacional a ventilar a possibilidade de decretar intervenção no comando da legenda em Pernambuco, caso as negociações para entrada de novos quadros se frustrem.
Confira, abaixo, a carta de Jungmann:
21 de março de 2018
À Direção, amigos, amigas, companheiros e companheiras do PPS,
Hoje estou me desligando do meu e do nosso partido, ao qual servi integralmente nos últimos 26 anos, desde sua fundação. Na verdade, rompo hoje uma relação que vem de muito antes, desde o início dos anos 70, tempo da resistência democrática, portanto, mais de 40 anos da minha vida pessoal e pública.
Ao longo dessas mais de quatro décadas, exerci três mandatos de deputado federal, um de vereador do Recife, tendo disputado seis eleições.
Com muita dignidade e honra, representei nosso partido nos mais altos cargos da República, tendo sido, dentre outros postos (*), ministro da Reforma Agrária, da Defesa e já agora da Segurança Pública. Em todos eles, honrei o nome, os princípios e os valores do PPS.
Exerci ainda, e com aplicação, cargos nas estruturas partidárias municipal, estadual e nacional, cumprindo sempre e no limite das minhas capacidades, os encargos, missões e responsabilidades a mim atribuídas ou delegadas.
Desligo-me do partido, meu único partido ao longo de toda minha vida pública (**), por discordar da forma pela qual se deu a entrega do seu comando partidário aos que nele ingressarão, uma forma autoritária, que desconsiderou instâncias, sem transparência e ao arrepio da democracia interna. Chegou-se ao cúmulo do arbítrio de impedir e retirar membros indicados da delegação do Estado de Pernambuco ao Congresso Nacional do partido e substitui-los ao sabor das preferências do sr. Presidente nacional, sem qualquer comunicação à direção estadual!
Nada temos a opor à entrada de novos quadros no partido; aliás, ela se faz necessária diante dos desafios à frente. Mas, à custa do respeito e história dos que fazem e fizeram o PPS, é inaceitável e humilhante.
Sigo na política, escolha de vida inafastável dos meus sonhos de um mundo mais justo e de paz. Foi apenas pelas responsabilidades e riscos de assumir a segurança pública do Brasil nesse grave momento de crise, que declinei de participar das eleições, exclusivamente, este ano.
Aos que permanecem meus melhores votos de felicidade, sucesso e paz.
Jamais imaginei que esse dia viesse ao meu encontro.
Saudações democráticas e de eterno carinho e amizade.
Muito obrigado a todos e a todas.
Raul Jungmann
(*) Secretário Estadual de Planejamento, Presidente do Incra, Presidente Nacional do Ibama, Presidente do Conselho de Administração do BNDES.
(**) Fui, como muitos, membro do MDB durante a resistência democrática.
Blog da Folha
Foto: Anderson Stevens/Folha de Pernambuco