Educação é saída contra violência

Pesquisa do Ipea revela que, a cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos na escola, taxa de homicídios nos locais onde vivem cai 2%

Numa época em que a violência tem aumentado em todo o País, pensar na redução de criminalidade passa, necessariamente, por investimento em educação. Isso é o que reforça a pesquisa Trajetórias Individuais, Criminalidade e o Papel da Educação, divulgada pelo Ipea. O estudo aponta que o ambiente escolar eficiente é importante fator para a estabilidade da segurança pública. A cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos na escola há uma queda de 2% na taxa de homicídio nas localidades em que vivem.

“O que funciona para mitigar os crimes é o investimento em oportunidades e educação. Quanto mais tempo o jovem estiver na escola, quanto mais suas relações estiverem dentro da escola, menores serão as chances dele se envolver como o crime”, avaliou o pesquisador do Ipea, Daniel Cerqueira.

Segundo Cerqueira, nos últimos dez anos, mais de 290 mil jovens morreram no Brasil por crimes violentos. Outros dois milhões foram parar no sistema prisional. Essa conta poderia ser uma solução para reduzir futuramente as mortes de adolescentes e a superlotação do sistema de reeducação. “50% dos homicídios do Brasil se concentram em 81 municípios. É nes­­­sas cidades com maiores índices de violência que a taxa de reprovação é quase dez vezes maior. Preocupa também que se concentram nelas grandes taxas de abandono escolar e distorção idade-série”, alerta.

Para mudar essa realidade a pesquisa indica que o ambiente escolar deve funcionar como articulador de diferenças não só intelectuais, mas sociais e cognitivas dos estudantes. É preciso aproximar-se da realidade dos jovens e da comunidade onde está inserido, fixando a ideia de cidadania e cultura de paz, além de dispersar a distribuição das unidades de ensino em todas as áreas de uma cidade. Fórmula que não combina com esquemas escolares “enciclopédicos” apenas de transferência de conteúdos curriculares.

Pernambuco, avalia o secre­­tário de Educação, Fred Amâncio, vem fazendo esse enfrentamento. Com 1.049 escolas e mais de 614 mil estudantes, o Estado investe há quase uma década em melhorias. Hoje está entre os com menor evasão escolar e resultados de qualidade de ensino como o 1º lugar no Ideb. “Tivemos a preocupação de garantir escolas em todos os municípios. Inclusive em nosso projeto de escolas de tempo integral, cujo formato tem aspecto social importante. Não só o resultado do estudante academicamente, mas o fato de estar conosco o dia inteiro, longe das ruas. A educação tem um peso importante na redução da criminalidade”, ressaltou Amâncio, acrescentando que das 16 regionais da educação, duas com os melhores resultados se situam em regiões com os menores índices de homicídios.

No Recife, onde há 309 escolas e mais de 91 mil alunos, a cartilha é a mesma: combater violência com cultura de paz. Um dos principais braços é o Núcleo de Enfrentamento à Violência Escolar. Criado em 2015, vem desenvolvendo, na rede municipal, ações permanentes de diagnóstico e prevenção de práticas como o bullying, depredação do patrimônio escolar e uso de drogas. “Devemos abrir canais de diálogo e respeito por meio de debate e disposição das diferenças”, elencou o coordenador do Núcleo, o pedagogo George Pereira.

Folha de Pernambuco

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