Estudo realizado na UFPE mostra que é possível converter uma tonelada de borracha em 300 litros do combustível. E ainda aproveitar os gases, o aço e até os resíduos.
Transformar borracha em gasolina é algo surreal no imaginário popular. Mas no ambiente científico a equação é simples e com efeitos multiplicadores. Uma pesquisa do doutor em tecnologias energéticas nucleares pela UFPE, Flávio Ferreira, mostrou que é possível converter uma tonelada de pneus velhos (cerca de 75 unidades) em 300 litros de combustível, quantidade suficiente para rodar cerca de 3,6 mil quilômetros em um carro popular.
Mais que a transformação, o estudo aponta uma alternativa para a destinação adequada de pneus usados, muitas vezes jogados em locais como lixões e rios ou simplesmente queimados em terrenos, provocando a poluição do ar e do solo. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apenas 6,74% da reciclagem de pneus no país é feita no Nordeste.
Segundo Ferreira, a pesquisa consiste em derreter os pneus num equipamento de aço inoxidável, utilizando-se como energia os próprios gases produzidos pela decomposição do material, e sem a presença de oxigênio para que não haja uma explosão e geração de monóxido de carbono, que é poluente. O resultado é a produção de um óleo escuro, de uma mistura gasosa, aço e negro fumo (resíduo em pó usado como pigmento de tintas e matéria-prima de teclados e painéis de carro).
O líquido recolhido é destilado e transformado em gasolina. “As características são semelhantes às do combustível que é vendido no mercado. O índice de octanagem, que indica a qualidade dela, chega a 79,6 kg/cm3. A do comércio é 80 kg/cm3, mas tem adição de ácool e a nossa não”, disse Ferreira.
O teor de goma, que surge com a oxidação da gasolina, também mostrou números animadores, afirmou. “No óleo bruto tínhamos 5,8 mil mg/100 ml e, após a destilação simples, atingimos 588 mg/100ml. Se a industrializarmos, conseguiremos chegar a 5 mg/100ml, que é o que determina a lei”, acrescentou.
Já os gases, explicou René Silva, participante do estudo, vão para um tubo onde passam por uma espécie de “lavagem” antes de ser armazenados para venda. O negro fumo e o aço também seguem para o mercado.
Para o graduado em petróleo, gás e biocombustíveis, Tiago Araújo, que também auxilia na pesquisa, a inovação do trabalho está no fato de não haver eliminação de poluentes no ambiente. A próxima meta dos pesquisadores é a implantação de uma indústria. Mas ainda não há prazo para que isso aconteça.
Projeto piloto
Cerca de 100 pneus são retirados diariamente das ruas, rios e canais de Palmares, na Mata Sul, pelos catadores de recicláveis. Os produtos ficam estocados na Associação dos Agentes Ambientais. “Antes, vendíamos para uma empresa que fazia cimento, mas a empresa fechou. Agora estamos guardando os pneus, esperando uma empresa que dê destinação”, afirmou a coordenadora da cooperativa, Sheila de Oliveira.
A prefeitura estuda ceder uma área de 12 hectares para um projeto piloto da pesquisa de conversão de pneus em gasolina. Segundo o secretário de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, Joel Clemente, o Executivo está à procura do terreno. A estimativa é que a implantação da indústria custe R$ 3 milhões.
“A iniciativa é importante pelo ganho econômico, ambiental e social”, disse o gestor. Atualmente, 26 profissionais estão associados ao grupo, mas há outros que trabalham por conta própria.
Diario de Pernambuco