Em apenas cinco dias, duas rebeliões seguidas de fugas em massa marcaram a Funase de Vitória de Santo Antão, na Mata Sul de Pernambuco. No total, 43 adolescentes deixaram a unidade durante a confusão. Um agente socioeducativo procurou o Ronda JC e decidiu quebrar o silêncio. E fez um forte relato sobre a falta de condições de segurança para evitar fuga de internos e para os profissionais que trabalham no local. A unidade, que foi apresentada pelo Governo de Pernambuco como “modelo”, é, nas palavras do agente, “um depósito de adolescentes. Nada mais que isso”.
Na primeira rebelião registrada no início da semana passada, 11 garotos conseguiram fugir da unidade de Vitória de Santo Antão. “Tudo começou quando eles começaram a tocar fogo em colchões. Eles pegaram armas artesanais e pedaços de ferro e saíram pela unidade tocando fogo em várias salas. Um adolescente que havia acabado de chegar também foi agredido bastante e precisou ser transferido. Eles mandaram todos os agentes saírem de perto. Ninguém ficou pra ver. Como ficamos desarmados, temos que correr mesmo e esperar a polícia chegar. Me tranquei em uma sala. Os internos ainda entraram na sala de videomonitoramento e quebraram tudo. Não sobrou nada. Televisões, computadores, tudo foi destruído”, contou o agente socioeducativo.
Depois de destruírem as salas, os adolescentes começaram a quebrar parte do muro usando pedaços de ferro e de madeira. “É muito fácil quebrar, as paredes são fracas. Eles fugiram com facilidade e, nós, agentes, ficamos sem poder fazer nada. Poderíamos ser agredidos ou até mortos por eles. Nem as imagens da fuga temos porque eles quebraram tudo”, disse. Nos dias seguintes, os internos foram recapturados no centro da cidade. Uma sindicância foi aberta.
A segunda fuga aconteceu na última sexta-feira (24). E foi ainda mais violenta. Um adolescente foi arrastado, espancado até a morte e ainda teve o corpo queimado. A fuga dos 32 internos não foi diferente da primeira. “Eles fazem a confusão para os agentes saírem de perto e eles conseguirem fugir. Eles avisam logo: “desce, que vai pegar”. Ligamos para a polícia desde meio-dia, porque a gente já sabia o que ia acontecer, mas só chegaram às cinco da tarde. Aí não adiantava mais”, afirmou. Fizeram um buraco no muro e saíram com facilidade. No local, havia 61 garotos.
“E A Funase quer que a gente faça o quê? Vai morrer é? Só se for com a ‘cara e a coragem’ para lutar contra aqueles meninos. Porque não tem como impedir a fuga. Não tem como impedir nada. Eles fazem o que eles querem. Eles pegam qualquer coisa e vira facão. A unidade é isolada. Celular não pega. Telefone fixo é péssimo Lugar é de difícil acesso, um sítio bem afastado. Era para ter uma viatura de polícia no local. Porque daqui que alguém chegue para ajudar, dá para morrer todo mundo”, desabafou o agente. Em nota oficial, a direção da Funase informou que, até a manhã deste domingo (26), apenas 12 fugitivos foram recapturados. Também afirmou que as visitas aconteceram normalmente. Sindicância foi aberta para apurar as circunstâncias da nova rebelião.
Do JC Online