Mata Sul pode sofrer com novas enchentes

Chuvas podem ser ocasionadas por alteração em corrente marítima, que está mais quente

O inverno na Zona da Mata do Estado, que ocorre geralmente de maio a agosto, deve produzir transtornos semelhantes aos registrados há seis anos. Em 2010, a violência das águas destruiu residências, deixando centenas de desabrigados. O terror vivenciado na época embasa as previsões de especialistas que apontam uma alteração no comportamento da Corrente Marítima Fria de Benguela. Atualmente, a corrente, de águas frias, está “anomalamente” quente, ou seja, as temperaturas estão mais altas que o normal. Caso o quadro permaneça o mesmo até meados de abril, quando a Zona da Mata se prepara para receber o inverno, a previsão é de chuvas rigorosas. A explicação é clara: quanto mais quente a corrente chegar, maior será a evaporação das águas do oceano, logo, mais formação de nuvens e, consequentemente, mais chuvas.

O professor de Geografia da UFPE, Lucivânio Jatobá, explica que o fator, atípico, poderá ter efeitos maiores devido a um fenômeno de chuvas concentradas chamadas Ondas de Leste. “Elas são as principais responsáveis pelas chuvas excepcionais em determinados pontos. No caso da Zona da Mata, a Sul pode voltar a sofrer inundações”. A previsão acende o alerta para que os moradores que residem atualmente na área atingida anos atrás, como em Barreiros, por exemplo, fiquem atentos ao clima. “Caso a tese se confirme, o melhor que a pessoa tem a fazer é sair de onde está, porque essas ondas mudam de direção subitamente. Em 2010, as Ondas de Leste estavam concentradas em Alagoas. De repente, deram um giro e vieram para Pernambuco, causando as inundações”, relembra Jatobá.

Na avaliação do meteorologista da Apac Ailton Dias, a tese do especialista, por enquanto, se confirma. “Não é motivo para pânico agora. Depende de como a corrente vai se comportar até abril. Ela agora está realmente quente porque o Atlântico Sul está com a temperatura bastante elevada. Caso a corrente esfrie, esse cenário caótico não ocorrerá”, comenta. Em abril, os metereologistas vão se reunir para avaliar a situação.

EL NIÑO

Uma das previsões de mudanças climáticas causadas pelo El Niño, fenômeno que se origina pelo aquecimento das águas do Pacífico além do normal e pela redução dos ventos alísios na região equatorial, para o Brasil era de fortes chuvas na região Sul e seca para o Nordeste. “Porém, o El Niño, no meu ponto de vista, está um pouco ‘desmoralizado’. Pelo menos, no nosso País. No Sertão, por exemplo, não está havendo seca, mas sim, muita chuva. E forte. Com uma situação de El Niño, não era para estar assim nessa área”.

A observação de Jatobá se confirma por meio do boletim da Apac. Pelo menos, na última sexta-feira, a previsão foi chuvas abundantes no Sertão, sendo registrada a maior chuva em Exu: só lá choveu 102 milímetros. Na Zona da Mata e no Agreste – o registro pluviométrico foi de 12 mm e 55 mm, respectivamente. A justificativa para essa realidade é uma, segundo Jatobá: A maior parte do planeta é ocupada por massas oceânicas, logo, a atmosfera tem uma relação forte com o oceano. Isso significa dizer que o que acontece no oceano reflete, consideravelmente, sobre a atmosfera. Para se ter ideia, quando as águas do Oceano Atlântico Sul estão mais quentes que o Norte, aquele ano é uma maravilha para as chuvas no Sertão, que é o que está ocorrendo. “Mas, quando ocorre o contrário, o ano é de seca violenta, mesmo não tendo El Niño em Pernambuco”, comenta.

Folha de Pernambuco

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