Invasoras na Mata Atlântica

ONU: invasão de espécies exóticas de vegetação é a 2ª maior causa de perda de biodiversidade

Você já parou para se perguntar de onde vêm as árvores existentes nas áreas verdes da Capital? Poucos sabem, mas a maior parte é constituída por espécies oriundas de outros países, as chamadas exóticas. Um exemplo comum, as mangueiras têm sua origem no Sudeste da Ásia. Assim como elas, várias outras espécies foram introduzidas no Brasil, desde as migrações pré-históricas, há milhares de anos. O problema é quando essas exóticas se tornam invasoras. Elas são chamadas assim por serem altamente eficientes na competição por recursos, o que as leva a dominar o solo, diminuindo o espaço para as espécies nativas se reproduzirem.

As invasoras possuem também alta capacidade reprodutiva e de dispersão, dando a elas o título de verdadeiras colonizadoras de um espaço. Não é à toa que a invasão biológica é considerada a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU). Estima-se que, aproximadamente, 480 mil espécies exóticas foram introduzidas, desde 1600, no mundo e que 30% delas são consideradas pragas, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

No Jardim Botânico do Recife, situado às margens da BR-232, a presença expressiva de jaqueiras tem preocupado técnicos e gestores da unidade de conservação. Por lá, foram identificados mais de 400 indivíduos numa área de 11,23 hectares de Mata Atlântica. O número chama a atenção por ser superior à densidade populacional de onde a planta é nativa, na Índia, que é de uma árvore por hectare. No caso do Botânico, a densidade chega a ser de quase 40 indivíduos por hectare.

As pesquisas também apontam para um outro dado surpreendente: o número de frutos por indivíduo. Na literatura científica são cerca de 100 por árvore ao longo de um ano. Uma único exemplar do Jardim Botânico produz 390 frutos. Isso, na avaliação do analista ambiental do JBR, Uilian Barbosa, é um sério problema. Uma reprodução acelerada de frutos significa, segundo ele, alimento para a fauna o ano todo. “E, assim, eles acabam atuando como dispersores. Esse, entre outros fatores, como o clima, por exemplo, contribui para que uma espécie invasora domine a mata”, avalia.

Alelopatia

Durante experimentos no viveiro florestal foi comprovado outro dado alarmante: as folhas de jaqueira possuem alelopatia. É a capacidade química de inibir a germinação de sementes de outras espécies e, com isso, há a redução de riqueza de espécies nativas próxima às jaqueiras.

“Que houve uma perda considerável de espaço para as nativas é fato. Mas, para saber quais espécies estão impedidas de germinar, teríamos que fazer um estudo de subsolo”, detalha a professora do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE, Ana Lícia Patriota. O extrato das folhas também libera uma certa toxidade. “Já registramos saguis e até preguiças se alimentando da folhagem da jaqueira. A gente não sabe até que ponto isso pode estar afetando a população desses animais no jardim”, diz Barbosa.

Outras invasoras

A Estação Ecológica de Caetés, localizada em Paulista, na divisa com o município de Abreu e Lima, também é uma outra unidade de conservação que sofre com a presença das exóticas. Sombreiro, sabiazeiro, azeitona roxa estão entre as invasoras em meio aos 157 hectares de Mata Atlântica, área total da Esec Caetés. Porém, o trabalho maior é conter o avanço do capim-braquiária. Com a intensa produção de sementes, a sua expansão se dá com muita facilidade.

“Nosso trabalho de controle consiste basicamente na retirada manual desses capins e aplicação de um produto no solo, 15 dias após a retirada, para coibir o crescimento delas”, explica o técnico ambiental da Esec Narciso Lins. A ideia é liberar mais espaço para a mata nativa se regenerar e fazer sombra onde as braquiárias dominam.

Folha de Pernambuco

Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

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