Com 1.215 pacientes na fila para receber um órgão em Pernambuco e apesar ocupar o terceiro lugar no ranking de estados que mais realizam transplantes de coração e medula óssea, o estado registrou, em 2016, uma queda de 13,8% no número de doações de órgãos sólidos, em relação a 2015, quando foram realizados 516 procedimentos do tipo. No ano passado foram 445. A queda destoa da tendência de aumento registrada nos anos anteriores.
Houve um aumento no número geral de transplantes ao incluir os tecidos, a exemplo de córneas, medula óssea e válvula cardíaca. No total, foram 1.465 transplantes realizados, 8,7% a mais que em 2015, quando foram feitos 1.348 procedimentos. Os transplantes de medula tiveram a maior diminuição entre todos os transplantes realizados no estado, caindo de 233 para 187, cerca de 20% a menos.
Os órgãos sólidos são aqueles que ficam localizados no tórax e no abdômen. Órgão mais transplantado no estado, o número de rins doados teve também a maior queda, de 17%, saindo de 344 para 287, entre 2015 e 2016. Atualmente, 805 pacientes aguardam um rim compatível em todo o estado. Também houve queda de 16% no número de corações doados, de 45 a 38 operações. Em segundo lugar no número total de operações, houve queda de 7% nos transplantes de fígado, de 123 para 114 procedimentos realizados.
O único caso de aumento no número de órgãos sólidos transplantados foi o de pâncreas, que só pode ser doado junto com um dos rins. Esse tipo de procedimento subiu 100%, de três para seis ocorrências em todo o estado. No caso dos tecidos, Pernambuco ocupa o segundo lugar entre os estados do Norte e Nordeste do Brasil. Houve, em 2016, um aumento de 39%, com 827 transplantes, 233 a mais que no ano anterior.
Coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes explica que a queda no número de órgãos doados em 2016 se deve não só à recusa da família, mas às condições em que se encontram os órgãos no momento da transferência. Para que o transplante seja viável, é necessário o diagnóstico em três etapas da morte encefálica do paciente, além da permissão dos familiares ou pessoas mais próximas do doador.
“A probabilidade de precisar de uma doação de órgão é seis vezes maior que a de ser um doador. A notificação da morte encefálica deve ser bem precoce, porque sem o cérebro, a disfunção do órgão é uma questão de tempo. Fora do corpo já é outro desafio. Coração é o mais sensível, podendo sobreviver por quatro horas, seguido por pâncreas, fígado e rins que conseguem passar 6, 12 e 36 horas sem circulação sanguínea, respectivamente”, explicou Noemy. As córneas, com maior número de transplantes, são viáveis até 14 dias depois da morte.
Nesta terça-feira (14), a Secretaria Estadual de Saúde realiza um curso de capacitação com residentes, no auditório do Hospital Barão de Lucena, na Zona Oeste do Recife. Segundo Noemy, ainda há um déficit na formação dos profissionais no trato do procedimento de transplante. “A morte encefálica sempre tem que estar entre as possibilidades consideradas pelo profissional. Ele tem que estar preparado para, antes de tudo, comunicar a notícia à família, por exemplo”, disse.
Ainda de acordo com Noemy, tanto para a família quanto para quem deseja, após a morte, tornar-se um doador, é importante procurar as informações corretas. “O paciente pode informar em um jantar, em uma conversa informal, não é difícil. A família geralmente cumpre o desejo do ente querido, e isso literalmente salva vidas”, completou.
2017
Entre janeiro e fevereiro deste ano, foram realizados 10 transplantes de coração em Pernambuco. Apesar da baixa registrada no ano anterior, o número representa um aumento de 150% no mesmo período de 2016, quando foram transplantados quatro corações. Também houve mais fígados doados neste ano, com 18 em 2017 e 16 em 2016, com variação de 13%. Houve baixa no número de rins transplantados, que caíram de 48 para 46, numa descida de 4%. A operação Rim/Pâncreas caiu de dois para um.
Aviões
Em junho de 2016, um decreto assinado por Michel Temer (PMDB) determinou que a Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizasse aeronaves para o transporte de órgãos pelo país. No dia 22 de junho, o primeiro órgão transportado de outra cidade chegou ao Recife. O transplante de um coração, vindo de Petrolina, no Sertão, foi realizado com sucesso no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, área central do Recife.
G1 Pernambuco