Novas metodologias detectam risco cardiovascular em diabéticos

“O diabetes configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-se em grande desafio para os sistemas de saúde”. O alerta é de Marcela de Albuquerque Melo, autora da dissertação “Proteína c-reativa como fator preditivo de doença cardiovascular em diabéticos do município de Vitória de Santo Antão-PE”. O estudo teve como objetivo detectar a prevalência de inflamação e fatores associados em diabéticos do município de Vitória de Santo Antão, de modo a identificar os possíveis fatores associados a essa inflamação e estabelecer indicadores mais eficientes para determinar a presença do mal.

 

O que Marcela já sabia é que quanto maior a concentração da proteína c-reativa (PCR) no organismo mais elevadas são as chances de doenças cardiovasculares. A partir do levantamento dos dados, ela descobriu uma alta prevalência de pacientes diabéticos com inflamação, ou seja, com alto risco para desenvolver doenças cardiovasculares. “Mais de um terço dos eventos cardiovasculares ocorre em indivíduos aparentemente saudáveis. Além disso, estudos prospectivos comprovam a eficácia da proteína c-reativa como um bom marcador (um indicativo de propensão às complicações cardiovasculares)”, explica. Um dos pontos demonstrados pelo estudo é que indivíduos com níveis da proteína c-reativa ultrassensível (PCR-us) acima de 3 mg/L, mesmo apresentando perfil lipídico normal, representam um grupo de alto risco. “Muitas vezes, esquecido pela prática clínica”, alerta.

 

Com base em sua pesquisa, Marcela afirma que o emprego da dosagem dessa proteína pode ser especialmente importante como ferramenta auxiliar na prevenção de problemas cardiovasculares futuros. “A adição da PCR-us para a avaliação de diferentes grupos populacionais pode ser um método simples e de fácil execução para melhorar a previsão do risco cardiovascular. Inclusive, em diabéticos”, afirma. A proteína c-reativa é uma substância que tem seus níveis séricos (concentração de uma substância no nosso sangue) aumentados quando há inflamação ou infecção no organismo. O que difere a proteína c-reativa (PCR) da c-reativa ultrassensível (PCR-us) é o método de avaliação utilizado. “O método ultrassensível é bem mais sensível, como o nome já indica, com menores pontos de corte, onde podemos estimar o nível do risco cardiovascular de um indivíduo”, detalha a pesquisadora.


Marcela Melo ressalta ainda, com base em seu estudo, que medidas antropométricas como o índice de conicidade (determinado a partir das medidas do peso, estatura e da circunferência da cintura) e da razão cintura-estatura são meios práticos e baratos para prevenir o risco de doenças cardiovasculares em diabéticos – aproximadamente 75% dos pacientes ouvidos apresentaram excesso de peso em seu índice de massa corporal. “A elevada prevalência de inflamação subclínica (aquela que não apresenta sintomas) sugere uma intervenção efetiva focalizada no controle glicêmico e lipídico e na redução da obesidade abdominal. Ou seja, promover uma mudança no estilo de vida dessa população”, avalia.

 

Realizado entre julho e outubro de 2011, o estudo avaliou um total de 409 pacientes diabéticos de Vitória de Santo Antão, entre 50 a 72 anos de idade, assistidos pelas Unidades Básicas de Saúde do município. A pesquisa levou em consideração variáveis como estilo de vida, medidas antropométricas e bioquímicas dos pacientes avaliados, entre outras. Os dados foram associados aos níveis da proteína c-reativa dos pacientes estudados, de modo a se encontrar um padrão que determinasse o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

 

O trabalho foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Saúde Humana e Meio Ambiente do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da Universidade Federal de Pernambuco. Teve como orientadora a professora Florisbela de Arruda Câmara e Siqueira Campos e como coorientadora a professora Raquel Araújo de Santana. A pesquisa de Marcela teve apoio institucional do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da UFPE; apoio financeiro da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe); e parceria com a Secretaria de Saúde de Vitória de Santo Antão e do Laboratório Cerpe. “Pretendo continuar nesta linha de pesquisa e prosseguir com estes estudos, visando contribuir como pesquisadora nesta área”, conclui Marcela Melo.

 

DIABETES – Responsável por cerca de 17 milhões de mortes em todo o mundo, a diabetes mellitus é culpada ainda por elevar o risco de eventos circulatórios como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). As estimativas em torno da doença não são animadoras: para 2030, avalia-se que o mundo terá 300 milhões de pessoas com o mal – número dez vezes maior do que o registrado em 1985.

 

As formas mais frequentes de diabetes, que possui base genética e hereditária, são o diabetes mellitus do tipo 1 e do tipo 2. O tipo 1 responde por cerca de 10% dos casos de diabetes no mundo, sendo prevalente em crianças e adolescentes. Já o tipo 2 está presente em 90% dos casos, sendo mais frequente após os 40 anos de idade. O diabetes do tipo 2, segundo explica Marcela, está frequentemente associado a outras anormalidades, como hipertensão arterial e obesidade.

 

Tanto o diabetes como as complicações e patologias associadas podem ser causados pelo estilo de vida da pessoa. “As condições sociais podem potencializar os males associados à doença, pois o diabetes mellitus requer tratamento medicamentoso e nutricional, uma verdadeira mudança no estilo de vida, e a condição social [do paciente] pode ser um entrave”, avalia a pesquisadora. No Brasil, o diabetes e a hipertensão são as maiores causas de hospitalizações no sistema público de saúde.


Informações da UFPE