Delegados pernambucanos em rota de colisão com o governo

Em assembleia, categoria resolveu não mais pedir preventiva de suspeitos, deixando decisão para Justiça. Medida deve repercutir negativamente no Pacto pela Vida
Delegado Francisco Rodrigues diz que a categoria trabalha em condições precárias. (Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem)
Delegado Francisco Rodrigues diz que a categoria trabalha em condições precárias. (Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem)

Delegados pernambucanos não vão mais realizar Operações de Repressão Qualificada (ORQ). Significa que eles continuarão fazendo investigações, reunindo provas e remetendo os inquéritos para os juízes, sem necessariamente pedir a prisão dos envolvidos, cabendo à Justiça decidir por isso. A resolução, anunciada após assembleia realizada ontem pela manhã, no auditório do Banco Central, em Santo Amaro, área central do Recife, deve repercutir no aumento da criminalidade, pois haverá menos mandados de prisão a serem cumpridos, piorando os indicadores do Pacto pela Vida. Em julho, o número de homicídios em Pernambuco voltou a crescer, comparado com o mesmo mês do ano passado.

“A partir de hoje (ontem) não faremos mais operações que demandam grande mídia, as chamadas Operações de Repressão Qualificada. As prisões agora vão ser selecionadas, serão mais criteriosas. Com isso, a gente desafoga o Judiciário. Somente aquelas prisões que necessitam mesmo, em casos de grande comoção, serão pedidas à Justiça”, destacou o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe), Francisco Rodrigues. Ele disse que por lei os delegados não têm obrigação de solicitar a prisão dos investigados.

Na assembleia, a categoria decidiu também iniciar campanha publicitária com distribuição de outdoors na Região Metropolitana e no interior, denunciando números da violência no Estado. Segundo a Adeppe, houve, em Pernambuco, de janeiro a julho deste ano, 2.178 homicídios, 7.955 veículos roubados ou furtados e 971 assaltos a ônibus. O mote é Segurança Pública Abandonada. “O Pacto pela Vida é um programa de marketing político, deixou de ser um programa de segurança. Tinha boas propostas no começo. Mas uma das diretrizes era a valorização dos servidores. Isso nunca foi realidade”, observou Francisco Rodrigues.

“Estamos descrentes. Na gestão de Eduardo Campos o slogan era fazer mais com menos. Nos doamos, nos esforçamos para reduzir os números da violência. Mas não aguentamos mais porque é via de mão única. Há apenas cobrança para que cumpramos metas, sem haver melhorias para o nosso lado. Não estamos mais engajados como antes e a prova disso é o aumento da criminalidade, como mostram os números do Pacto”, desabafou um delegado, que pediu para não ser identificado.

GOVERNO

A Secretaria de Defesa Social (SDS) comentou, em nota, que “a respeito da decisão de não mais realizar as Operações de Repressão Qualificadas, que representam uma resposta firme ao crime organizado, a Secretaria entende que tal postura em nada auxilia as negociações e ocasiona prejuízos a toda a sociedade, pois de forma proposital os servidores que aderiram a tal diretriz estão deixando de desempenhar suas atribuições”.

JC Online

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